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Ração: produto abençoado?

Silvia Ferraro

Feminista e educadora, covereadora em São Paulo, com a Bancada Feminista do PSOL. Professora de História da Rede Municipal de São Paulo e integrante do Diretório Nacional do PSOL. Ex-candidata ao Senado por São Paulo. Formada pela Unicamp.

Por: Sílvia Ferraro, colunista do Esquerda Online

Um vidro transparente cheio de bolinhas com cara de amendoim japonês e com um selinho inocente de Nossa Senhora Aparecida. O arcebispo de São Paulo, ao lado do prefeito da maior cidade do Brasil, ambos em uma coletiva midiática, fazendo propaganda da promessa de que os granulados seriam um produto abençoado para acabar com a fome de São Paulo e, quem sabe, do Brasil.

Uma obra de ilusionismo para tentar convencer a população dos propósitos “caridosos” das tais bolinhas milagrosas e ainda utilizando símbolos religiosos para isso. Mas, essa imagem de preocupação humana não condiz nem com o principal articulador da causa, e nem com o produto suspeito.

Dória, o mesmo que retira cobertores e pertences de pessoas em situação de rua, o mesmo que sempre esbanjou sua riqueza milionária, que joga flores nos ciclistas para serem esmagadas no chão, que disse que pobres não possuem sequer hábitos alimentares. Este mesmo sujeito estaria preocupado com resolver o problema da fome dos pobres? Ou estaria atrás de criar um novo factoide para se auto-promover a candidato à presidência da República? A imagem construída pelo próprio Dória, nem Nossa Senhora apaga.

Mas poderia ser somente mais uma pirotecnia de marketing, se não houvesse por trás do granulado interesses comerciais de grandes empresários do ramo da alimentação. Existe uma necessidade de grandes supermercados e restaurantes descartarem produtos vencidos, assim como, transformar prejuízo com produtos vencidos em fonte de lucro. Surgiu uma empresa especializada “Plataforma Sinergia”, uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), para transformar os produtos vencidos em “farinata”, o pó resultante do processamento dos produtos descartados. A mentora da Sinergia, Renata Perroti, já teria trabalhado para a Monsanto, segundo a denúncia da vereadora Sâmia Bonfim.

Faz muito tempo que a indústria alimentícia e o agronegócio procuram introduzir nos países pobres suas fórmulas químicas e transgênicas com o falso argumento de baratear os custos dos alimentos e acabar com a fome. Esta panaceia só tem enriquecido o agronegócio, concentrado as terras brasileiras nas mãos de grupos multinacionais, impedido a reforma agrária e promovido o massacre no campo, de sem-terras, indígenas e quilombolas.

Temos abundância de terras, de recursos naturais e de gente para cultivar. Mas o capital e seus garotos propaganda insistem em querer lucrar e tirar proveito político da fome.