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OPRESSÕES

E se Bolsonaro fosse gay?

Lucas Brito, de Belo Horizonte, MG
Bolsonaro, jovem, usa roupa de formatura, com botões dourados e brasões.
reprodução / Arquivo pessoal

Jair Bolsonaro, em sua formação militar.

Quem entrou no começo dessa semana no Twitter deve ter se deparado com o termo “noivinha do Aristides” no trending topics Quase todo mundo entrou na “brincadeira” cujo alvo era Jair Bolsonaro. O termo teria sido usado por uma mulher para xingar o presidente, no último sábado (27), enquanto Bolsonaro acenava para motoristas na Via Dutra (RJ). Bolsonaro, autoritário como é, mandou prender a tal mulher. A senhora foi detida e em seguida liberada.

Diante do caso, a internet entrou em polvorosa. Começou uma especulação a plenos pulmões (ou melhor, dedos) sobre qual teria sido o motivo de o presidente ter ficado especialmente irritado em ser chamado de “noivinha do Aristides”.

Uma conhecida jornalista (Barbara Gancio) chegou a fazer a seguinte chacota da atitude de Jair: “como ela é simplória e descontrolada, né? A mulher gritou “Noivinha do Aristides”e a presidenta tirou logo a rosca assada do forno na frente do Brasil inteiro”.

“Ele tá chateadA…”

Assim dizia outro comentário no Twitter, deixando bem evidente o uso do chateadA – assim mesmo, no feminino e em caixa alta – para destacar o descrédito sobre a masculinidade de Bolsonaro e fazer troça da sua sexualidade.

Mas quem é esse tal de Aristides? Segundo também a internet, Aristides foi instrutor de judô de Bolsonaro na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras).

A repetição do termo “noivinha”, portanto, foi utilizado – inclusive por muitas figuras públicas da esquerda – para sugerir que o presidente tinha uma relação amorosa com Aristides. Ou seja, que ele, então, não passa de um enrustido. Em resumo: um xingamento homofóbico.

“De boas intenções o inferno está cheio”

Assim diz o ditado. Muita gente entrou na “brincadeira” com a melhor das intenções: evidenciar a hipotética contradição de Bolsonaro, desmascará-lo.

É sabido que Jair é um agitador homofóbico, além de ser machista, racista e tudo o que há de ruim nesse mundo. Entretanto, vale usar homofobia para combater homofóbicos? A homofobia, quando utilizada contra qualquer um só pode dar a vitória à própria homofobia, endossando o preconceito.

A utilização de palavras no feminino, imagens que colocaram um véu de noiva em Bolsonaro etc., são de conteúdo clássico da homofobia, quando se trata homens no feminino como forma de menosprezá-los.

A homofobia e o machismo têm a mesma matriz. Nós homens gays somos equiparados ao conceito machista de que as mulheres são menos racionais, predispostas, portanto, a fazer barracos, descontrolas… “uuuuui, a bicha tá nervosa”. Não é assim?

Já usaram isso antes e não deu certo

Essa não é a primeira vez que a esquerda tenta ridicularizar agitadores fascistas por sua suposta homossexualidade. Foi assim também com Hitler e sua relação com Ernest Röhm, que era um homossexual assumido e comandante das Sturmabteilung (SA), antecessora da famosa SS (Schutzstaffel), em português “Tropa de Proteção”.

No período da ascensão do nazi-fascismo na Alemanha, a social-democracia buscou desqualificar Hitler e seu movimento com base em ofensas homofóbicas. Isso só fortaleceu a própria homofobia, depois utilizada para justificar milhares de casos de tortura e mortes em campos de concentração contra homossexuais.

Vira e mexe há o mesmo tipo de especulação sobre um dos filhos do presidente, o Carlos Bolsonaro. No passado, também se tentou desmoralizar Bolsonaro por ser apoiado por Alexandre Frota, ex-ator pornô que já encenou filmes gays.

A ofensiva conservadora avançou fortemente na sociedade. A esquerda não é imune a isso. Entre nós, também há retrocessos.

Tentar ridicularizar o presidente neofascista por sua suposta homossexualidade reforça a homofobia. Tratar Bolsonaro no feminino para denunciar seu descontrole diante do xingamento reforça o machismo. Buscar disseminar crises na base de Bolsonaro por ele ser supostamente gay reforça que esse seria um problema do presidente.

Bolsonaro é neofascista sem escrúpulos, um arruaceiro, um miliciano, um escroque na cadeira da Presidência. Se Bolsonaro fosse gay essa seria a melhor e possivelmente sua única boa característica.

 

VÍDEO
Assista o comentário da covereadora Carolina Iara

 

 

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