Já se encontra no prelo, pela Usina Editorial e em nova tradução de Boris Vargaftig, uma nova edição de Minha Vida, a magistral obra autobiográfica de Trotski. Abaixo, publicamos trechos da apresentação do livro, com detalhes de sua edição, para que o leitor tenha uma pequena ideia do conteúdo. O livro pode ser adquirido pelo site da editora.
Em 1986, Paulo Leminski escreveu um belíssimo ensaio biográfico sobre Trotski, denominado Leon Trotski – A paixão segundo a revolução. Nas primeiras linhas do primeiro capítulo, intitulado “Enquanto os mongóis não vêm”, o poeta curitibano escreveu: “Os artistas, dizem, vão mais fundo que os colecionadores de dados e datas. Se você quer entender a Rússia, não perca tempo lendo manuais de história. Comece logo lendo Os irmãos Karamazov, de Dostoievski”. A partir daí, Leminski descreve os fatos da Revolução Russa, a vida de Trotski, a liderança de Lenin, o papel de Stalin e o destino do povo russo em uma linha paralela à trama magistral de Dostoievski. A história da Rússia seria a história do embate de distintos princípios, representados pelos irmãos Aliocha, o russo místico, Ivan, o ocidentalista, Dmitri, o selvagem impulsivo, Smerdiakov, o servo oprimido e pelo velho Karamazov, o patriarca tirano. Que fato curioso e revelador! Leminski pretende prestar uma homenagem à genialidade de Dostoievski em representar o espírito humano, mas acaba revelando sua própria sensibilidade e aguda percepção. Evidentemente, essa visão da história russa como uma luta entre “princípios” não é nova e, claro, poderia ser objeto de muitas críticas. Mas no que diz respeito a Trotski, ele capta o essencial, e o introduz no próprio título do ensaio: paixão! (“Os artistas, dizem, vão mais fundo que os colecionadores de dados e datas…”). Em um simples título, Leminski foi mais fundo do que tantos historiadores!
Minha Vida é, também, um livro sobre paixão. Porque não é possível entender Trotski – o revolucionário, o escritor, o militar, o economista, o administrador – por fora desse sentimento tão humano, tão comum, em maior ou menor grau, a todos nós. Porque aliada à uma profunda compreensão racional do processo histórico, a paixão que ardeu no coração de Trotski o levou mais longe do que todos os outros revolucionários de sua geração, à exceção, talvez, de Lenin. Aquele que deseja uma biografia ou uma história imparcial, quimicamente pura, melhor fará em colocar o livro de Trotski de lado e tentar a sorte em uma obra de outro tipo. Como o próprio autor reconhece, esta autobiografia não é um retrato impassível de sua vida. É um capítulo dela. E a vida de Trotski, desde sua adesão à causa revolucionária, aos dezessete anos, até o último minuto, foi luta. Uma luta apaixonada.
Escrito em 1929, logo no início de seu terceiro exílio, Minha Vida é uma peça de defesa política de Trotski. A campanha de calúnias contra o “trotskismo” estava em seu auge na URSS, e era preciso contra-atacar. Porém, os fatos relatados, os documentos, os diálogos jamais foram contestados pela pesquisa histórica posterior. Trotski sabia que sua melhor defesa seria a simples e pura verdade, porque se defendia não somente perante aquelas acusações específicas, mas perante a história. E a história não perdoaria qualquer falsificação.
Isaac Deutscher, o mais importante biógrafo de Trotski até hoje disse sobre este livro:
“(…) após um exame minucioso e crítico, continuo achando que Minha Vida, de Trotski, é tão escrupulosamente verdadeiro quanto a mais verdadeira das obras desse tipo”.
A nova edição de Minha Vida destaca-se por uma grande quantidade de notas explicativas, capazes de fornecer ao leitor pouco familiarizado com o tema um quadro mais ou menos completo do movimento revolucionário russo e europeu do início do século 20. Quase todos os personagens e fatos históricos citados por Trotski no livro receberam notas de rodapé. O leitor que já conhece o ambiente político daquele período pode perfeitamente ignorar as notas e concentrar-se no texto de Trotski. Mas mesmo este leitor, ousamos crer, poderá encontrar interessantes referências nas notas especialmente produzidas para esta edição.
Aos completarem-se 100 anos da Revolução Russa, esperamos que este livro desperte em nossos leitores não apenas a sede de conhecimentos pelo fato mais importante da história do século 20, mas também o desejo de lutar para mudar o mundo. Ao escrever esta autobiografia, Trotski certamente tinha também esta dupla ambição. Nisso, não fazemos mais do que segui-lo. E com orgulho, porque não há ambição mais nobre.
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