Pular para o conteúdo
OPRESSÕES

Malcolm X em seis atos: A luta racial e o colonialismo

Leia a quarta parte da série sobre Malcolm X

Gabriel Santos*, de Maceió, AL
Ato 4 - Malcolm discursando

Após a saída da Nação, Malcolm X faz uma série de discursos pelo país, um dos seus mais famosos, “o voto ou a bala”, foi feito em 3 de abril, na Igreja Metodista Cory de Cleveland, nele X diz: “Não sou anti-branco, sou anti-exploração e anti-opressão.” Dias depois, em Palm Gardens, Nova York, em uma nova palestra, desta vez organizada por um grupo do Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP), partido trotskista norte-americano, Malcolm X defenderia a revolução cubana e chinesa. Afirmava que “todos os países que hoje emergem do capitalismo se voltam para o socialismo, não acredito que seja por acaso”. Colocando ainda que os principais países que avançaram na luta antirracista tinham como filosofia política o socialismo. 

Malcolm X passava a identificar a luta racial nos Estados Unidos não de modo isolado, mas como parte de um processo de luta que acontecia globalmente. O conflito racial não era um problema local, nem uma questão de brancos e negros. Para X era: “Incorreto classificar a revolta do negro como sendo simplesmente um conflito racial, ou somente como um problema norte-americano. Ao invés disso, estamos vendo uma rebelião global de oprimidos contra opressores, os explorados contra os exploradores”. 

Não existe capitalismo sem racismo.

X colocava a revolta negra que acontecia no coração do Império em um processo ligado a fora de suas fronteiras, em especial aos processos revolucionários anti-coloniais que aconteciam na África: “Você pode pegar o exemplo do socialismo Africano. Muito dos intelectuais africanos que analisaram a via do socialismo começaram a ver onde os Africanos podem usar a forma do socialismo e onde ela se encaixa no contexto Africano; onde a forma que é usada num país europeu pode ser boa para um particular país europeu, mas não pode ser utilizada de bom modo num contexto Africano.” 

Os negros norte-americanos não eram pra Malcolm um grupo social isolado em sua fronteira nacional, mas parte de um movimento mundial: “Estamos vivendo uma Era de revolução, e a revolta do negro estadunidense faz parte da rebelião contra a opressão e o colonialismo que caracterizaram essa Era”. 

Podemos dizer que a evolução do pensamento de Malcolm X partiu do islamismo político e do nacionalismo negro, e, cada vez mais, seu antirracismo foi se tornando a principal potência de um anticapitalismo. Malcolm X conseguiu identificar a interligação entre imperialismo, racismo e capitalismo, desenvolvendo uma das frases mais importantes tanto para o movimento antirracista quanto para os anticapitalistas: “A maioria dos países de poder colonial eram países capitalistas e o último bastião do capitalismo hoje em dia é a América, e é impossível para uma pessoa acreditar no capitalismo e não acreditar no racismo. Não existe capitalismo sem racismo.” 

*Educador popular e ativista do Afronte!

 

NO PRÓXIMO TEXTO (24/05)
Ato 5: Uma nota sobre autodefesa e auto organização do povo negro