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Colunas

Carnaval carioca: protestos vão seguir no Sambódromo

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Na noite deste domingo (23), acontecem os desfiles das Escolas de Samba do grupo especial do Rio de Janeiro.

Na Avenida Marquês de Sapucaí, veremos destacados por várias Escolas de Samba muitos temas da política nacional: críticas contundentes ao presidente neofascista Bolsonaro; lembrando, por exemplo, temas como o crescimento desenfreado da destruição do Meio Ambiente, o aprofundamento da desigualdade social e até as Fake News; a defesa da liberdade religiosa e um repúdio veemente a toda e qualquer intolerância; e a denúncia do verdadeiro abandono em que vive a Cidade Maravilhosa, nas mãos do (des) prefeito Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal, o grande inimigo do Carnaval carioca.

Luiz Carlos Máximo, um dos compositores do Samba da Mangueira em 2019 e, novamente agora, em 2020, ambos em parcerias com Manu da Cuíca, em recente entrevista que concedeu ao Correio Braziliense, resumiu muito bem como a situação política brasileira é retratada no Carnaval:

“Estamos vivendo em uma sociedade muito polarizada, com uma situação econômica complicada e o samba é uma música popular. Logo, essa tensão que a sociedade vive vai se refletir de alguma forma… Isso não mudou do nada. É fruto da tensão social que estamos vivendo”.

O pastor carioca Henrique Vieira, ator e ex-vereador do Psol em Niterói (RJ), vai encenar na avenida o Jesus Negro da Mangueira. Sobre a polêmica criada pelo samba-enredo da Verde e Rosa, Henrique declarou à imprensa:

“Tem abaixo-assinado, gente querendo nos levar à Justiça. A Mangueira não está inventando, mas sendo muito coerente com a Bíblia. Quem tirou Jesus do meio do povo está errado, e agora se incomoda quando uma escola de samba o devolve para sua origem, para a periferia, junto do povo”.

Para reforçar o que explicou Máximo, uma dos grandes sambistas cariocas da atualidade, abaixo, estão trechos de samba-enredos de algumas Escolas que vão desfilar no Sambódromo nas noites de domingo e segunda-feira. Confira:

Mangueira

“Mas será que todo povo entendeu o meu recado?

Porque de novo cravejaram o meu corpo

Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão
Favela, pega a visão
Não tem futuro sem partilha
Nem Messias de arma na mão”

 

Portela

“Índio pede paz, mas é de guerra
Nossa aldeia é sem partido ou facção
Não tem ‘bispo’, nem se curva a ‘capitão’
Quando a vida nos ensina
Não devemos mais errar
Com a ira de Monã
Aprendi a respeitar a natureza, o bem viver”

 

Unidos da Tijuca

“Lágrima desce o morro
Serra que corta a mata
Mata, a pureza no olhar
O Rio pede socorro
É terra que o homem maltrata
E meu clamor abraça o Redentor
Pra construir um amanhã melhor”

 

São Clemente

“Abre a janela, aperta o coração
O filtro é fantasia da beleza
Na virtual roleta da desilusão
Brasil, compartilhou, viralizou, nem viu!
E o país inteiro assim sambou
Caiu na fake news!”

 

Grande Rio 

“Salve o candomblé, Eparrei Oyá
Grande Rio é Tata Londirá
Pelo amor de Deus, pelo amor que há na fé
Eu respeito seu amém
Você respeita meu axé”

 

Mocidade

“É hora de acender
No peito a inspiração
Sei que é preciso lutar
Com as armas de uma canção
A gente tem que acordar
Da lama nasce o amor
Quebrar as agulhas que vestem a dor

Brasil
Enfrente o mal que te consome
Que os filhos do planeta fome
Não percam a esperança em seu cantar”