Carla Gonzalez Aranda, filha de uma liderança LGBTfóbica do Chile, anunciou publicamente, em coletiva de imprensa em 28 de novembro, que entrará com processo judicial para mudança de seu nome e sexo no registro civil. A mãe, Marcela Aranda, liderou a caravana nacional do “Ônibus da Liberdade” contra a suposta “ideologia de gênero”.
A jovem de 19 declarou que não tem contato com sua família há três anos e que se sentiu discriminada pelo movimento liderado por sua mãe.
A mãe antecipou a notícia
No dia anterior à coletiva de imprensa dada por Carla Aranda junto a representantes do Movilh, sem que o motivo da coletiva tivesse sido divulgado, foi a própria mãe de Carla, Marcela Aranda, que trouxe a decisão de sua filha a público. Através de sua conta no Facebook, ela criticou o Movilh que, “em um ato de completa desumanidade”, estava supostamente usando uma “situação pessoal e familiar para obter benefícios e vantagens diante de alguns debates que estão ocorrendo no país”.
Afirmou publicamente que ama seu filho (sic) incondicionalmente, e acusou o grupo de querer “a destruição íntima de uma pessoa que não pensa como eles”. Publicou ainda: “Reitero minha rejeição total do terrível uso midiático e desumano que o Movilh faz, como se um filho (sic) fosse um produto ou uma arma que pudesse ser usada. O uso de sua pessoa, imagem e intimidade é uma estratégia cruel e imoral que, para alcançar seus objetivos, não importa expor e prejudicar a vida de meu filho”.
A filha respondeu aos ataques
Na coletiva de imprensa, Carla confirmou ser filha de Aranda e afirmou que sua decisão foi feita apenas “para apoiar aqueles que estão passando por uma situação como esta”. Informou que não tem contato com a família há três anos e que não se recorda da última vez que viu sua mãe. Reafirmou que sua decisão não foi baseada na existência do ônibus e que foi uma decisão pessoal.
Com relação ao fato de sua mãe continuá-la tratando no masculino, afirmou: “Se ela quer mencionar-me dessa forma, é problema dela. Mas a forma como ela se refere a mim faz-me sentir muito mal.”
A campanha fundamentalista e a destruição das famílias
A caravana “Ônibus pela liberdade”, liderada por Marcela, viajou com as seguintes frases escritas em sua lateral: “Os meninos têm pênis. As meninas têm vulva. Que não te enganem”. Com isso, Marcela e seus apoiadores induzem as pessoas a acreditarem que meninas como a própria Carla não existem. Seriam, como eles dizem, uma mera “ideologia”. Além disso, desrespeita a própria identidade da filha. Não é surpresa que Carla, como muitas pessoas trans, tenha se afastado de sua família.
O problema que ocorreu com Carla não é isolado. A LGBTfobia que acabou por expulsá-la da convivência familiar é um problema endêmico, que faz com que milhões de LGBTQIs em todo o mundo abandonem suas famílias, sua escola, seu trabalho, ou mesmo são condenados à prisão, trabalhos forçados ou à morte. O que destrói essas famílias não é a existência de LGBTQIs como Carla, muito pelo contrário, é a recusa de pessoas como Marcela em aceitar conviver com as diferenças.
A existência de mulheres e de homens trans, ao contrário do que prega a caravana, não é uma “ideologia”, muito menos um “engano”, mas é um fato da vida, presente em toda e qualquer sociedade humana que existe ou já existiu.
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