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Especiais

Sobre as eleições em Mauá e a vitória do PT

André Santos, Resistência/PSOL do ABC (SP)
Reprodução/Facebook

No último domingo, 29/11, por uma diferença apertada de 0,48% (alcançando um total de 91.459 votos), o candidato Marcelo Oliveira (PT) se tornou o novo prefeito do município de Mauá, derrotando o atual prefeito, Atila Jacomussi, do PSB (88.783 votos). Depois da perda de muitas prefeituras em todo o Brasil, a vitória no segundo turno em Diadema – primeira cidade onde o PT elegeu um prefeito – e Mauá deram uma respiro para o partido na região do Grande ABC.

Com cerca de 460 mil habitantes, Mauá está entre as maiores cidades do estado de São Paulo, com população maior que muitas capitais, com um importante polo petroquímico. O município já foi governado pelo Partido dos Trabalhadores de 1997 a 2004 e de 2009 a 2016, sendo que três desses mandatos tinham à frente Oswaldo Dias, cuja esposa Celma Dias é vice do futuro prefeito.

Atila Jacomussi veio como o candidato mais forte no primeiro turno, porém com grande rejeição. O atual prefeito e candidato derrotado passou por duas prisões por conta de investigações de envolvimentos com casos de corrupção, incluindo desvio de verba que iria para a merenda das escolas municipais. Além do prefeito, 22 dos 23 vereadores da cidade também passaram por processos de investigação, sendo que o único não investigado foi Marcelo Oliveira, o candidato do PT na eleição de 2020.

Primeiro Turno

O PT conseguiu passar ao 2º turno com diferença apertada, somando 38.330 votos (19,84%), contra 37.675 (19,50%) votos do candidato Juiz João, do PSD. Já Atila liderou com uma folga de 70.490 votos (36,48%). Marcelo Oliveira veio numa candidatura sem coligações, enquanto o atual prefeito estava na coligação PL / PATRIOTA / PCdoB / PSB / AVANTE / SOLIDARIEDADE.

Amanda Bispo, da UP, com 3.950 votos (2,04%), e André Sapanos, do PSOL, com 2.426 votos (1,26%), ficaram em sétima e décima posições. Donisete Braga (PDT), que foi prefeito pelo PT de 2013 a 2016, obteve apenas 5.174 votos (2,68%), ficando em sexto lugar. O PSDB de José Lourencini ficou em quarto com 9,38%. O PRTB alcançou os 3,85%. Os demais partidos PP, DEM, PMN e PSL ficaram abaixo dos 2%.

Proporcionais

Alessandro Martins (PDT) foi o mais votado, carregando a pauta da proteção dos animais, com 4.548 votos. O PT passou de um para dois vereadores com Geovane Correia (1.602 votos) e Junior Getúlio (1.102 votos). Dentro do campo da esquerda, destacou-se a candidatura de Gabriela Torres, da UP, que obteve 1.583 votos, sendo a mulher mais votada na cidade e ficando à frente de alguns candidatos eleitos, porém a UP não atingiu o coeficiente eleitoral. No PSOL, a candidatura mais votada foi a da Bancada Antirracista Dandara (652 votos).

A votação no campo onde transitam PT, PSOL, UP cresceu 29% em relação a 2016. A UP apareceu pela primeira vez nas eleições, obtendo um total de 1866 votos. O PSOL obteve um crescimento de 34%, passando de 1.397 para 1.869 votos. O PT obteve um crescimento de 4,8%, passando de 14.591 a 15.293 votos.

Desafios de um novo governo do PT

Poucos dias após o segundo turno, já correm notícias de que um bloco formado por 13 dos 23 vereadores eleitos já se organizam para formar maioria na câmara. Liderado pelo PL, o bloco é composto por uma parte do Patriotas, e pelo PSB, PSD, PSDB, PTB, PP e PODEMOS. Ficaram de fora do bloco PDT, PT, SOLIDARIEDADE, AVANTE, REPUBLICANOS, parte do PATRIOTA e PSC.
Esse bloco já mostra que o PT terá de optar entre acordos com a direita ou se apoiar no fortalecimento dos movimentos sociais da cidade para conseguir governar. Neste sentido, é uma grande responsabilidade da esquerda do município organizar as trabalhadoras e trabalhadores em 2021.

O PCdoB, que estava ao lado do PSB, precisa relocalizar sua política na cidade. O PSOL precisa avançar no sentido de se estabelecer como força política com autoridade em Mauá. A UP tem aos poucos se tornado referência de luta na vanguarda da cidade, principalmente entre mulheres e jovens. É fundamental que a esquerda se organize e construa frentes. O PT precisa estar aberto ao diálogo com os movimentos sociais caso queira evitar velhos erros de alianças com a direita e o centrão.