Por Matheus Gomes, Colunista do Esquerda Online
Pensar o processo de formação das classes sociais no Brasil para fortalecer a elaboração de um projeto político capaz de incidir sobre a realidade difícil que enfrentamos. Esse foi o tema da segunda plenária de discussão programática entre o MAIS e a NOS em Porto Alegre, que ocorreu na noite de ontem (6) no auditório do SINDSPREV.
O debate apoiou-se nas notas programáticas elaboradas por Glória Trogo, Gabriel Casoni e Marcelo Badaró e foi apresentado pelo professor Shin Nishimura (NOS) e o operário e estudante de Direito Lucas Fogaça (MAIS).
A abertura instigou intervenções sobre temas diversos: os impactos da terceirização e a reestruturação produtiva sobre o dia-a-dia e a organização da classe; a centralidade da questão racial no programa dos marxistas brasileiros; o debate entorno ao papel político das distintas frações da classe trabalhadora; consciência, organização e a questão da saúde mental; os traços gerais da burguesia nacional e seu projeto político; como as reformas atuais impactam na morfologia da classe e etc.
Para ambas organizações trata-se do início de uma elaboração que parte dos debates travados ao longo das últimas décadas nos círculos acadêmicos e militantes, mas também busca conectar-se as elaborações atuais, afinal, como afirmou Shin, estamos analisando um “fenômeno social dinâmico”.
Um passo adiante na reorganização
O debate foi coordenado pelas professoras Martina Gomes (MAIS) e Marina Meneghel (NOS). Elas comentaram o andamento do processo de enlace. Segundo Marina, explorar a possibilidade de unificação significa um esforço para superar a dinâmica de divisão da esquerda socialista, por isso a necessidade dos debates estratégicos para não nos perdermos apenas em discussões táticas, como tem sido a regra entre a esquerda no último período. A importância da intervenção comum entre as duas organizações foi ressaltada por Martina, a luz do que já começa a ocorrer no funcionalismo público municipal e no movimento estudantil. Ativistas independentes também participaram do debate.
Fortalecendo a solidariedade de classe
Um momento importante da plenária foi o relato do professor Altemir Cozer, dirigente do MAIS e da CSP Conlutas que passou 30h preso após ação arbitrária da BM durante as mobilizações de 30 de junho.
A emboscada que prendeu Altemir atingiu quase vinte militantes da NOS, Alicerce e MAIS. Por mais de uma hora a BM disferiu xingamentos, agressões e ameaças a companheirada, que resistiu firme a tentativa de desmoralização.
Altemir relatou que ao sair do Presídio um policial perguntou, ironicamente, se ele pretendia seguir nos protestos. A resposta foi afirmativa e logo ele foi recebido na rua aos gritos de “protesto não é crime”. Mas a questão suscitou a sua reflexão na plenária: como resistir ao recrudescimento da repressão? Certamente a ação coletiva da juventude e dos trabalhadores é a forma de derrotar a mão pesada do Estado, como demonstraram as mobilizações de Junho de 2013 em seu primeiro momento. Mas estender os laços de solidariedade a todas e todos atingidos pela criminalização, seja nos movimentos sociais ou nas comunidades pobres que sofrem com a violência, também se faz necessário para que sigamos firmes e fortes. Ao final, os participantes tiraram uma foto erguendo os dizeres “Protesto não é crime”, para simbolizar a resistência. Os próximos debates devem ocorrer dentro de um mês.
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