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OPRESSÕES

Malcolm X em seis atos: O Hajj, o retorno e a crítica ao capitalismo

Leia a terceira parte da série sobre Malcolm X

Gabriel Santos*, de Maceió, AL
Malcolm em seis atos - Ato 3. Foto mostra ele conversando com uma mulher negra, tendo ao fundo uma pirâmide
“O sistema não pode produzir liberdade para os afro-americanos. É algo impossível para este sistema, este sistema econômico, este sistema político, este sistema social, este próprio sistema”.
Malcolm X 

Após deixar a Nação do Islã, Malcolm X realiza o Hajj, que consiste na peregrinação a cidade sagrada de Meca, e isso marca uma ponto de ruptura em seu pensamento. Malcolm X muda seu nome para Al Hajj Malik Al-Habazz, e deixa de lado as ideias da NoI, passando a ver a questão racial cada vez mais como um problema relacionado à estrutura social.

Malcolm X muda seu nome para Al Hajj Malik Al-Habazz, e deixa de lado as ideias da NoI, passando a ver a questão racial cada vez mais como um problema relacionado à estrutura social.

“Durante os últimos onze dias aqui no mundo muçulmano, eu tenho comido do mesmo prato, bebido do mesmo copo, e dormido no mesmo tapete – enquanto oro para o mesmo Deus – com irmãos muçulmanos, cujos olhos eram os mais azuis dos azuis, cujo cabelo era o mais louro dos louros, e cuja pele era a mais branca das brancas. E nas palavras e nas ações e nos atos dos muçulmanos brancos, eu senti a mesma sinceridade que senti entre os muçulmanos negros africanos da Nigéria, Sudão e Gana.”

Antes do Hajj, Malcolm realizou uma série de viagens pela África, o que o aproximou da luta anticolonial e de organizações revolucionárias socialistas e pan-africanas. Em especial da luta do povo de Gana dirigida por N’Krumah, o que influencia sua leitura e visão de mundo, que gradualmente deixava de ser um conflito entre negros x brancos, passando a compreender o racismo estruturado a partir de uma ótica do colonialismo. O mesmo declararia: “Em minhas recentes viagens para países africanos e outros, fiquei impressionado com a importância de ter uma unidade de trabalho entre todos os povos preto, bem como com o branco”. 

Quando ele retorna aos Estados Unidos, funda a Organização de Unidade Afro-americana, uma organização que buscava atuar nas comunidades negras do país e eleitoralmente. Che Guevara chegou a anunciar presença em um evento do grupo, mas cancelou por conta de sua segurança e enviou uma mensagem que foi lida pelo próprio Malcolm. A reunião contava ainda com a presença de Abdul Rahman Muhammad Babu, um dirigente socialista e pan-africanista de Zanzibar. 

Apesar da ruptura com a Nação, é importante vermos o papel que a religião tem no desenvolvimento e nas ações tanto políticas quanto teóricas de Malcolm X. Para ele, a religião usada de forma correta tem o papel de desenvolver o que há de melhor no ser humano, o sentimento de unidade, a solidariedade e de luta contra as desigualdades. Além da religião ser um importante meio de desenvolver a autoestima e o sentimento de reconhecimento a uma comunidade, algo muito importante para o povo negro que teve seu passado e sua história negada.

*Gabriel Santos é educador popular em Maceió (AL) e ativista do Afronte!

 

NO PRÓXIMO TEXTO (23/05)

Ato 4: A luta racial e o colonialismo