Por Gloria Trogo, da Redação
Sexta feira, 4 de novembro. Estacionamentos cheios, muitos estudantes circulando, para um visitante distraído tudo parece normal. Mas, basta um olhar para a portaria dos prédios que o grandioso processo de luta que tomou conta da Universidade Federal de Minas Gerais salta aos olhos. Nas fachadas faixas exibiam os motivos da luta: Contra a PEC 241, Ocupar é Resistir, Apropriar, Atrever, Reivindicar, Abranger, Conquistar… Eles sabem contra quem lutam, muitas faixas exibem: Temer Golpista.
EBA, Música, FAE, FALE, ECI, FAFICH, IGC, ICEX, CAD 1 e CAD 2, Farmária, EFETTO: todos ocupados. O Colégio Técnico da UFMG, o Coltec também está ocupado. Nas unidades do centro da cidade a Arquitetura e o Teatro Universitário estão ocupados. O campus de Montes Claros: ocupado. Para termos idéia da dimensão do movimento basta olhar os números, no total o Campus Pampulha tem 16 institutos, 12 estão ocupados. Outras ocupações estão previstas. Os estudantes avançam sem medo. Um cartaz irreverente afirmava: “Não vamos aceitar nem fudendo”.
O método
Diferente da greve e diferente das ocupações de reitoria. A resistência se dá por outro método. Ocupam-se os prédios. O local de ensino se transforma no local da resistência. Dezenas de equipes organizam o dia dia: alimentação, segurança, organização, limpeza, tudo garantido pelos ocupantes.
As aulas? Não acontecem, mas muita coisa se aprende. Nesses dias certamente aprendeu-se muito mais do que em muitos anos de graduação. Aulões discutem a situação do Brasil, da educação, da juventude, das mulheres, dos negros e negras, das LGBT`s. Os ocupantes sabem explicar tudo sobre a PEC 241, agora PEC 55. Entendem porque lutam e contra quem lutam. Todos sabem que o país está em crise, mas não acreditaram na narrativa golpista de que a PEC é o único caminho.
O método das ocupações dos locais de estudo não começou aqui. Os estudantes secundaristas de São Paulo que indicaram o caminho em 2015. Foram mais de 200 escolas ocupadas por mais de um mês no ano passado. O protesto foi vitorioso e o Governador Geraldo Alkmin recuou de sua proposta de reestruturação escolar. O governo queria fechar 92 escolas. A resistência mostrou que é possível vencer. O elemento determinante foi o amplo apoio social que as ocupações conquistaram derrubando a popularidade do Governador do PSDB.
Os rumos do movimento
“A certeza na frente. A história na mão. Aprendendo e ensinando uma nova lição.”
Os versos de Geraldo Vandré são inspiradores. As lutas dos secundaristas de São Paulo, dos secundaristas do Paraná, dos estudantes da UFMG, de mais de uma centena de Universidades e Institutos Federais ocupados deixará grande lições. Já temos uma vitória: o pensamento crítico de milhares de jovens. Uma geração compreendeu o que ocorreu no Brasil, repudia o golpe parlamentar e percebe que a PEC 241 /PEC 55 não é apenas um projeto de lei, não é mais uma emenda para se somar às outras 54 que foram feitas na Constituição de 1988.
A PEC 241 ou EC 55 é uma mudança profunda. Um governo não eleito e uma maioria de políticos do Congresso Nacional quer aprovar uma mudança de 20 anos Brasil. Os direitos sociais e os investimentos em saúde e educação se transformaram em “gastos” que precisam ser cortados. O mais incrível é que o beneficiários disso são os credores de uma dívida ilegítima que já foi paga diversas vezes, nunca foi auditada como previa a ADCT da Constituição de 88 e hoje estrangula mais da metade do orçamento, porque o Brasil oferece ao mercado financeiro um dos juros mais altos no mundo.
Esta batalha será longa. De imediato é preciso unificar o movimento. Este caminho já foi tomado em Assembléia. Formou-se uma comissão de articulação de todas as ocupações e caminha para formar uma frente entre as ocupações de BH com representantes eleitos em assembléias das ocupações. Na cidade de Belo Horizonte o número de escolas ocupadas já passa dos 28. Para a próxima semana os estudantes já falam no dia 11 de novembro, dia de paralisação de diversos movimentos sociais e centrais sindicais contra a PEC 241. É preciso também olhar mais longe, traçar os planos de médio e longo prazo. As lutas contra a austeridade na Europa existem desde 2008, quando a crise atingiu em cheio o velho continente. No Brasil estamos apenas começando.
Foto: retirada da página Ocupa Tudo UFMG
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