Por: Israel Marques*
“[…] no meio do caminho da educação havia uma pedra
E havia uma pedra no meio do caminho”
(Criolo – Duas de Cinco)
Terça-feira, 6 de fevereiro de 2018: o dia em que me matriculei em uma universidade pública
A priori, alguns podem pensar que é algo comum para um jovem de 18 anos. Só alguns, muito poucos. Uma esmagadora parcela da população brasileira não possui o direito de tratar esse fato como algo comum, pois sequer possui o ensino fundamental completo, quem dirá saber o que é chegar a um processo seletivo do Ensino Superior, que possui mais de 8 milhões de estudantes, dos quais apenas quase 2 milhões estudam em universidades públicas (segundo o MEC) – isso tudo em um universo de mais de 200 milhões de habitantes.
Historicamente, as elites brasileiras detiveram as vagas das melhores universidades do país, deixando para a maior parte da população, isto é, as camadas mais pobres, a ausência/falência da educação. Enraizou-se no Brasil a hegemonia de uma cultura educacional elitista, perpetuando relações sociais baseadas no preconceito, na exploração, na desigualdade, etc. Por conta disso tudo, em 2017, existiam 12,9 milhões de analfabetos no país, segundo o IBGE; o mesmo instituto relatou no mesmo ano que 52% da população tinha apenas o ensino fundamental completo, escolaridade que é insuficiente para sobreviver em um país que exige profissões com boas escolaridades e que mesmo assim possui um baixo salário.
De fato, o governo petista, com seu programa “democrático popular” (PDP), conseguiu consolidar projetos que possibilitou para muitos jovens a entrada em uma universidade pública e gratuita – local que na maior parte da história pertenceu à elite -, mudando a realidade de muitas famílias brasileiras. Infelizmente, essa já realidade não chega a todos. A educação básica pública no Brasil é precária e sucateada (como sempre foi), fazendo com que milhões de crianças e adolescentes abandonem a escola e escolham as subalternativas, perenizando os dados já citados: analfabetismo, exploração, desigualdade, violência, etc.
Com efeito, para tentar mudar a situação da educação do país e também para se contrapor ao PDP do governo do PT, o governo golpista de Michel Temer usou no seu pacote de reformas a Reforma do Ensino Médio, que é um proposital trabalho de enxugar gelo. A tal reforma nada muda a situação escolar, pelo contrário, faz com que muitos jovens enxerguem mais distante o sonho do Ensino Superior. A falta de verbas, a péssima estrutura e um plano educacional falido de nada irão servir para uma mudança no plano dessas ideias. A reforma só apresenta os interesses dos empresários: mão-de-obra e exército de reserva, pois está claro na reforma a modalidade do ensino técnico. Ora, estudar em tempo integral no ensino técnico, não se preparando para os vestibulares, é óbvio que deixa milhões de estudantes longe do ensino superior, restando apenas o árduo trabalho da também Reforma Trabalhista.
Me resta agora, sendo jovem de uma geração que ocupou escolas e também universidades, que participou de duas greves gerais e que se preocupa com as causas sociais, lutar por uma educação pública e gratuita voltada para as camadas populares. Acredito que a organização popular é extremamente importante em momentos de retirada de direitos como o qual vivemos. A inserção na política e nos debates que nos interessam é essencial. Nosso dever é retirar do meio do caminho as pedras que impedem as nossas conquistas e os nosso direitos.
*Israel Marques é recém aprovado na Universidade Federal do Ceará, ex-estudante de escola pública e ocupou sua escola em 2015, quando então tornou-se militante da Nova Organização Socialista.
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