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MOVIMENTO

Ford e a luta pelos empregos

Marina Sassi e Guirá Borba, de São José dos Campos, SP
Sindicato dos Metalúrgicos de SJC e região

Nas últimas semanas, o fechamento das fábricas da Ford no Brasil tomaram os noticiários da mídia nacional. A direção da companhia deu um verdadeiro tiro à queima roupa nos mais de cinco mil trabalhadores diretos que têm no país. Em um único dia, desrespeitando o acordo de estabilidade no emprego assinado com os sindicatos e sem nenhuma negociação prévia, encerrou as operações nas suas linhas de produção de Camaçari, na Bahia, de Taubaté, no estado de São Paulo e Horizonte, no Ceará.

Ainda é difícil dimensionar o que representa o fechamento da Ford para o país. Alem dos mais de cinco mil empregos diretos, a cadeia de produção da montadora pode fechar cerca de 118 mil postos de trabalho, segundo dados apontados pelo DIESSE (Departamento Intersindical de Estudos Sócio Econômicos).

Infelizmente, notícias como esta, de fechamentos e demissões nas montadoras, têm se repetido ao longo dos anos. A própria Ford já havia feito o fechamento da sua fábrica em São Bernardo do Campo, SP, em fevereiro de 2019, demitindo cerca de 650 trabalhadores. Naquele mesmo ano, a Renault de São José dos Pinhais, Paraná, anunciou 700 demissões. A Mercedes Bens anunciou o fechamento da fábrica no final de 2020. E ainda existem outros casos que poderiam ser citados.

Este trágico cenário se agravou com a pandemia, atingindo em cheio a indústria nacional. A Embraer fechou 2500 postos de trabalho só em 2020. A queda brusca de vôos pelo mundo causado pelo coronavírus agravou a situação já difícil da fabricante brasileira de aviões, que vinha de um processo fracassado de venda para a Boeing. A tentativa de entrega da empresa brasileira para a norteamericana foi feita com aval de Bolsonaro (que tem poder de veto através de uma ação de ouro que o governo possui). Porém, o mesmo se calou diante das demissões. Esta postura omissa do presidente foi recorrente diante dos anúncios de fechamentos e demissões pelo país. Governo Bolsonaro não se moveu em nenhum momento para proteger os empregos.

Voltando ao caso recente da Ford, o objetivo é fechar as fábricas, mas continuar lucrando com o mercado brasileiro. Em nota, a empresa afirma ser necessário o encerramento das suas operações no Brasil para permitir um “modelo de negócios ágil e sustentável”, mas que em breve anunciará novos modelos a serem vendidos no país. Uma cara de pau enorme e profunda irresponsabilidade com os trabalhadores e com o país, vindo de uma empresa que só de empréstimos com o BNDES recebeu R$ 335 milhões entre 2014 e 2017, sem nenhuma exigência de contrapartida por parte dos governos.

Os sindicatos dos trabalhadores têm convocado assembleias e manifestações exigindo o cancelamento das demissões e a retomada da produção. Temos exemplos recentes de como a mobilização é capaz de reverter situações como esta. Os 700 funcionários da Renault foram reintegrados após greve daqueles que permaneceram na fábrica. É possível lutar pela estatização da Ford. O mínimo a exigir de uma empresa que lucrou por anos no país e que recebeu milhões em isenções fiscais e empréstimos é que deixe o maquinário. Com a estrutura física da fábrica, os trabalhadores assumem a produção. Dessa forma, teríamos o lançamento do primeiro veículo nacional, beneficiando todo o país e impulsionando a economia.

Esse projeto não será aplicado por Bolsonaro e sua equipe, que por diversas vezes já mostrou sua incompetência para responder às necessidades do povo. A única maneira de barrar o fechamento das fábricas é com solidariedade, unidade e mobilização! Todos os movimentos sociais, sindicatos e  partidos de esquerda devem estar juntos para impor um novo projeto politico para o país, colocar para fora Bolsonaro e sua equipe.

 

*Marina Sassi é trabalhadora da Embraer, diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de SJC e foi candidata a prefeita de São José dos Campos pelo PSOL. Guirá Borga é trabalhador da Chery e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de SJC.

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