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BRASIL

Fascistas canalhas: sem anistia

Por Mauro Puerro, de São Paulo (SP)
Fernando Frazão/Agência Brasil
CANALHA
É uma dor
Canalha
É uma dor canalha
Que te dilacera
É um grito que se espalha
Também, pudera
Não tarda, nem falha
Apenas te espera
Num campo de batalha
É um grito que se espalha
É uma dor
Canalha
Walter Franco
VERDADEIRO CANALHA
Canalha, tu é um verdadeiro canalha
Canalha, tu é um verdadeiro canalha
Você vive de trambique
Deita na sopa
E se atrapalha
Olha aí, seu canalha
Canalha, tu é um verdadeiro canalha
Canalha, tu é um verdadeiro canalha
Se elegeu com votos da favela
Depois mandou nela
Metê bala
Isso é que é ser canalha
Jorge Mirin, Rodrigues e Sérgio Fernandes
Gravação de Bezerra da Silva

O Brasil assistiu estarrecido as notícias da tentativa de golpe planejado por Bolsonaro, Braga Neto, Augusto Heleno e outras dezenas de militares de alta patente. O plano previa, inclusive, o assassinato do presidente Lula, do vice Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes do STF. Estivemos à beira de um golpe fascista sangrento provavelmente com milhares de mortos e presos. Isso antes do golpe fracassado de 8 de janeiro.

Os golpistas indiciados pela polícia federal argumentam em sua defesa que não houve consumação, que as medidas que pretendiam estavam dentro da lei, buscando dar normalidade ao fato. Além de Bolsonaro, na sua defesa, insistir em que não teve nenhuma responsabilidade. Este artigo busca mostrar como o histórico fascista de Jair e sua turba vem de longe e se coadunam com suas atitudes golpistas de agora.

A música Canalha foi feita pelo grande compositor e cantor Walter Franco em 1979, apresentada no Festival da Canção na antiga TV Tupi. A ditadura militar já estava em crise com o General Figueiredo na presidência e outros canalhas de plantão no seu governo. Mesmo assim, “setores radicais” dos militares organizavam atentados com bombas, como também assassinatos para buscar evitar o fim da ditadura.

Dois anos antes, 1977, o Messias do mal iniciava sua carreira militar interrompida em 1988 acusado de planos terroristas. Sua trajetória começou em 1973 na Escola de Cadetes de Campinas SP aos 18 anos. Foi reformado como capitão, mas seus vínculos sempre foram com os porões da ditadura. Seu “mito”, seu ídolo principal, Coronel Brilhante Ustra, foi o principal chefe das torturas e assassinatos durante o governo militar. Grande parte dos seus asseclas não têm histórico diferente.

Em 1995 Bezerra da Silva gravou a música Verdadeiro canalha composta pelo trio carioca: Jorge Mirin; Rodrigues e Sérgio Fernandes. A música retrata o típico político pilantra que grassava naquele período e continua grassando atualmente no Rio de Janeiro e também, lógico, por outras paragens brasileiras, até com mais peso hoje.

Quatro anos antes, em 1991, Bolsonaro havia sido eleito deputado federal, após conseguir um mandato de vereador em 1989. Sempre com o tema da “segurança”. Isso depois de sua “expulsão/reforma” no exército por acusação de ameaça de explosão de bombas. Obviamente ele era parte do típico político que se alastrava à época e continua se alastrando até hoje. As datas não são meras coincidências.

Pois esse um, entre muitos outros verdadeiros canalhas, foi deputado federal até 2018. Durante os cerca de 27 anos em que foi deputado notabilizou-se por declarações e atitudes racistas, homofóbicas, transfóbicas, machistas, misóginas, sexistas, além da defesa do período dos governos militares, principalmente dos porões da ditadura e suas atrocidades. Projetos em defesa da população trabalhadora, praticamente zero.

Virou “mito” de parte da população brasileira que havia girado à direita – repetindo tragicamente a relação “mítica” com o torturador Brilhante Ustra. Aliás dedicou seu voto no golpe contra Dilma Roussef a este facínora. Foi eleito presidente com uma campanha contra a esquerda. Vinculado à ultradireita e a correntes fascistas no mundo, foi responsável por milhares de mortes durante a pandemia ao se posicionar contra as vacinas e pela defesa de medicamentos cientificamente inapropriados.

Também virou especialista em rapinar presentes recebidos pelo estado brasileiro em viagens internacionais: joias, relógios e o que mais julgasse valioso. Falsificou com a ajuda de Mauro Cid cartão de vacina. Sua relação com a milícia no Rio vem de longe. Como parte da preparação do golpe convocou embaixadores de vários países além de chefiar campanha contra as eleições, as urnas eletrônicas e o TSE, tornando-se inelegível por 8 anos. Sua ficha corrida em falcatruas e tentativa de golpes é longa.

A coerência é fundamental na produção de textos, assim como na vida e nas análises políticas. Decisiva também na interpretação de personagens reais ou literários. Então absolutamente coerente que este capitão reformado tenha se tornado o principal líder do neofascismo brasileiro. Isso em um cenário em que diversos setores fascistas ganharam peso de massas aqui e em várias partes do mundo.

O que não é coerente é a posição de setores da mídia neoliberal ao buscar “normalizar” Bolsonaro e sua gangue como parte das instituições da democracia burguesa. Não só não é coerente como imensamente perigoso para a própria combalida democracia liberal. E também é violentamente mortal para a classe trabalhadora e suas organizações. Fracassaram desta vez, mas se ficarem leves e soltos poderão golpear outra vez. A violência como arma política é parte do seu DNA.

Assim, para defender a vida, é imperativo exigir a punição exemplar dos golpistas. As organizações da classe trabalhadora, movimentos sociais, sindicatos, centrais, partidos políticos, além das entidades democráticas devem mobilizar a população pela prisão do já inelegível e sua corja. O governo Lula deve se engajar nesta campanha. Incrível que até agora Lula não tenha feito uma declaração oficial do seu governo e conclamado todas e todos a se posicionar contra essa trama terrível.

O neofascismo tem base social e apoio político. Vai reagir, haverá luta política. O governo tem que fazer sua parte se quiser sobreviver. Não pode fazer nenhum ataque aos direitos dos trabalhadores, deve atender as reivindicações sociais, não pode ceder às pressões do grande capital, da Faria Lima, que querem lucrar cada vez mais. Políticas regressivas contra a população como está previsto no arcabouço fiscal e em parte das medidas anunciadas por Fernando Haddad devem ser eliminadas. Mirem-se no exemplo dos EUA: a volta de Trump pela via eleitoral. Essa possibilidade existe realmente em 2026. Então toda unidade na defesa dos interesses populares. Toda unidade na mobilização e prisão para Bolsonaro e todos os golpistas. Sem Anistia para os fascistas canalhas.