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EDITORIAL

O que significa o álbum “Sobrevivendo no Inferno” no vestibular na Unicamp?

Elber Almeida, de São Bernardo do Campo (SP)
Capa do álbum Sobrevivendo no Inferrno. Foto Divulgação

Capa do álbum Sobrevivendo no Inferrno. Foto Divulgação

A notícia da inclusão do álbum “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MC’s, como obra obrigatória para o vestibular da Unicamp, uma das universidades de ponta do País, repercutiu nesta semana. E não é para menos.

Os vestibulares são um dos filtros de segregação social mais excludentes. Segundo a PNAD-IBGE 2016, apenas 15% da população possui ensino superior, sendo que apenas 15% desse total corresponde às universidades públicas. A grande maioria dos jovens está fora das faculdades e a maior parte dos que estão dentro sofre com um ensino massificado de péssima qualidade imposto por grupos educacionais como o Kroton-Anhanguera que tem como objetivo apenas seus lucros e não a educação.

Isso se torna ainda mais grave quando levamos em conta que num país de 54% da população negra apenas 13% dos estudantes do ensino superior são negros. Em 1997, na faixa “Capítulo 4, versículo 3” ´é dito que “nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros”. Apesar da mudança trazida pela conquista das cotas pelo movimento negro, a realidade ainda é alarmante.

Para além disso, as provas em si costumam valorizar certos tipos de conteúdos. Em geral, quando trata-se de literatura nacional é a literatura branca, lida pelas classes dominantes de tempos passados, salvo exceções. É muito idealista dizer que a inclusão de Racionais no vestibular da Unicamp tornará aquele vestibular menos excludente. O que pode ocorrer de fato é mais um passo no reconhecimento deste tipo de arte, o Rap Nacional, estigmatizado pela mídia tradicional e pelas classes dominantes, por colocar de fato os dedos nas feridas do Brasil, trazer os problemas sociais à tona, dialogando com milhões de brasileiros que ouvem este tipo de música.

O Rap é um produto da cultura Hip Hop, relativamente recente no mundo por ter surgido nos anos 70. Enquanto ritmo o Rap é considerado o mais ouvido no mundo todo e por alguns pesquisadores também o mais influente. Originalmente localizado na luta contra o racismo, passa a falar de cada vez mais temas. A mistura de ritmo e poesia serve para transmitir uma mensagem, para agitar uma festa, ou mesmo ser um TCC, como Obasi Shaw fez em Harvard no ano passado obtendo título de honra.

Mesmo assim, não basta reconhecer este tipo de arte se não levar em conta sua mensagem, que fala de um país com muitos problemas sociais causados pelos baixos investimentos em educação. Problemas esses que só podem ser superados com investimentos grandes na área, para que um dia a arte negra e da periferia não seja apenas reconhecida, afinal isto é o mínimo, mas também para que os problemas que traz sejam respondidos.