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EDITORIAL

Derrotar o golpismo retomando as ruas pelo Fora Bolsonaro

Editorial
EOL

Quase mil vidas por dia ainda são ceifadas pela pandemia no Brasil. O desemprego é recorde. A escalada da inflação corrói os salários e a fome bate na porta de milhões de famílias. A estiagem prolongada seca os rios e pode faltar energia elétrica em breve. Mas o assunto que dominou o debate político nas últimas semanas foi a campanha golpista de Bolsonaro, que inventou a “cloroquina” das eleições — o voto impresso contra a suposta fraude da urna eletrônica. Um assunto que passa bem longe das preocupações reais da grande maioria do povo.

Como se sabe, Bolsonaro tem rejeição recorde, perdendo, progressivamente, apoio em todas as classes sociais. Se as eleições fossem hoje, Lula venceria no 1o turno. As manifestações de rua da esquerda são muito maiores do que as bolsonaristas. Nem mesmo na Câmara dos Deputados, na qual tem uma base majoritária, o governo conseguiu aprovar a PEC do voto impresso, ainda que sua proposta tenha obtido uma votação considerável entre os deputados, superando a oposição, mas não alcançando a maioria qualificada de 3/5 da casa. Mas com ameaças fascistas reiteradas, pose de valentão ao lado de generais velhacos, desfile de tanques fumacentos e aliança sinistra com o centrão, Bolsonaro consegue ainda pautar a política e semear medo.

A estratégia é mostrar força em um momento de relativa fraqueza, invertendo a pauta política do país. Saem de cena a CPI da Covid, as denúncias de corrupção na compra de vacinas, as mazelas sociais e econômicas e a tragédia da pandemia, para subir ao palco o fantasma do golpe, as ameaças autoritárias e as bravatas tresloucadas do miliciano em suas “lives” e declarações no “cercadinho”.

Mas o objetivo vai além de pautar a política com uma campanha golpista. A intenção é também — e principalmente — preparar sua base social mais radicalizada para o confronto político-eleitoral que se aproxima. Bolsonaro quer, além de evitar a abertura de um processo de impeachment, tumultuar o processo democrático, desestabilizando as eleições do ano que vem. Em bom português, ele tentará “melar” as eleições, caso se confirme o cenário mais provável de derrota nas urnas.

É preciso levar a sério Bolsonaro. Suas ameaças são graves, ainda que ele não tenha força política e social para efetivamente aplicar um assalto fascista ao poder nesse momento. Não estamos diante de um governo “normal”. Estamos perante um governo de extrema direita liderado por um fascista, que não aceitará, sem reação, a abertura de um processo de impeachment e, muito menos, admitirá a derrota eleitoral para Lula, caso ela se confirme. Bolsonaro está enfraquecido, mas ainda tem apoio de um setor de massas e conta com suporte militar. Portanto, é preciso combatê-lo com seriedade e firmeza. Subestimar o inimigo é um grave erro.

Ao mesmo tempo, é necessário não exagerar as forças do fascismo, não deixar se intimidar por suas ameaças e não ficar paralisado. Pois isso é justamente o que ele quer: provocar o terror. A maioria do povo brasileiro está contra esse governo. Entre os trabalhadores, os mais jovens, os negros e as mulheres, essa maioria social é ainda mais expressiva. A forma mais eficaz para derrotar Bolsonaro é organizar a luta da classe trabalhadora e da juventude por suas demandas mais sentidas, fortalecendo e ampliando a Campanha pelo Fora Bolsonaro.

Retomar a ofensiva política: Fora Bolsonaro; impeachment, já!

A esquerda tem que voltar à carga pautando o debate político com aquilo que mais interessa ao povo trabalhador: combate à covid, aceleração da vacinação, volta segura às escolas e universidades, geração de empregos, garantia da renda mínima, valorização dos salários, proteção dos direitos trabalhistas, controle da inflação, luta contra a PEC 32 que destrói o serviço público, defesa das estatais ameaçadas de privatização (Correios, Eletrobrás, Petrobrás), proteção do meio ambiente e das terras indígenas, entre outros pontos.

A unidade concreta com setores da direita e das instituições do Estado (como o STF e a maioria do Senado) em batalhas contra ações e pretensões autoritárias de Bolsonaro é necessária e bem-vinda. Mas, ao mesmo tempo, é preciso denunciar que essa direita e o conjunto da burguesia se aliam ao governo na aprovação de reformas neoliberais, retirada de direitos sociais e trabalhistas e privatizações, medidas nefastas que atingem a classe trabalhadora e o povo pobre em plena pandemia.

Enquanto Bolsonaro joga no ataque para se defender, Lula e o PT parecem esperar tranquilamente as eleições de 2022, subestimando o perigo. Ainda não entenderam que Bolsonaro prepara uma guerra suja e truculenta, e não apenas uma disputa eleitoral. A vitória eleitoral daqui um ano dependerá em grande medida da luta que será travada agora. A consolidação e a ampliação de uma maioria social contra Bolsonaro, isolando cada vez mais o golpismo, é essencial. A disputa das ruas jogará um papel chave nisso. Em síntese, é preciso derrotar Bolsonaro nas eleições, se não for possível derrubá-lo antes, mas sem a força das ruas essa possível vitória eleitoral estará perigosamente ameaçada.

Como corretamente alerta o PSOL, o bolsonarismo não abrirá mão do embate no terreno da ação direta. Medirá forças nas ruas. Tanto é, que novos atos da extrema direita já estão marcados. A esquerda precisa fortalecer as manifestações pelo Fora Bolsonaro, mantendo e ampliando a maioria social que existe contra o governo. Lula precisa se engajar diretamente nessa batalha ativa contra o fascismo, convocando o povo trabalhador para a luta. Afinal, para vencer a ameaça fascista, não basta ter maioria nas eleições, é preciso — sobretudo — força de combate nas ruas.

Em 18 de agosto, haverá um dia nacional de paralisação do funcionalismo público e de ações de outras categorias de trabalhadores. Para 07 de setembro, está previsto um novo grande ato nacional pelo Fora Bolsonaro. Não deixemos nos intimidar pelo golpismo de Bolsonaro. Vamos à luta para derrubar esse governo genocida