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EDITORIAL

Eleições 2016: vitória da direita e reorganização na esquerda

A direita avançou. Os números do 1ª turno das eleições municipais são incontornáveis.

Nas capitais, o PSDB liquidou a fatura já no primeiro turno em São Paulo e Teresina e obteve a primeira colocação em Porto Alegre, Belo Horizonte, Belém, Maceió, Manaus e Porto Velho.

O PMDB, DEM, PRB, PSD, PMN e PPS, por sua vez, ficaram em 1º lugar no Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba, Goiânia, Cuiabá, Florianópolis, Boa Vista, João Pessoa, Campo Grande e Vitória.

Já o PSB, PDT e a Rede venceram em Fortaleza, Recife, Natal, Macapá, Palmas e São Luiz.

Ou seja, das 25 capitais, os partidos da direita e centro-direita conquistaram a primeira posição em 23. Das 18 capitais onde ocorrerá segundo turno, somente em duas o PT e o PC do B está na disputa. O PSOL disputa no Rio de Janeiro e em Belem.

O PT venceu apenas em Rio Branco, no Acre, e vai ao segundo turno em Recife. O PCdoB conseguiu a dianteira só em Aracaju.

O PSOL vai ao segundo turno em duas capitais importantes: Rio de Janeiro, com Marcelo Freixo, e Belém, com Edmilson.

Triunfo do PSDB e de Temer
Os grandes vitoriosos dessa noite de domingo (02) foram o governo Temer (PMDB) e, sobretudo, os tucanos. A ofensiva burguesa, que patrocinou o golpe parlamentar (impeachment), adquiriu expressão eleitoral. Tal fato demonstra que a narrativa construída pela direita ao longo da crise política ganhou influência não somente em setores médios da sociedade, mas também em amplos segmentos da classe trabalhadora.

O resultado eleitoral, por consequência, reforça qualitativamente os planos do PSDB de tomar o controle direto do Governo Federal em 2018. Por outro lado, o triunfo da base aliada nas urnas confere mais força ao governo Temer para a aprovação de suas contrarreformas no Congresso.

Vale destacar, também, o peso alcançado por candidaturas da extrema direita. Por exemplo, no Rio Janeiro, Flávio Bolsonaro teve expressivos 14% dos votos válidos e, em Fortaleza, o capitão Wagner obteve 31% e vai ao segundo turno.

Monumental derrota do PT
O partido de Lula sofreu um tombo histórico. Além de perder quase 300 Prefeituras, o PT viu seu peso político desmoronar nos principais centros urbanos do país. O partido desabou inclusive em seus antigos bastiões político-eleitorais, como a periferia de São Paulo e o ABC paulista. Foi certamente a pior derrota da história do PT, se tomamos como critério a dimensão e o significado político da queda.

Tantos anos de conciliação com os ricos e poderosos, de alianças espúrias com os partidos de Sarney, Maluf, Feliciano e Collor, o estelionato eleitoral, enfim, a estratégia de governar para e com a burguesia cobrou seu preço.

Porém, desgraçadamente, quem está capitalizando majoritariamente a crise do PT é a direita tradicional. As traições do petismo deram base à ofensiva reacionária que assistimos nesse momento.

Nesse sentido, é decisivo o debate em relação à superação do petismo do ponto de vista programático e estratégico. Sem aprender as lições dessa trágica experiência de conciliação de classes, estaremos fadados a repetir os erros do passado. Por isso, tem enorme importância, por um lado, fortalecer ativamente as alternativas da esquerda socialista e, por outro, evitar que a esperança que começa a surgir trilhe o descaminhos do PT.

Fortalecimento do PSOL à esquerda
Nem tudo foi terra arrasada. Essas eleições demonstraram que há um qualitativo – ainda que minoritário – espaço à esquerda, em especial nos grandes centros urbanos. O significativo crescimento do PSOL expressa uma reorganização política na esquerda brasileira. Setores amplos de trabalhadores e da juventude, as camadas mais conscientes e desiludidas com o PT, buscam uma nova alternativa à esquerda.

A rigor, o PSOL disputa com o PT a hegemonia político-eleitoral nas principais cidades. Esse é um movimento positivo, ainda que cheio de contradições e limitações. Nesse segundo turno, consideramos que deve ser prioridade da esquerda socialista abraçar, com entusiasmo e afinco, a campanha de Marcelo Freixo (PSOL/PCB) no Rio. Em termos eleitorais, localiza-se aí a grande batalha contra a direita, e também a principal perspectiva de superação do petismo pela esquerda.

Por outro lado, é fundamental o debate sobre as perspectivas do próprio PSOL, afinal, o crescimento eleitoral já provoca pressões para a acomodação às regras do sistema, no sentido de repetir os passos do PT. A coligação de Edmilson (PSOL) com o PDT em Belém, as alianças com a Rede e o PT em vários municípios, bem como o rebaixamento programático em várias campanhas, acendem o sinal de alerta.

No âmbito da esquerda socialista, é preciso notar também o enfraquecimento do PSTU, que perdeu muito espaço em praticamente todas as cidades em que teve candidatos. A recusa em construir a frente de esquerda e uma política deslocada da realidade explica o resultado desastroso.

Eleições e a luta de classes
As eleições expressam de modo distorcido a correlação de força entre as classes sociais. A contabilidade dos votos, a análise dos vencedores e vencidos, o diagnóstico dos movimentos das forças partidárias são importante para a avaliação da dinâmica política do país. Porém, é nas ruas e nas greves o espaço central para o desenrolar do confronto de classes. Nas eleições, a burguesia controla o jogo. Nas lutas, é onde ocorrem os embates decisivos.

É tempo de preparar a resistência, e com urgência. Nesse mês, Temer quer aprovar a PEC 241 que congela os gastos sociais e apresentar a Reforma da Previdência. O governo busca também avançar na privatização da Petrobras e na retirada de direitos trabalhistas.

Os inimigos estão decididos e organizados para avançar sobre os nossos direitos. Mas, a classe trabalhadora tem reservas de força. A máxima unidade de ação para enfrentar e derrotar a ofensiva da direita deve guiar a esquerda no próximo período.

Na foto: Freixo comemora com milhares de ativistas na Lapa, RJ. Dória, PSDB., comemora com seus correligionários em SP.