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O pior momento do bolsonarismo até aqui

Agência Brasil

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

Bolsonaro demonstra resiliência ao preservar cerca de 30% de apoio popular.

Mas seria surpreendente que fosse diferente. O fascista surgiu de um movimento de massas profundamente reacionário dirigido por setores burgueses e protagonizado pela classe média, que arrastou parcelas da classe trabalhadora. O ex-capitão é filho legítimo das gigantescas marchas dos amarelinhos.

Bolsonaro não é meramente um fenômeno eleitoral ou um acidente histórico. Ele tem enraizamento social e sua aparição no centro do cenário político nacional corresponde à uma mudança profunda que ocorreu na correlação forças entre as classes sociais, de 2015 para cá.

O miliciano é líder de um movimento de massas neofascista, que se formou pelo giro de setores da pequena burguesia e da burguesia à extrema direita. Mesmo que seu governo venha a cair, seguirá tendo — muito provavelmente — milhões de seguidores fanáticos.

Observemos outro líder de massas, Lula. Mesmo no seu pior momento, Lula não caiu abaixo dos 30% de apoio social. Mesmo na cadeia, após três anos seguidos de massacre jurídico, político, midiático e policial, o petista levou um “poste” (Haddad) para o segundo turno das eleições presidenciais, que fez respeitáveis 45% dos votos válidos.

Dito isso, no meio da tragédia humanitária que vivemos, há motivos para comemorar. Bolsonaro vive seu pior momento até aqui.

Não se trata somente da curva ascendente de rejeição ao seu governo nas pesquisas (a formação de um amplo setor de massas pelo Fora Bolsonaro) ou da crise política-institucional que se agrava a cada dia.

Um dado qualitativo muito relevante é o seguinte: com todas as crises dos últimos dois meses, a moral de parte da base bolsonarista está abalada: caiu o nível de confiança em parcela importante dos apoiadores do governo. Há mais dúvidas e silêncio do lado deles. Qualquer pessoa que participa de grupos de WhatsApp com “minions” sabe disso. Os desprendimentos da base neofascista, por óbvio, que não vão à esquerda. Mas o fato de haver mais divisão e menos confiança entre eles é muito positivo para nós. Eles estão na defensiva.

Mais da metade população desaprova Bolsonaro. Uma parte significativa do povo quer o fim desse governo. Hoje não podemos ir às ruas, às centenas de milhares, pelo Fora Bolsonaro. Mas podemos criar as condições para isso.

Abriu-se uma brecha para passarmos à ofensiva contra Bolsonaro. A esquerda precisa aproveitar esse momento. Se não avançarmos, ocorrerá a contra-ofensiva do neofascismo. E ela poderá ser fatal.

Nossa tarefa estratégica, nesse momento, é ampliar o desgaste do governo, enfraquecer e dividir mais a base bolsonarista e, sobretudo, começar a organizar o setor de massa anti-Bolsonaro para o objetivo de derrubá-lo no próximo período. Temos algum tempo, pois o desenlace dessa crise tende a não ser imediato.

As ações de solidariedade de classe organizadas por movimento sociais, sindicatos e líderes da esquerda vão nesse sentido. A resistência dos trabalhadores da linha de frente, como os atos da enfermagem, também são fundamentais nesse momento. E a unidade da esquerda, dos sindicatos e movimentos sociais em torno do Fora Bolsonaro, Impeachment e Eleições diretas antecipadas é decisiva.

É momento também de pressionar as instituições e a direita que se coloca na oposição para que removam do governo o genocida que constitui uma ameaça direta à vida dos brasileiros e às liberdades democráticas.

Para salvar vidas e a democracia, Fora Bolsonaro!
Abertura de impeachment Já!
Mourão não é alternativa! Por eleições presidenciais livres e diretas antecipadas!
Golpe não, Ditadura nunca mais!
Por uma Frente Única dos trabalhadores e da esquerda!

 

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