Editorial 04 de abril
Novamente as notícias que vêm da Síria causam horror. Segundo as informações das agências de notícias e do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, 67 pessoas, entre elas 11 crianças, morreram após bombardeio aéreo na cidade de Khan Sheikhun, na província de Idlib, no Noroeste da Síria. Nesta cidade estão milhares de refugiados da vizinha cidade de Hama, expulsos pelos ataques das tropas de Assad.
Os responsáveis seriam aviões sírios ou russos, mais provavelmente os primeiros. O detalhe mais macabro ainda é que foram utilizados agentes químicos para tal, provavelmente gás sarin, como já fora feito em outras vezes pelo regime sírio em Ghouta, perto de Damasco, em agosto de 2013.
Dois depoimentos relatados pelo jornal The Guardian dão conta da dramática situação. Segundo Ahmad Tarakji, chefe da Sociedade Médica Sírio-Americana, que dá apoio a hospitais nas regiões controladas pela oposição, “este ataque mais recente fez com que dezenas de crianças morressem sufocadas enquanto dormiam. Isso deveria tocar todos os corações do mundo. Quanto tempo mais o mundo deixará de responder a esses crimes hediondos?”
Outro depoimento de Mohammed, médico de outro hospital em Idlib, relata que “ recebemos um incrível número de feridos, até agora mais de 200. Recebemos mais de vinte vítimas, a maior parte delas crianças, e duas delas estão na UTI em estão extremamente crítico”“.
Além disso, a capacidade de atendimento dos hospitais é muito pequena, pelos repetidos bombardeios realizados pelo regime.
Este fato não é isolado e precisa ser examinado no contexto posterior à queda de Allepo oriental e da posse de Trump.
Com a queda da segunda maior cidade da Síria em novembro, o regime de Assad ficou com as mãos mais livres para seguir reconquistando o restante do país com seus métodos sanguinários.
A nova administração americana resolveu deixar o manejo da situação da Síria, incluindo o regime de Assad, nas mãos da Rússia e seus aliados, exceto na região dominada pelo autodenominado Estado Islâmico (EI). O secretário de estado Tillerson deixou bem claro que a saída de Assad não era uma prioridade americana. Na verdade, é o que a administração Obama vinha fazendo, mas sem o declarar explicitamente.
E os resultados não se fizeram por esperar: o exército de Assad tem atacado com ainda maior violência os setores do país que ainda não controla, em particular em Ghouta, região próxima a Damasco e Idlib, onde se concentraram também os que conseguiram escapar ao cerco de Allepo.
Segundo as claras diretivas da nova administração americana, a prioridade máxima se tornou a derrota rápida do EI e dos grupos jihadistas, em particular a Al Qaeda. Os alvos mais importantes contra o EI são Mossul, a segunda cidade do Iraque, ocupada desde 2014 e Raqqa, considerada como sua capital na Síria.
As forças americanas estão se concentrando no apoio aéreo e logístico, com uma importante exceção na Síria, onde pela primeira vez na guerra civil síria, deslocaram tropas especiais para a cidade de Manbij, perto da fronteira com a Turquia, impedir os choques entre as forças do exército turco e os curdos do YPG (Unidades de Proteção Popular), que são as principais forças de ataque contra Raqqa.
A violência dos bombardeios aéreos já fez com que o mês de março tenha causado a morte de mais de 1 mil civis no Iraque segundo reporta a organização Airwars, como o que vitimou mais de 200 pessoas em Mossul no dia 17 de março, abrigados no porão de um único edifício. Segundo admitiram altos oficiais do exército iraquiano, o cerco total às duas cidades pelas tropas da coalização comandada pelos americanos fez com que os civis não possam escapar e há ainda um número indeterminado de centenas de milhares de civis em Mossul, além dos 300 mil refugiados nos arredores da cidade.
O cinismo das grandes potências ao ignorar os massacres que estão sendo realizados foi seguido nada menos que por Netanyhau, o carrasco que massacrou Gaza por repetidas vezes e a mantém cercada, que denunciou o ataque químico sírio. Sem falar na bárbara agressão da Arábia Saudita ao Iêmen que há mais de 2 anos causou mais de 7 mil mortos. Por todos os lados se repetem os bombardeios aéreos indiscriminados que matam civis e que causam ainda mais condições para gerar movimentos jihadistas como o EI. E o cerco de Mossul parece seguir nessa linha.
Não nos podemos nos deixar embrutecer pela repetição das tragédias, criadas pela ocupação americana no Iraque e no Afeganistão e pela sua extensa rede de aliados dos regimes ditatoriais e/ou fundamentalistas e sectários no Oriente Médio e no Norte da África. Esse é o caldo de cultivo para o surgimento e a proliferação dos grupos jihadistas, que procuram impor com métodos sanguinários a vigência da lei islâmica.
É preciso dar um basta! Nenhuma cidade pode ser bombardeada ou cercada, como Mossul, Allepo ou Gaza. Não haverá paz na Síria enquanto Assad e seu regime permanecerem no poder! Não poderá haver paz no Iraque e na Síria enquanto houver tropas imperialistas e das potências regionais ocupando-os!
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