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Como inflação, desemprego e fechamento de fábricas empobrecem os trabalhadores e o que fazer

Coletivo TSTs Cariri, de Juazeiro do Norte, CE
Divulgação

Uma das questões importantes colocadas para os trabalhadores brasileiros, com ou sem carteira assinada, mas com o mínimo de organização em associações, coletivos, sindicatos e partidos, é a definição do piso salarial de cada categoria profissional. É sobre o tema das perdas inflacionárias nos nossos rendimentos que queremos falar nesse artigo. Os problemas econômicos trazidos pela reestruturação produtiva tais como desemprego, produtos da busca incessante dos capitalistas em reduzir custos com pessoal, decerto, configuram um panorama que nos deixa apreensivos, ainda mais diante da crise sanitária. O trabalho para nós tem um caráter de sobrevivência, mas também de dignidade. Vamos falar sobre como o cinto vem apertando cada vez mais e o que podemos fazer.

A alta dos preços e o mercado de trabalho

O IBGE (Instituto de Geografia e Estatística) considera o impacto dos preços levando em conta os gastos com alimentação, habitação, comunicação, transportes, entre outros. Assim, é possível verificar as perdas salariais frente à evolução do Índice Nacional de Preços do Consumidor (INPC) e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ambos do IBGE. 

Há um achatamento contínuo dos salários por diversos anos, pois os preços do arroz, óleo de soja, ônibus, roupas, botijão de gás, material escolar, dentre outros itens necessários a vida do trabalhador brasileiro, ficaram cada vez mais caros. Segundo uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada em dezembro do ano passado, os gastos com alimentos correspondem a 28% do orçamento das famílias da classe trabalhadora. Apesar disso, a renda não é reajustada na mesma proporção do aumento dos preços. Eis o significado da perda salarial.

No atual cenário econômico, em que os impactos do novo coronavírus afetam negativamente a renda e o emprego, o IBGE registrou uma subida acima de 14% nos preços dos alimentos em 2020, A inflação de 2020 superou as projeções do mercado e o IPCA atingiu em Fortaleza, por exemplo, cerca de 6%, a terceira maior do País e a maior do Nordeste, bem acima da média nacional. Para o conjunto dos 12 produtos que compõem a cesta básica, o Dieese registrou em Fortaleza, no acumulado de 12 meses, alta de 32%, a terceira maior do País entre as 17 capitais analisadas.

Outro índice preocupante divulgado pelo IBGE é a taxa de desemprego. No Brasil foi de 14% (14 milhões) no trimestre de setembro a novembro de 2020, a mais alta para esse trimestre desde o início da série histórica da pesquisa, em 2012. A parcela da população que não buscou trabalho, mas gostaria de conseguir uma vaga, chega a quase 6 milhões de desalentados. Ou seja, cerca de 20 milhões de trabalhadores fora do mercado.

Para completar esse quadro, o número de empregados sem carteira assinada só cresce enquanto cai o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado. A taxa de informalidade chegou a 39% da população ocupada. São 33 milhões de trabalhadores informais contra 30 milhões empregados com carteira de trabalho assinada. As mulheres têm sido mais afetadas do que os homens pelas perturbações do mercado de trabalho causadas pela pandemia. As perdas de emprego das mulheres situam-se nos 5%, contra 4% dos homens. Em particular, as mulheres tinham muito mais probabilidade do que os homens de abandonar o mercado de trabalho e de se tornarem inativas. No Ceará, por exemplo, dados do Ministério da Economia revelam que as mulheres perderam mais de mil postos de trabalho no período de março a dezembro de 2020. Os trabalhadores mais jovens também foram particularmente atingidos, seja perdendo empregos, abandonando a força de trabalho ou adiando a entrada no mercado laboral.

Esse cenário ocorre muito em função da reestruturação produtiva que provoca o fechamento de várias fábricas Brasil afora. A reestruturação é outro fator que impacta diretamente o mercado de trabalho. Em tempos de enxugamento nenhum empregado fica imune. Na Ford, por exemplo, que anunciou o encerramento das atividades, serão demitidos cerca de 6 mil funcionários diretos, nos locais onde as fábricas se situam – Camaçari (BA), Taubaté (SP) e em Horizonte (CE). O fechamento da fábrica da Troller no município cearense deixará 470 pessoas desempregadas. Contudo, o impacto do fechamento da montadora não se limita aos funcionários, trazendo reflexos para toda a cadeia produtiva. Segundo o Dieese, cerca de 118 mil postos de trabalho podem fechar, sejam diretos, indiretos e induzidos – garçons, professores, motoristas de ônibus e até babás. E buscar uma nova recolocação profissional é algo extremamente difícil em tempos de crise.

Para além das campanhas salariais

Como se pode constatar, o capitalismo global não suporta melhorias das condições de vida do povo, mesmo as mais simples. As reformas trabalhista e previdenciária prometiam uma modernização das relações de trabalho, mas, na verdade, as consequências são opostas a isso – essas contrarreformas nos levaram a um mercado de trabalho que intensificou as condições de fragilidade e vulnerabilidade dos trabalhadores, fortalecendo as figuras do trabalho autônomo, intermitente, parcial, temporário e da terceirização, fatores que levam a um mercado laboral crescentemente precário. O fechamento de empresas, como está acontecendo agora, é em decorrência da própria política adotada pelo governo a mando do empresariado.

Para o marxismo de Trotsky, é essencial que o nosso programa parta das demandas mais imediatas e diretas dos trabalhadores, de seus interesses mais concretos, para levar sempre a uma única e mesma conclusão: a necessidade da superação do capitalismo. Portanto, o papel das organizações da classe trabalhadora, que não se submetam à lógica do capital, é preparar campanhas salarias que possam ir além da recomposição da capacidade de compra dos rendimentos e possa avançar na luta unificada com outras categorias e setores explorados e oprimidos em suas múltiplas formas, estabelecendo mobilizações e apresentando um programa que compreenda:

  • Vacinação de toda a população, quebra de patentes e fortalecimento do SUS!
  • Defesa do emprego e volta do auxílio emergencial até o fim da pandemia!
  • Contra as privatizações e a entrega do país!
  • Não à reforma administrativa! Em defesa do serviço público!
  • Fora Bolsonaro, Mourão, Pazuello e Centrão!
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