Por: Baiano, metalúrgico de Belo Horizonte, MG
Trabalhava em uma fábrica multinacional, que vinha tentando reduzir os benefícios com a desculpa de que não estavam conseguindo concorrer com as empresas chinesas. A cada três meses a empresa fazia uma reunião com todos os funcionários para informar a situação em que se encontrava.
Apesar dos números mostrarem que a empresa caminhava bem, sempre buscavam demonstrar o contrário. Seguiam à risca o pensamento dos sindicatos dos empregadores, que queriam a todo custo reduzir os nossos direitos para o padrão China de custo de mão de obra. Como percebi essa contradição, me candidatei à comissão de PLR e fui o membro mais votado. Após duas reuniões da comissão, expus minha opinião e de vários colegas que me elegeram, questionando essa visão de que as coisas iam mal. Antes da próxima reunião fui demitido. Era maio de 2014. Alguns meses depois, a crise chegou mais forte e foi então que percebi que tudo que eles estavam fazendo era a fim de se preparem para o pior que estava por vir.
Fiquei quase um ano sem conseguir emprego. Para sobreviver a esse período, gastei todo dinheiro da rescisão e FGTS, além do seguro desemprego. Quando meu dinheiro acabou e já iria completar um ano desempregado, enfim consegui outro emprego. Foi um grande alívio, e a esperança de um novo recomeço. Só que, como diz o ditado, “alegria de pobre dura pouco”, e após apenas cinco meses de trabalho, fui demitido novamente. O motivo? ‘Crise econômica’.
Nesse período, a crise tinha chegado forte em alguns setores e Dilma (PT) já tinha tomado várias medidas para favorecer os patrões e para piorar a vida dos trabalhadores. Mudou as regras do Seguro Desemprego, dificultando ainda mais a utilização do benefício para pessoas como eu que não podem recorrer ao seguro por causa do pouco tempo que ficou no último emprego. Em um momento em que deveria ter expandido os benefícios e direitos para beneficiar os trabalhadores e evitar as demissões, como implementar a estabilidade no emprego, Dilma criou o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), que diminuiu o salário de muitos trabalhadores e no fim das contas não impediu as demissões. Assim, a medida ficou mais parecida com um Programa de Proteção às Empresas.
Morava numa cidade do Interior de Minas Gerais. Durante dois meses procurei emprego, mas mesmo com a ajuda de amigos e a busca incessante, não consegui nenhum. Então, o jeito foi ir para a capital, com a imaginação de que haveria mais possibilidades. Doce ilusão. Fiz uma lista de empresas para entregar currículos e o que vi foram dezenas delas fechadas. Tudo piorou com o crime ambiental da Samarco e Vale, porque as empresas que prestavam serviços para eles, ou fecharam, ou demitiram muita gente, inclusive amigos e conhecidos.
Nesse quase um ano desempregado, fiz de tudo, tive que me virar nos trinta, fazendo vários bicos para sobreviver. Vi Temer (PMDB) e o Congresso fazerem uma manobra para chegar ao poder, dizendo que iriam fazer as coisas melhorarem. E só o que vejo é a situação onde quase doze milhões de brasileiros perderam os empregos e têm que aceitar de tudo para sobreviver, sejam trabalhos precários, terceirizados, temporários, ou informais. No setor metalúrgico em que trabalho, grandes empresas como Mercedes Benz, GM, Volks, Vallourec/Mannesmann, aplicaram demissões em massa, PDVs, lay-offs, paralisação de produção, transferências de plantas com demissões, entre outros. O índice de desemprego já chegou a 10,6%, com base nos dados do IBGE do dia 30 de agosto. No último ano, o número de pessoas desempregadas na indústria chegou a 1,3 milhão, sem contar os terceirizados e prestadores de serviços.
É assim que os ricos e governos querem impor trabalhos cada vez mais precários e com salários baixíssimos. E se está tão difícil para mim que sou homem, solteiro e branco, fico imaginando para os pais de família, para as mães, que cada vez mais têm sustentado famílias sozinhas. Para os negros, para os quais geralmente sobram os piores empregos e os gays, as lésbicas e as trans, que têm mais dificuldades de serem selecionados por causa do preconceito. Por isso, sou solidário e me enxergo em todos os trabalhadores novos e velhos, homens e mulheres, negros, LGBT, nordestinos, imigrantes que estão passando todas as dificuldades por conta do desemprego e do preço dos alimentos.
Muitos de nós trabalhadores temos assistido meio de longe toda essa briga lá em cima pelo governo e de certo modo percebemos que aquela disputa não nos representa, porque são os interesses deles que estão em jogo. Só que essa disputa lá em cima determina se iremos continuar, ou não, nessa situação de desemprego e dificuldades de sobreviver. A criação de novos empregos, melhorias nas condições de vida só serão possíveis se derrotarmos o governo de Temer e o Congresso que quer jogar nas nossas costas, com várias medidas que retiram direitos, as contas da crise que eles criaram por causa de egoísmo e ganância. Ter mais empregos e direitos depende de impedir que Temer e o Congresso apliquem os ataques que chamamos de ‘pacote de maldades’.
Por isso, além de entregar currículos temos que fazer paralisações, greves e manifestações para derrotar nas ruas o governo de Temer e o Congresso, que são os paus mandados dos ricos e patrões que nos exploram e oprimem todos os dias.
Foto: SindMetalsjc
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