O instituto Atlas divulgou uma pesquisa no último 12 de maio sobre a intenção de voto nas eleições de São Paulo em 2022 [1]. Ainda há “muita água para rolar”, mas seus resultados são úteis para a esquerda refletir sobre os desafios.
Mais precisamente, sobre como ocupar de vez o cenário enquanto o atual governo Dória é rejeitado por 65% dos paulistas (Paraná Pesquisas) e bate recorde em rejeição quando aparece em pesquisas à presidência (PoderData).
Daqui a um ano, as candidaturas já estarão definidas pelos partidos e o cenário eleitoral estará mais delimitado. Em um Brasil polarizado e imerso em uma pandemia de proporções inéditas, é preciso ser cauteloso quanto ao diagnóstico do futuro. Terá importância haver ou não mobilizações populares e a dinâmica de evolução do governo Bolsonaro com hipóteses de estagnação, derretimento ou recomposição. Haverá peso o ranger das máquinas do PSDB, ou de parte delas, em favor de Dória nas mais de duzentas prefeituras de São Paulo. Ou ainda uma recomposição da direita tradicional através de uma candidatura do Alckmin por fora do PSDB. Esses são fatores razoavelmente imprevisíveis neste momento.
O único fator que está nas mãos da esquerda é se terá uma única candidatura ou várias para disputar com peso ideias e votos. Ou, em outras palavras, se a esquerda terá condições de aproveitar esse período em que a direita está fragmentada e acuada pelas primeiras pesquisas. Sem desprezar o seu peso político e tradição eleitoral.
A luta pelo governo de São Paulo não será “apenas” mais uma batalha, embora cada local importe na luta contra o neofascismo e pela recomposição das forças de esquerda. Depois da batalha pela presidência, serão as eleições mais importantes por uma combinação de ser o maior colégio eleitoral e a prioridade de investimento do PSDB que historicamente liderou um bloco que não consegue se apresentar como terceira via em nível nacional. Mesmo do PSDB, Dória representa uma “nova direita” que também deve ser combatida com veemência pela esquerda.
Indo à pesquisa Atlas.
A esquerda aparece em primeiro lugar, com Boulos ou Haddad. Sem Haddad, Boulos figura com 26%. Sem Boulos, Haddad pontua 25,3%. Quando os dois aparecem juntos, Boulos desponta com 17% e Haddad fica em terceiro lugar com 14,6%. Em todos os cenários, Skaf aparece em segundo lugar e sempre à frente de João Dória.
Estes números, mesmo que expressão de uma fotografia de um momento, permitem três conclusões: (1) a esquerda tem peso para disputar as eleições em São Paulo; (2) Boulos e Haddad são os principais nomes para essa tarefa decisiva; (3) uma única candidatura da esquerda tem mais condições de manter essa posição na corrida eleitoral.
Haddad foi ministro dos governos Lula e Dilma, prefeito da capital e candidato à Presidência em 2018. Em 2020, Haddad foi figurante, mas em 2018 foi ao segundo turno, recuperando o resultado ruim em 2016 contra Dória.
Boulos foi ao segundo turno na capital paulista em 2020 e disputou 2018. Seu crescimento é espetacular e, neste momento, há uma maioria que prefere Boulos em relação ao Haddad em São Paulo. Possivelmente porque Boulos representa a novidade da esquerda, é símbolo da luta contra o golpe, contra Temer, pela liberdade de Lula e contra Bolsonaro. Foi protagonista no chão das lutas em todos esses eventos. Ou ainda esse resultado pode ser fruto do fato de Boulos representar a luta contra a desigualdade social em um país fraturado por crises.
O melhor gesto que o PT poderia fazer nesse momento é abrir mão da cabeça de chapa da esquerda paulista em favor do Boulos, abrindo passagem para o novo e para uma composição eleitoral que leve em conta a frente de esquerda nacional e em São Paulo. Como mínimo, convocar um fórum da esquerda (prévias com participação popular) com movimentos sociais para escolher quem encabeça a chapa. A unidade não pode ser uma via de mão única.
*Deborah Cavalcante é militante do PSOL e da Resistência, advogada trabalhista e sindical e mestre em Ciência Política.
NOTAS
[1] Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2021-05-12/com-boulos-ou-haddad-candidatura-unica-da-esquerda-lideraria-disputa-por-governo-de-sao-paulo.html
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