No dia 1 de agosto, reunimos vários moradores do Barreiro, em Belo Horizonte, no nosso Segundo Seminário Programático, parte da pré-campanha para ocupar uma vaga na Câmara de Vereadores da capital de Minas Gerais. Foram algumas horas de debate e surgiram as ideias para nossa Plataforma.
Neste texto, apresentamos as propostas que vamos defender na campanha e vamos lutar para realizar. Nossa campanha é um movimento! Conheça e venha construir com a gente!
Iza Lourença
O barreiro é uma das maiores regiões de Belo Horizonte, são 54 bairros, 18 vilas, 70 mil domicílios e aproximadamente 300 mil habitantes (Prefeitura de BH 2020). É uma ponta da nossa cidade, como se pode ver no mapa, faz fronteira com outras quatro cidades da região metropolitana, Contagem, Ibirité, Brumadinho e Nova Lima. O descaso do poder público com a periferia fez da falta de mobilidade urbana um dos principais problemas da região. Afastados do centro de BH e muitas vezes mais perto dessas outras cidades também periféricas, muita gente gasta mais de duas horas por dia no ônibus.
Da Estação Diamante até a UFMG são duas horas e 5 min, o que é apenas uma das barreiras que separa um jovem da periferia do ingresso na universidade pública.
A promessa do metrô na região já virou lenda, muitos políticos utilizaram esta propaganda na campanha eleitoral e depois não levaram à frente o projeto. O projeto de linha 2 – lilás ligaria o Barreiro e ao Bairro Santa Teresa passando pelo centro de BH. Foi pensado na década de 80 e nunca saiu do papel. Formam os interesses das empresas de ônibus que fizeram com que uma solução ecológica de transporte coletivo de massa, como o metrô, nunca fosse levada adiante. Não é por acaso que, essas empresas, financiam a campanha de muitos vereadores e prefeitos e mantém uma forte presença na política. O transporte é atribuição do município (CF art 30 inciso V) e portanto, o poder executivo e legislativo municipal tem responsabilidade direta.
Importante ressaltar que boa parte da malha ferroviária para implantação de um trem de passageiros que ligasse a Praça da Estação, o Barreiro e cidades como Brumadinho, Sarzedo e Mário Campos já existe. Hoje esta malha é usada para o transporte de minério, quem ganha é a Vale, quem perde é o povo. Vários estudos indicam que seria viável transportar passageiros mantendo o transporte de carga. O que explica a ausência do metrô do barreiro não é a falta de condições técnicas e sim o fato de as poucas empresas de ônibus dominarem o transporte coletivo em BH e região metropolitana.
A pandemia no barreiro
Durante várias semanas o Boletim Epidemiológico da Prefeitura de BH mostrou nitidamente como a pandemia da Covid – 19 evidenciou as desigualdades da cidade. O Lindéia, bairro do Barreiro foi o local onde ocorreu o recorde de mortos no capital. Porém o número de casos no Buritis é muito maior. Isso mostra como a morte não acompanha apenas as características do vírus, mas também os abismos sociais que separam a cidade.
Auto-organização – política de dentro pra fora
Nosso mandato não pretende substituir e representar o Barreiro de fora. Nós acreditamos na auto organização do povo e, por isso uma das nossas prioridades será fomentar e apoiar os grupos de cultura, os coletivos de educação popular, as ocupações de luta por moradia e as associações de bairros.
Quem faz política real aqui está na batalha de rimas da pista, nos saraus, nas praças, cuidando dos espaços que a prefeitura se nega a cuidar. A política real é aquela que as lideranças comunitárias fazem nos territórios para garantir os direitos da população. Política de verdade é feita por quem desenvolve projetos sociais e não por quem só aparece no momento da eleição.
Preservar nossos parques, rios e águas
É no barreiro que está a bacia do Ribeirão Arrudas, quase todo esgoto de Belo Horizonte e Contagem é jogado no Arrudas. Várias nascentes e córregos que formam o Ribeirão também estão aqui, é o caso do Córrego Jatobá, do Córrego do Barreiro e do Córrego Bom Sucesso.
Boa parte das águas que abastecem toda a região metropolitana bem do Parque Estadual da Serra do Rola Moça, o que nos dá uma dimensão da importância de lutar pela preservação desta área. Além das queimadas o Parque do Rola Moça está ameaçado pela mineração, que vai se iniciar em breve no município vizinho, mas seus efeitos aos meio ambiente vão afetar todos nós e as futuras gerações.
Além do Parque Estadual do Rola Moça, o barreiro tem quatro parques municipais (o Parque Ecológico Pe Alfredo Sabetta, o Parque Burle Marx, o Parque da Vila Pinho e o Parque o Tirol). Todos eles precisam de atenção e políticas públicas de preservação. Além disso podem ser melhor aproveitados como espaço de lazer e diversão, conectando a comunidade e a natureza.
Um pouco da história da nossa região
A história do bairro se confunde com o passado escravocrata do Brasil, um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão. Na Fazenda Barreiro como era conhecida nossa região no final do sec XIX o senhor de escravo ficou conhecido por desrespeitar a lei do sexagenário e do ventre livre. É lamentável que esta herança racista ainda esteja em nomes de rua como o da Av. Sinfrônio Brochado.
Para nós quem deveria ser homenageado é o Alforriado Matias, um abolicionista que viveu na região e lutou contra a família Brochado.
Foto Mídia Ninja. 2017. Ato do 20 de novembro. Barreiro BH.
Temos orgulho da nossa história de resistência. Conhecer o passado é fundamental para construir o futuro.
Nos últimos meses vimos jovens quebrando estátuas contra o racismo em outros países do mundo, no nosso bairro não podemos deixar que a rua principal seja uma referência ao passado escravocrata. Não são eles que precisam ser lembrados.
Propostas
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Descentralização dos recursos, queremos a periferia no centro
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Revitalização dos espaços públicos de cultura, esporte e lazer
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Fortalecimento dos coletivos de arte e cultura
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Transporte é direito: repensar as linhas e estações de ônibus no Barreiro
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Lutar para que a Prefeitura pressione o Governo Federal para tirar do papel do Metro e discutir a utilização dos trilhos para transportes de pessoas.
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Educação: por mais campus de ensino superior e técnico em nossa região
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Chega de ficar sem água em nossas casas, saneamento básico é o mínimo
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Fortalecer o Sistema Único de Assistência Social e o SUS nos bairros de maior vulnerabilidade social
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Políticas de emprego e renda nos territórios.
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Preservar nossos parques e serras – incentivar a visitação da área verde e a educação ambiental.
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Lutar pela água, preservando os mananciais e reivindicando tratamento adequado do esgoto doméstico e industrial.
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Apresentar um projeto de lei para mudança de todos os nomes de ruas e logradouros que fazem alusão à escravocratas.
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Homenagear o Alforriado Matias para que as novas gerações conheçam o passado dos que lutaram pela nossa liberdade.
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