Há uma possibilidade real de Lula vencer no 1° turno. Segundo pesquisa do Ipespe, do dia 20 de maio, na computação dos votos válidos, Lula teria 47,8%. Na pesquisa do DataFolha, publicada em 25 de maio, Lula está com 48% das intenções de voto, Bolsonaro com 27% e a soma desses 27% com todos os outros candidatos chega a 40%. Segundo essa mesma pesquisa, em votos válidos, Lula tem 54%. Isso seria uma vitória em 1° turno com certa folga.
Os dados da pesquisa espontânea confirmam a tendência de crescimento da candidatura petista: Lula subiu de 30 para 38% quando a pergunta é feita sem a indicação de candidatos. Tudo indica que Lula capitaliza eleitoralmente a indignação do povo brasileiro com a crise social marcada pela fome, miséria, desemprego e baixos salários.
Derrotar o negacionismo
Os bolsonaristas ou defensores da candidatura de Bolsonaro preferem negar a realidade e desacreditar os resultados dessas pesquisas. Uma prática negacionista, que ignora os métodos científicos. Neste caso é a negação aos métodos da ciência estatística, mas infelizmente, conhecemos bem o negacionismo com qualquer prática científica na condução dramática da pandemia que matou mais de 650 mil pessoas.
Esses dados são apontados por diferentes institutos de pesquisa e, há 4 anos, esses mesmos institutos indicavam a vitória de Bolsonaro. Portanto, o descrédito aos resultados obtidos só se explica pelo desespero para manter a tropa bolsonarista animada.
Derrotar o golpismo
A importância deste resultado reside no fato de que o atual presidente, e segundo colocado nas pesquisas, tem demonstrado todo tipo de disposição golpista. Desde o ano passado, realizou ações para criar uma narrativa que pudesse justificar “melar” a eleição em que provavelmente vai sair derrotado.
O melhor cenário eleitoral para que esse discurso golpista ganhe força é uma disputa apertada resolvida em 2° turno. Para Bolsonaro melar uma eleição em 1° turno, ele precisaria melar o conjunto do processo: a eleição de governadores, senadores e deputados. Isso, sem dúvida, seria um movimento mais difícil para os golpistas.
Além disso, uma derrota acachapante, em 1° turno, desmoraliza qualquer tentativa nesse sentido. Portanto, tudo o que for possível ser feito para que uma derrota acachapante de Bolsonaro aconteça, precisamos fazer.
Terceira ou quarta via, de direita ou esquerda, pode cumprir um papel nefasto
A eleição de 2022 é diferente de qualquer outra, desde a redemocratização do país. Está em jogo dois grandes temas. O primeiro deles é evitar qualquer intento golpista do atual presidente e das forças armadas, que já demonstraram das mais diversas formas este objetivo. A recente publicação de um documento militar com um projeto de país até 2035, aonde visa acabar com o SUS, é uma clara demonstração do ressentimento militar com as conquistas da Constituição de 1988, que foi promulgada sob o discurso de “ódio e nojo à ditadura”.
O segundo grande tema que está em jogo é tirar do centro do poder político do país um governo que não mede esforços para destruir a vida do povo brasileiro, e não mede esforços para exterminar os direitos democráticos que permitem as reações populares às suas medidas.
Com isso, a presente disputa eleitoral está estruturada como um 2° turno já no 1° turno. É verdade que é muito importante o debate programático para as mudanças no Brasil, e devemos fazê-lo. Mas, não há como pensar uma intervenção eleitoral sem analisar o movimento que os eleitores estão fazendo. E este movimento se mostra categórico: uma escolha entre dois candidatos e uma clara opção sobre o candidato que melhor dialoga com o drama social que toma conta do Brasil.
Portanto, se de um lado precisamos apresentar propostas programáticas efetivas para enfrentar o desemprego, a insegurança alimentar, a inflação, etc, de outro, precisamos fazer um movimento de voto condizente com a característica da disputa.
Neste sentido, qualquer tática que desconsidere isso, corre o risco de ajudar o movimento golpista de Bolsonaro, mesmo que sem intenção. Estamos em uma situação que mesmo algumas dezenas de milhares de votos podem fazer a diferença.
Há quem admita o voto em Lula apenas em 2° turno, em função de críticas programáticas e às alianças feitas. Concordamos com essas críticas, porém, o voto em 2° turno amarga a mesma contradição entre os objetivos programáticos e o voto. Porque se as alianças justificam não votar em Lula, então também não deveria haver voto nem no 2° turno.
Mas, a maior gravidade dessa posição é que ela se configura uma torcida velada (ou não intencional) para que o 2° turno oficial aconteça. O que dá mais condições para a ação golpista que planejam os bolsonaristas.
A vitória de Lula não vai resolver todos os problemas. Mas, sem dúvida, vai colocar os trabalhadores, o povo pobre e os movimentos sociais em melhores condições para lutar. Nossos sonhos não cabem nas urnas, mas o pesadelo pode sair delas.
EDITORIAL
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