Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

Em direção à grande marcha, segue firme o Povo Sem Medo de São Bernardo do Campo

Por: Elber Almeida, de São Bernardo do Campo

A mega ocupação Povo Sem Medo de São Bernardo do Campo já completou um mês e atingiu o número de mais de oito mil famílias cadastradas. Em estado de mobilização, realiza grandes atos que mostram a força da ocupação, além de eventos culturais como peças teatrais, apresentação de grupos de rap, entre outras. É, sem dúvida nenhuma, uma das maiores ocupações da América Latina no momento.

Numa cidade que faz parte do eixo industrial do país, profundamente afetado pela crise, o desemprego avassalador combina-se com um déficit habitacional gerado por décadas de políticas habitacionais absolutamente insuficientes e séculos de formação de uma nação baseada na desigualdade, inclusive de distribuição de terras. Neste contexto, o crescimento enorme de uma ocupação desse tipo é perfeitamente compreensível.

A constituição de 88 previa o direito à moradia como fundamental. Esse direito não é usufruído por milhões de brasileiros. Por outro lado, inúmeros imóveis são abandonados à especulação imobiliária, não cumprindo função social. Um exemplo disto é o terreno ocupado pelas famílias organizadas pelo MTST em São Bernardo do Campo, que já estava vazio há mais de 40 anos, enquanto dizia-se pertencer a uma construtora que deve mais de meio milhão de reais em impostos ao governo.

Apesar disto, a prefeitura municipal resolveu declarar-se inimiga das trabalhadoras e trabalhadores ocupantes, dizendo estar à disposição para a realização de uma ação de reintegração de posse e agindo em prol da imediata reintegração nas instâncias judiciais . Com muita mobilização, o movimento conseguiu arrancar a suspensão da reintegração até uma nova reunião de negociação.

O prefeito Orlando Morando, do PSDB, tem como objetivo garantir o que julga ser a segurança das famílias que habitam os condomínios do entorno. Uma parte de tais famílias é hostil à ocupação, tendo organizado atos contra esta. O ponto alto da tensão no local partiu de um tiro vindo de um dos prédios ao lado, que atingiu um trabalhador que estava na ocupação quando iniciava uma Batalha de MCs no local. A sede de sangue dos setores mais reacionários da sociedade se combina com a ação repressiva do Estado em defesa dos interesses dos ricos e poderosos, mesmo que devedores deste, em uma guerra contra o povo trabalhador, pobre e em sua maioria negro, o que fica especialmente evidente quando visualizamos os conflitos que giram e torno desta luta.

Apesar deste cenário, a Ocupação Povo Sem Medo de São Bernardo do Campo é uma nova injeção de ânimo para os lutadores de todos os cantos deste país, ao fazer uma luta tão intensa num contexto tão nebuloso em que os setores que pregam os retrocessos mais escabrosos, como a defesa de um novo golpe militar, começam a dar as caras cada vez mais. Sua proposta é intensificar as lutas, preparando um ato que será o maior em percurso da história do estado de São Paulo, saindo do coração de São Bernardo do Campo e indo até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, para cobrar posicionamentos do governador Geraldo Alckmin frente a esta questão.

Não é por acaso que artistas como Wagner Moura e Caetano Veloso começam a se posicionar publicamente a favor da ocupação. A história está sendo escrita por aqueles que alguns julgam só estar levantando lonas.

Vídeo

Foto: Reprodução Facebook | MTST

Marcado como:
mtst / povo sem medo