Infelizmente, no dia 16 de maio, faleceu precocemente Bruno Covas. Agora, a capital paulista será governada por Ricardo Nunes, do MDB, personagem até então desconhecido da maioria da população paulistana.
A coligação “Todos por São Paulo” tentou esconder ao máximo o candidato a vice durante o processo eleitoral de 2020. Nunes, que se recusou a participar de debates, sabatinas e entrevistas, era considerado uma pedra no sapato da campanha, pois sua imagem estava associada a pautas conservadoras e a denúncias de corrupção e de violência doméstica.
Por isso, além de toda a comoção, a morte do prefeito eleito despertou muitas dúvidas e preocupações com relação ao futuro da capital paulista. O presente texto é uma contribuição de nosso mandato coletivo a esse fundamental debate.
Quem é Ricardo Nunes?
Ricardo Nunes tem 53 anos, é católico conservador, advogado de formação e empresário. Ele foi vereador por dois mandatos. Integrante da bancada cristã, sua atuação como parlamentar foi marcada, entre outras coisas, pela batalha vitoriosa contra a inclusão da palavra “gênero” no Plano Municipal de Educação.(1)
Em 2020, reportagens da Folha de S.Paulo revelaram que seu nome está ligado à entidade gestora investigada na famosa máfia das creches conveniadas (2). Além disso, o emedebista já foi acusado de violência doméstica em 2011 (3). Embora o escândalo de corrupção ainda esteja sendo investigado e sua esposa tenha negado as queixas posteriormente, ambas as denúncias geram desconfianças acerca do novo prefeito.
Recentemente, foi divulgado que Nunes também conquistou a propriedade de duas fazendas no interior de Minas Gerais por meio de usucapião (4). Em um desses processos jurídicos, o então vereador de São Paulo declarou hipossuficiência, igualmente chamada de “atestado de pobreza”.
Em seus primeiros discursos depois de assumir o novo cargo, o chefe do Executivo de nossa cidade tentou abafar o passado, apresentando-se como um político de centro e como uma continuidade da gestão Covas (5). Será? Em nossa opinião, o cenário político municipal deve se alterar no futuro. A seguir, apontamos quais são as principais mudanças que podem ocorrer.
O que pode mudar com Ricardo Nunes prefeito?
De acordo com o noticiário dos últimos dias, Ricardo Nunes segue afirmando que vai manter os acordos selados pelo ex-prefeito tucano (6). Pensamos que isso vale para o primeiro momento, pois nada garante que o novo prefeito não vá mexer nas secretarias e subprefeituras. Seu partido, o MDB, não tem relevância no alto escalão do governo e pode cobrar mais espaço.
Diferente de Covas, que buscou construir uma imagem de defensor da democracia e das liberdades individuais, enfrentando abertamente o bolsonarismo em algumas oportunidades, Nunes é um político com um perfil mais à direita, vinculado a pautas conservadoras.
Esse perfil pode transformar aos poucos o posicionamento da prefeitura diante desses temas e deixar a bancada religiosa da Câmara Municipal mais confortável para pautar projetos de lei reacionários. Existe, portanto, o perigo de São Paulo se tornar um território mais hostil ao avanço e à consolidação dos direitos das mulheres, do povo negro e da população LGBTQIA+.
No entanto, sem a força política e a popularidade que tinha Bruno Covas, a gestão Ricardo Nunes tende a ser instável e mais suscetível a pressões. Se, por um lado, a prefeitura terá que dialogar e negociar mais com o Legislativo, fazendo concessões para manter a disciplina da base governista. Por outro, essa situação também pode abrir espaço para os movimentos sociais conquistarem vitórias.
É hora de salvar vidas e derrotar o conservadorismo
Durante as eleições de 2020, alertávamos a respeito da trajetória de Ricardo Nunes, na época apenas um vice desconhecido (7). Nós já éramos oposição à gestão tucana e, hoje, após a ascensão do emedebista a prefeito, é necessário aumentar a fiscalização e a pressão popular sobre a prefeitura. Estaremos engajadas nessa tarefa.
Para começar, a oposição de esquerda e os movimentos sociais precisam exigir que as políticas públicas de combate à epidemia e à crise econômica implementadas pela gestão anterior, limitadas e parciais, sejam ampliadas e diversificadas.
No início de maio, as bancadas do PSOL e do PT na Câmara Municipal apresentaram ao governo dez propostas para salvar vidas e a economia (8), como aumentar o isolamento social, expandir o atendimento da rede de saúde e garantir proteção social aos mais pobres e ajuda financeira às pequenas empresas. Temos que lutar pela efetivação dessas medidas.
Por fim, é imprescindível construir uma firme resistência contra qualquer retrocesso conservador nos âmbitos dos costumes, da cultura e da cidadania dos setores oprimidos da sociedade, que podem se ver ameaçados diante das posições políticas e ideológicas do novo prefeito. A cidade também é nossa e não daremos nenhum passo atrás. Vamos seguir lutando por uma São Paulo para a maioria!
NOTAS
(7) https://midianinja.org/bancadafeministapsol/quem-e-ricardo-nunes-o-vice-de-bruno-covas/
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