Pular para o conteúdo
MUNDO

Deterioram as Relações EUA e China – Parte I

Mario Conte, Joinville (SC)

O ano de 2020 encontra-se longe de se encerrar, mas já ficou marcado, no cenário internacional, não apenas pela pandemia de Covid-19, mas também pela elevação de tom e deterioração das relações entre China e EUA.

O acirramento da disputa entre a China como potência ascendente na economia mundial e os EUA pela manutenção de sua hegemonia política e econômica tomaram a forma de retaliações recíprocas e mútuas acusações, a ponto de analistas internacionais, mídia e até mesmo diplomatas classificarem a série de eventos como uma nova guerra fria.

Após o início de uma guerra comercial em março de 2018 (https://esquerdaonline.com.br/2019/05/20/trump-volta-a-carga-e-retoma-guerra-comercial-com-a-china/), travada pela aplicação de tarifas a importações de produtos chineses a com sucessivas cargas de novas alíquotas (https://esquerdaonline.com.br/2019/05/20/trump-volta-a-carga-e-retoma-guerra-comercial-com-a-china/) e rodadas de negociações, em dezembro de 2019 os dois países anunciaram uma trégua. Ratificada em 15 de janeiro deste ano na capital norte-americana pela assinatura de um acordo, que representava na prática muito mais um armistício frágil e provisório a ser implementado por meio de fases. A primeira dessas fases não determinava o fim de nenhuma das tarifas em vigor, apenas determinava que novas tarifas não fossem impostas por nenhuma das partes.

Tal pacto, assinado por Trump e Liu He, o vice-primeiro-ministro chinês, obrigava a China a comprar dos EUA 200 bilhões de dólares (mais de 1 trilhão de reais) a mais em grãos, carne de porco, aviões, equipamento industrial, entre outros produtos. O volume de comércio entre os dois países se aproxima de 500 bilhões de dólares (cerca de 2,6 trilhões de reais) anuais, com a China acumulando um superávit de mais de 400 bilhões de dólares.

O acordo previa ainda medidas de proteção intelectual de produtos americanos. Os EUA acusam constantemente a China de práticas de espionagem e pirataria.

A arena tecnológica será decisiva para a geopolítica mundial, principalmente com o desenvolvimento da telefonia de quinta geração, o 5G (https://esquerdaonline.com.br/2019/06/08/relatos-de-uma-guerra-comercial-o-papel-estrategico-da-telefonia-5g/), por isso merecerá maior atenção nos próximos artigos em que trataremos as relações dos dois países.

O acordo provisório era uma inflexão necessária da política dos EUA, porque apesar da guerra comercial ter reduzido o déficit comercial americano em 18%, colocando-o em níveis semelhantes a 2016, um relatório do Federal Reserve de Nova York demonstrou como a guerra comercial impactou duramente as empresas norte-americanas. Segundo o relatório citado, foram as empresas dos EUA que tiveram que suportar praticamente todos os custos dessa guerra, ao serem obrigadas a substituir suas redes de abastecimento. Isso aumentou significativamente seus custos e reduziu consequentemente seus lucros e capacidade de investimento.

Segundo os cálculos do Federal Reserve, em dois anos de duração, a guerra comercial com a China reduziu a capitalização das empresas norte-americanas em 1,7 trilhões de dólares. Para efeito de comparação, o PIB brasileiro do último ano foi estimado em 1,869 trilhões de dólares e o argentino em 519,9 bilhões de dólares.

Neste primeiro artigo pretendemos apresentar o cenário dessa disputa, que se expressa no campo econômico, cambial, financeiro, tecnológico, militar, diplomático, refletindo tanto nas políticas externas de ambos os países, quanto na gestão de seus problemas e contradições domésticas.

Não detalharemos nenhum desses aspectos aqui. Mas tentaremos demonstrar que o conflito revela um complexo jogo de interesses por domínio de mercados, envolvendo os interesses privados de grandes empresas e empresários em ambos os lados. Não se trata de um embate entre democracia e ditadura, como retratam os maniqueísmos costumeiros da grande mídia. Muito menos de um embate da revolução proletária mundial e da contrarrevolução, como tentam demonstrar os simpatizantes da China.

Em maio de 2015 a China lançou seu plano estratégico de desenvolvimento capitalista, o Made in China 2025. Tal plano consistia em sair da condição de chão de fábrica do mundo, onde produzia produtos baratos, saltando para a de liderança mundial nas áreas de robótica, biotecnologia, comunicações e telefonia, em um prazo de dez anos, dos quais cinco já transcorreram.

O PIB Chinês, que em 2000 era de 1,21 trilhões de dólares, cresceu mais de onze vezes em dezoito anos, passando para 13,6 trilhões de dólares em 2018. A renda per capita chinesa que era de 959 dólares em 2000 cresceu mais de dez vezes no mesmo prazo, atingindo 9.760 dólares em 2018. Se por um lado esse movimento criou uma classe média gigante, também gerou altíssima concentração de renda. Em 1995, a parcela de 1% dos chineses mais ricos concentrava 15% da renda nacional. Vinte anos depois, em 2015, a concentração dobrou, saltando para 30%. Em 2006 a China tinha 16 bilionários. Em 2018 já eram 373, o que representava um a cada cinco do total mundial.

O PIB norte-americano chegou a pouco mais de 20 trilhões de dólares em 2018, representando um PIB per capita de 62.517 de dólares, o décimo maior do mundo. O país tinha 563 bilionários em 2016 e a maior concentração de renda nos 1% mais ricos do mundo, o que não mudou nem mesmo em 2017 e 2018, quando o desemprego no país atingiu o menor patamar histórico desde 1967. Essa concentração aumentou muito em meio à pandemia do coronavírus, totalizando um aumento de 565 bilhões de dólares a mais nas contas do super-ricos. Enquanto isso, a pandemia fez saltar a taxa de desemprego para 14,7% em abril deste ano, o maior patamar desde a segunda guerra mundial. O índice recuou para 10,2 % no mês de julho passado.

Ainda que a China em 2019 tenha apresentado o menor crescimento econômico dos últimos 29 anos, teve um crescimento de 6,1%. Muito superior ao índice apresentado pela economia norte-americana, que foi de 2,3% em 2019 e de 2,9% em 2018.

As muitas faces do senhor Trump

Donald Trump tenta aparecer como paladino da liberdade de expressão quando defende os manifestantes de Hong Kong ou os mulçumanos uigures de Xinjiang. Lembramos que o mesmo Trump restringiu a entrada de imigrantes originários de sete países com população islâmica em 2017 (Iraque, Iêmen, Síria, Irã, Sudão, Líbia e Somália) (https://g1.globo.com/mundo/noticia/nao-e-um-banimento-a-muculmanos-diz-trump-sobre-restricao-a-imigrantes-e-refugiados.ghtml) e deslocou a força federal para repressão aos manifestos antirracistas até mesmo para estados que não as requisitaram (https://veja.abril.com.br/mundo/acusado-de-violar-constituicao-trump-envia-tropas-federais-a-mais-cidades/ e https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/07/manifestantes-e-forcas-federais-voltam-a-se-enfrentar-em-portland.shtml).

Na convenção eleitoral do partido republicano, Trump reutilizou seu bordão de manter a lei e a ordem no território nacional, quando um novo ascenso de protestos antirracistas ocorre no país, desconsiderando a brutalidade policial no caso de sete disparos à queima roupa contra um cidadão negro desarmado, na prática estimulando o preconceito policial e a truculência policial (https://esquerdaonline.com.br/2020/08/24/policia-comete-mais-um-crime-racista-gerando-novos-protestos-nos-eua/ https://esquerdaonline.com.br/2020/08/27/trump-e-responsavel-pelo-crescimento-da-violencia-racista-nos-eua/ ).

Se a China vive inquestionavelmente um regime bonapartista muito fechado, Trump não representa nenhum contraponto democrático com seu comportamento autoritário, buscando constantemente fazer uso de todo dispositivo legal disponível tanto quanto burla a lei e se associa a pessoas com práticas ilegais, no intuito de impor suas decisões, tornando-se hoje um ponto de apoio à extrema direita mundial (https://esquerdaonline.com.br/2020/08/27/a-prisao-de-bannon-e-um-muro-no-meio-do-caminho-de-trump/ ).

É com grande desconfiança que devemos receber seus atos e declarações para o banimento dos aplicativos WeeChat e TikTok, como uma suposta preocupação com a preservação de dados dos cidadãos americanos. Coincide essa repentina decisão de proteção dos dados dos cidadãos com uma ação de jovens adeptos de flã cubes de K-Pop (estilo de música pop coreana) terem feito uso da plataforma TikTok para organizar um boicote ao seu comício, (https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/06/21/usuarios-do-tiktok-afirmam-que-inflaram-numero-de-presenca-em-comicio-de-trump.ghtml e https://brasil.elpais.com/internacional/2020-06-21/usuarios-do-tiktok-e-fas-do-k-pop-dizem-que-esvaziaram-o-comicio-de-trump.html), quando reservaram pela internet lugares que permaneceram vagos ante o não comparecimento. O boicote criou imagens de comício esvaziado para as mídias audiovisuais, em vez da expectativa de comício lotado anunciada pelo republicano. Este é um dos temas que desenvolveremos em um artigo a ser publicado em breve.

Os eventos

A pandemia impactou os EUA, com elevado número de mortos no país e um aumento no número de desempregados. A título de ilustração, o país tinha atingido em junho 25% dos infectados no mundo, sendo que detém apenas 4% da população mundial. A tática de Trump foi desviar os olhares de sua má gestão, levantando acusações sobre uma suposta origem do vírus em laboratórios chineses. Trump manteve as acusações mesmo após tal hipótese ter sido descartada por investigações do seu próprio serviço secreto. Ainda segundo Trump, a proliferação do vírus no mundo foi maior porque Pequim teria se esforçado mais em ocultar o problema do mundo que em erradicá-lo.

No campo militar, ambos os países trocam acusações sobre a soberania do mar do Sul da China. Pequim reivindica 80% dos cerca 3,5 milhões de quilômetros de águas. Tal reivindicação não possui reconhecimento de Washington, que se apoia nas reivindicações sobre as águas por Vietnã, Filipinas, Brunei, Malásia e Taiwan. Assim reativou o foro informal de defesa entre o Japão, Austrália, EUA e a Índia na região Ásia-Pacífico, chamado Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad) como mecanismo de pressão regional (ver mapa abaixo).

As águas do mar do sul da China são ricas em petróleo e gás natural, além de garantirem farta atividade pesqueira. A região é ainda estratégica rota comercial, comunicando a Ásia com o Oceano Índico e Golfo Pérsico. Abrange um terço do tráfego marítimo mundial, com um volume transportado do comércio mundial estimado em cinco trilhões de dólares. Fosse insuficiente, ainda abriga a frota de submarinos nucleares chineses. Tal elenco de fatores explica tanto as pretensões chinesas, quanto as intenções dos EUA em frustrá-las.

Em 13 de julho, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo declarou que “Os pedidos de Pequim sobre recursos em águas não costeiras ao longo da maior parte do mar do Sul da China são completamente ilegais, como o é sua campanha de coerções para controlá-los” (…) “O mundo não permitirá que Pequim trate o mar do Sul da China como seu império marítimo”.

Em resposta, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse que tal declaração minaria a paz e a estabilidade regional, uma vez que, segundo ele, a China controlava as ilhas no mar por milhares de anos. Os EUA alegam que só houve reivindicação formal em 1948, ignorando que o fechamento dos portos chineses no século XIX foram uma das imposições do Império britânico, após derrotar o Império Chinês na guerra do ópio.

Hoje a frota de Pequim possui 335 navios de guerra, enquanto a dos EUA possui cinquenta a menos, de acordo com um relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA (CRS, na sigla em inglês). O primeiro porta-aviões chinês data de 2012 e o segundo de 2019. Mas até 2022 deve dobrar esse número.

Há cerca de trinta anos, o gasto militar chinês representava pouco mais de 1% dos gastos mundiais, de acordo com cálculos do Instituto Internacional de Estocolmo para a Pesquisa da Paz (Sipri). Hoje os gastos chineses representam cerca de 14% dos gastos globais, enquanto o dos EUA equivalem a cerca de 36%. Em 2019, Trump elevou os gastos militares de seu país em 4,6% em relação ao ano anterior. A China anunciou através de seu primeiro-ministro, Li Keqiang, que seu investimento militar aumentará 6,6% no próximo ano.

Tais investimentos fazem com que a China dependa cada vez menos de importações, tendo desenvolvido uma indústria armamentista e naval de primeira linha, que hoje disputa o mercado internacional com exportações. Demonstrando o quanto a questão tecnológica é importante e estratégica, os fabricantes chineses de armamentos se destacam nos setores da inteligência artificial e na produção de drones e mísseis.

Os EUA emitiram este ano declarações exigindo que a China diminua seu arsenal nuclear. Esta, por sua vez, só se dispõe a negociar se a Casa Branca se comprometer a reduzir o seu próprio arsenal nuclear ao mesmo nível do chinês. Nenhum analista sério vê possibilidades de redução do arsenal chinês ou maricano. Em direção oposta, a China segue com investimento contínuo em sua expansão.

Disputa tecnológica e guerra informacional

Com a gigantesca descapitalização das empresas dos EUA em consequência da guerra comercial, o centro da pressão dos EUA sobre a China migrou do comércio ao acesso aos mercados de capital e à tecnologia.

Tecnologia hoje é uma questão tanto de segurança nacional quanto de influência geopolítica. Os EUA temem justificadamente que a China se equipare ou mesmo venha a superá-lo nesse campo, porque além de saltar para primeira economia mundial, o país se tornaria muito mais influente política e militarmente, tomando espaço da relativa decadência americana. Acusam a China de violar propriedade intelectual e praticar espionagem industrial enquanto os chineses respondem que tais acusações não passam de calúnias visando prejudicar seus negócios e afetar sua credibilidade no cenário mundial.

Nesse campo, os EUA visam impedir que a empresa chinesa Huawei conquiste contratos na área de infraestrutura de 5G. Acusam a empresa de criar propositalmente estruturas frágeis através de “porta dos fundos” (falhas no sistema que permitem ou facilitam invasão), o que impediria seu uso para áreas estratégicas, como inteligência ou defesa. Além da alegação que a companhia estaria submetida às leis chinesas de colaboração com o governo, vendo-se obrigada a entregar todo e qualquer dado sigiloso dos usuários caso Pequim requisitasse. A Huawei, por sua vez, qualifica tais alegações como calúnias e insiste que a intenção norte-americana é prejudicar sua conquista de mercados nesse setor estratégico.

Como resultado provisório da pressão dos EUA, o primeiro ministro britânico Boris Johnson anunciou em 14 de julho a proibição do uso da tecnologia da Huawei nas redes 5G no Reino Unido a partir de 2027. A decisão deixa uma margem para nova inflexão britânica, mas cede às sanções impostas em maio deste ano pelos EUA, que visam impedir que a Huawei possa adquirir microprocessadores e software de tecnologia norte-americanos. Tal sanção representa um duro golpe na Huawei, que hoje depende consideravelmente desses produtos, mas prejudica lucros das empresas norte-americanas, como demonstraremos em um artigo específico.

Cai a máscara das diplomacias

Ainda como desdobramento da disputa tecnológica, em meio à pandemia, a corrida pelo desenvolvimento de vacinas levou o FBI a acusar pesquisadores e estudantes chineses de agirem como espiões e hackers. Segundo o FBI, no mês de maio eles teriam roubado informações de institutos que desenvolvem a vacina do coronavírus para empresas americanas. Em julho dois chineses foram processados sob acusação de hackear essas empresas. A China, obviamente, nega que tais acusações tenham qualquer fundamento.

No mês de julho houve o fechamento dos respectivos consulados. Na quarta-feira, dia 22 os EUA fecharam o consulado chinês em Houston, estado do Texas, alegando ser um centro de espionagem. Como medida de retaliação, dois dias depois a China determinou o fechamento do consulado americano em Chengdou, que fica no sudoeste do país.

Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, foi o porta voz das duras acusações. Em suas palavras: “Fechamos o consulado porque era um centro de espionagem e roubo de propriedade intelectual”. “A China nos tirou nossa propriedade intelectual e segredos comerciais que custam milhões de empregos em todo o país. Se o mundo livre não muda a China comunista, a China comunista nos mudará”.

A China mantém consulados em São Francisco, Los Angeles, Chicago e Nova York, além da embaixada em Washington, DC. Os EUA têm outros quatro consulados na China e uma embaixada em Pequim, garantindo paridade em termos de representações diplomáticas.

Ainda no campo diplomático, apenas um mês antes desses eventos, os EUA anunciaram sanções contra membros do Partido Comunista Chinês, que se estenderiam aos seus familiares. Tais sanções, se aplicadas, podem atingir até 270 milhões de cidadãos chineses.

No início do mês de julho já vigoravam sanções às autoridades chinesas da região de Xinjiang, acusadas de violação de direitos humanos por encarceramento de mais de um milhão de habitantes mulçumanos uigures da província, em campos de reeducação política. A China responde alegando que os números são muito menores e que os campos são de treinamento profissional e servem para combater o extremismo e o terrorismo islâmico.

A repressão brutal aos uigures na província de Xinjiang é histórica, porque esse grupo reivindica autonomia pelas suas especificidades religiosas e culturais. A região é riquíssima em terras raras, metais de difícil extração que constituem matéria prima de supercondutores, processadores de computadores e microchips, que por sua vez são utilizados na produção de smartphones, laptops e desktops, veículos híbridos, dispositivos de radar e sistemas de mísseis, para ficarmos em alguns ilustrativos exemplos.

A China concentra cerca de 80% da produção mundial de terras raras e 85% da capacidade de processamento em suas minas, sendo assim a principal exportadora do mundo. As informações do governo americano sobre a região de Xinjiang procediam exatamente do consulado de Chengdou, que ainda fazia ligação com o Tibete, região que reivindica sua autonomia enquanto Estado soberano e foi anexado à China após a assinatura do ‘Acordo de Dezessete Pontos em 23 de maio de 1951’, onde as autoridades tibetanas capitularam após sofrerem derrota para o Exército de Libertação Popular chinês.

As questões diplomáticas ocorrem entrelaçadas aos interesses da corrida tecnológica protagonizada pelos dois países. O governo americano ainda revogou o estatuto comercial preferencial de Hong Kong e restringiu a concessão de vistos a autoridades chinesas da ilha, no marco da aplicação da nova lei de segurança nacional em julho. A lei visa impor a Hong Kong o mesmo tratamento dispensado a cidadãos do continente, restringindo significativamente as liberdades democráticas dos habitantes da ilha, no marco dos protestos multitudinários lá ocorrido. Também foi interrompida a venda de equipamentos de defesa para Hong Kong.

Segundo o analista Thiago de Aragão, diretor de estratégia da Arko Advice, empresa de consultoria política e monitoramento legislativo, “O objetivo de cada lado implica no enfraquecimento do outro nessas arenas”.

Mesmo que o cenário eleitoral americano ainda não esteja definido, ainda que a vantagem de Joe Biden sobre Trump garanta a sua vitória hoje https://esquerdaonline.com.br/2020/08/27/as-dificuldades-de-trump-para-se-reeleger/), se é esperada alguma forma de inflexão de um possível governo democrata, dificilmente as relações possam melhorar significativamente, por conta dos interesses envolvidos.

Ainda que um confronto direto não represente as intenções dos dois países, uma vez que suas economias gigantes encontram-se fortemente entrelaçadas, trata-se de duas potências econômicas e militares, cujos projetos apresentam a mútua contradição de uma grande interdependência, enquanto ambas acumulam forças e atacam-se visando minar a influência e poder para suplantar a outra.