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BRASIL

Banco pressiona para que cineasta altere nome de filme sobre Prédio da Caixa, em Niterói

Documentário estará disponível nas redes sociais no dia 03 de setembro

da redação
Divulgação / Amanda Lebeis

Dois anos após o despejo de centenas de famílias do Prédio da Caixa, no centro de Niterói, o cineasta Arthur Moura decidiu recolher o testemunho de ex-moradores do edifício sobre a vida após a expulsão de suas casas. O prédio foi desocupado em 07 de junho de 2019, por conta de riscos em sua estrutura, e centenas de pessoas foram jogadas na rua, sem acesso a moradia. A Prefeitura de Niterói concedeu apenas auxílio-aluguel, hoje em menos de R$ 800 e vagas em abrigos públicos. Algumas pessoas não tiveram acesso ao benefício, por não conseguir reunir a documentação necessária. Foi o caso de Sueli dos Santos, 52 anos, que morreu na calçada da Avenida Amaral Peixoto, onde fica o prédio, vítima de uma pneumonia em fevereiro de 2020, sem ter acesso aos seus bens, presos no prédio – lacrado desde o dia do despejo.

Enquanto ia sendo produzido, registros dos depoimentos iam sendo compartilhados nas redes sociais, assim como o cartaz oficial do filme. A movimentação na internet parece ter chamado a atenção da Caixa Econômica Federal, que, no dia 05 de agosto, enviou uma notificação extrajudicial ao diretor para que o nome do filme fosse alterado, de modo a que o nome do banco não constasse no título. O pedido dos advogados pede pára que seja suprimido “IMEDIATAMENTE o nome da CAIXA do título do filme, bem como dos vídeos já existentes na rede social “Youtube” ou em quaisquer outras redes sociais ou veículos de comunicação, abstendo-se de utilizá-lo em futuros filmes ou vídeos, a fim de preservar o bom nome da Caixa Econômica Federal e fazer cessar o dano à imagem resultante de sua utilização indevida”.

Segundo o diretor do filme, Arthur Moura, o argumento do banco “não convence nem a criança mais ingênua”. De fato, a notificação é absurda, pois este é o nome pelo qual o prédio de 11 andares e mais de 300 apartamentos, é conhecido pela população. Uma busca simples na internet mostra dezenas de reportagens em jornais e TVs referindo-se desta forma ao Edifício Nossa Senhora da Conceição, por ficar acima de uma grande agência e ao lado da superintendência do banco. Não há, obviamente, intenção de responsabilizar o banco ou de fazer parecer que a Caixa é dona do prédio, ou seja, de atingir a imagem como argumentam os advogados do banco.

Segundo Arthur, o objetivo é contar uma história sobre um grave problema social, que segue sem solução, e sobre as histórias de vida das pessoas que ali viviam. “Em 2019, observando essa grave situação, comecei a registrar o que estava acontecendo já com a intenção de produzir futuramente um documentário. (…) O cinema dá perenidade às lutas sociais e não deixa a memória se apagar”, conta, em texto divulgado em suas redes sociais.

A ação judicial do banco, que pode derivar para uma ação judicial com custos ao cineasta, contrasta com o caráter independente e voluntário do projeto. Em depoimento ao site Eu Rio!, o cineasta destaca que o filme foi todo feito com recursos próprios. “Até o momento gastamos apenas o que tínhamos, ou seja, algo em torno de pouco mais de mil reais, claro que sem contar com equipamentos que já pertencem à produtora. Não conseguimos qualquer recurso, o dinheiro investido foi próprio”

O documentário foi feito com trechos de 15 depoimentos, a maioria de ex-moradores(as) do prédio, de cenas gravadas recentemente, após o acesso ter sido finalmente liberado para que os moradores recolhessem seus pertences, e imagens do dia da desocupação, com o forte esquema de repressão montado pela polícia militar, em uma ação com a Justiça, Ministério Público e Prefeitura Municipal. As imagens foram cedidas por assessoras(es) dos mandatos do PSOL (Renatinho, então presidente da Comissão de Direitos Humanos, e Paulo Eduardo Gomes), como a jornalista Paula Máiran e Cynthia Gorhan, pela ex-síndica do prédio, Lorena Gaia, e de ativistas do Fórum de Luta por Moradia de Niterói.

O filme, com cerca de uma hora de duração, estará liberado no dia 03 de setembro, nas redes sociais da produtora 202 Filmes. Uma sessão de pré-estreia está sendo organizada para o dia 02, em plataformas como o Esquerda Online, seguido de um debate com o diretor do filme e convidados(as). Durante a sessão, será incentivada a doação financeira para cobrir as despesas com a produção do documentário, que podem ser feitas através do pix: 10387038752 .

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