É inacreditável essa falta de tecitura crítica que faz passar BBB como um aliado. É absolutamente incrível que grande, mas grande mesmo, parte da esquerda se renda aos personagens escolhidos a dedo por agenda da publicidade e psicólogos da ordem para fazer ecoar nos algoritmos das redes uma certa linguagem e centralizar os debates.
Não há nada de teoria da conspiração, as agências agem assim desde sempre. Os algoritmos apenas facilitaram de uma maneira absolutamente produtiva. O espetáculo redobrado encontra lugar agora num estrutura simbólica artificial toda ela padronizada pelos dizeres da moda e os lugares de fala definidos a priori não pelo Boninho, mas pela colonização do imaginário.
E o mais impressionante e violento é que nessa onda de terror contra qualquer imaginação, mesmo falas de recusa, como essa, são imediatamente absorvidas para esfera espetacular: “Nada é sério. Nem o presidente, então relaxe e assista o BBB, nós sabemos que ele é uma merda mas pelo menos aí podemos vencer, já que nem nas municipais conseguimos”.
A esquerda goza, sente-se no auge da representatividade, enquanto isso, os caminhoneiros que preparam a greve sabem que o diesel está insuportável. O preço da farinha subiu constantemente. Em vinte anos nunca houve tantos desempregados, são 5 trilhões o saldo da dívida pública, 220 mil mortes por negligência, enquanto o ministro da saúde disse que irá responder o Butantã e a compra de vacinas no que foi estabelecido no contrato, ou seja, 30 de maio. Muitos foram vacinados, mas parece que não haverá a segunda dose. As avós da esquerda poderão ficar sem vacina.
Mas veremos o próximo mansplanning condenatório. E gozaremos pela próxima prova de resistência vencida por um negro. Afinal, somos resistência. Mesmo que não saibamos o paradeiro de três crianças negras no Rio de Janeiro.
Não é à toa. Se a desmoralização foi política, agora que se faça a ética! A caricatura está feita e as máscaras negras foram produzidas em moldes rígidos.
À recusa!
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