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EDITORIAL

Governo quer criminalizar UNE e UBES pelo adiamento do ENEM

São Paulo – Estudantes chegam à Universidade 9 de Julho (Uninove) para o segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em Barra Funda, zona oeste. (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Na última semana, no dia 4, a Escola Nacional Florestan Fernandes, mantida pelo MST, foi invadida pela Política Civil, uma ação absolutamente ilegal sem mandado, só justificada pela sanha irresponsável e arrogante de criminalizar e intimidar os movimentos sociais. Esse episódio foi só o começo, os golpistas querem mais.

Temer e sua corja corrupta e reacionária estão ansiosos para aplicar seus planos de recolonização do país com a privatização de tudo, destruição dos serviços públicos, restrição das liberdades democráticas, ataque aos direitos trabalhistas e sociais impondo fim à constituição de 88, e concentrando seus ataques à geração de jovens com até 35 anos, fazendo-os pagar a conta da crise com seu próprio futuro.

Mas, mesmo no topo da sua arrogância, o governo sabe que, para isso, será preciso emudecer os movimentos sociais, partidos políticos de esquerda, coletivos e o conjunto de ativistas que seguem resistindo. É por isso que, como noticiado ontem (07) pelo Jornal Nacional, o governo quer que a UNE e a UBES paguem pelos custos de R$ 15 milhões pelo adiamento da realização da prova do ENEM para 271 mil jovens, que o fará nos dias 3 e 4 de dezembro.

Além disso, sabemos que está sendo criada na Câmara dos Deputados uma CPI contra a UNE. Querem tratar movimentos sociais como caso de polícia. Um completo absurdo.

Essas atitudes do governo são nítidas tentativas de intimidar o movimento de ocupações, agora mais dinâmico nas universidades públicas, que cresce a cada dia. Já são mais de 170 campi universitários ocupados, além das centenas de campi de Institutos Federais e escolas em quase todos os estados do país.

O governo percebeu que, apesar do seu fortalecimento consagrando o golpe parlamentar nas eleições municipais, há aqueles que ousam resistir. Hoje, o centro dessa resistência são as ocupações estudantis. Ao invés de receber as reivindicações dos estudantes, o governo prefere ter uma atitude intransigente e autoritária.

De quem é a culpa pelo adiamento do ENEM?
Sabemos que o adiamento do ENEM foi uma opção política do governo de buscar chantagear os estudantes para pressionar desocupações, além de disputar a opinião pública para ser contrária à legítima luta estudantil em curso. Para isso, de forma baixa, o governo utiliza os sonhos de milhões de jovens de entrar em uma universidade como arma para ameaçar aqueles que legitimamente lutam pelo seu direito ao futuro.

Os planos desonestos do governo são tão nítidos, basta lembrar que o segundo turno das eleições municipais aconteceram mesmo com a continuação das ocupações. Os TREs decidiram por alterar locais das votações em quatro estados, Espírito Santo, Goiás, Paraná e Pernambuco, em nove cidades do total de 57 em que ocorreram eleições de segundo turno. Em seis, as votações ocorreram nos próprios locais em que há ocupação, resultado de acordo entre alunos e Justiça Eleitoral.

Dessa vez, o governo, na imensa maioria dos casos, se negou a negociar com as ocupações que, desde o primeiro momento, se dispuseram a discutir as mais distintas formas de garantir a aplicação do ENEM.

Por que escolheram a UNE e a UBES?
As ocupações são autônomas e independentes. Seus métodos, calendários e posições políticas são submetidas às suas assembleias e demais espaços democráticos.

Sabemos que nos últimos anos, além de defender acriticamente todas as políticas dos governos do PT, a UNE e a UBES abriram mão do seu papel de organizadoras coletivas das lutas dos estudantes, se submetendo às regras dos gabinetes e abandonando as ruas. Portanto, não é à toa que hoje o movimento das ocupações não reconhece essas entidades como sendo suas direções, não estando à altura dos métodos e concepções do movimento.

Mas, independente disso, o governo escolhe a UNE e a UBES como alvos para sua ação de intimidação, pois querem criar um exemplo para que os estudantes tenham medo de seguir em luta. Não irão conseguir! Independente de qualquer crítica à UNE e UBES, sabemos que entre nós ‘lavamos nossas roupas sujas em casa’. Defendemos incondicionalmente essas entidades e quaisquer outras, bem como movimentos sociais e demais organizações políticas que forem criminalizadas pelo direito legítimo de lutar.

E para fortalecer o movimento de ocupações, inclusive defender a UNE e a UBES das investidas de criminalização, é preciso uma ampla unidade nacional. Não podemos arriscar em unificar apenas uma parte do ascenso. Por isso, se faz cada vez mais urgente a criação de uma Frente Nacional das Ocupações e Mobilizações estudantis que conte com a participação da UNE, UBES, ANPG, FENET, ANEL, mas centralmente as representações democráticas das ocupações e mobilizações em unidade com outros movimentos como a Frente Povo Sem Medo, o MST, MTST, ANDES, FASUBRA e SINASEFE. É momento da mais ampla unidade para resistir ao governo golpista de Temer.

O próximo dia 11, além de um dia nacional de lutas contra a PEC 55 (antiga 241) e a Contrarreforma do Ensino Médio, também tem de ser uma data de lutas contra a criminalização dos movimentos sociais. Parar as universidades e Institutos Federais e ir para as ruas.

Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil