Por: Nicolas Pacheco, do Oeste do Paraná
Um trabalhador muambeiro de Foz do Iguaçu morreu, no sábado (28), na aduana brasileira, depois de ser abordado de maneira truculenta, detido e levado para dentro de uma das ‘casinhas’ utilizadas pela fiscalização. Não conhecemos os detalhes da morte do rapaz, mas vídeos e imagens mostram as marcas de extrema truculência pela qual foi submetido. A família encontra dificuldade de acessar o corpo por complicações burocráticas e o laudo provisório diz que se trata de morte natural. Ademir Gonçalves, de 39 anos, estava bem quando foi abordado e agredido e saiu da aduana morto, carregado por agentes da Receita.
A truculência e o desrespeito dos agentes infelizmente não é coisa rara na aduana de Foz do Iguaçu. A cidade conhecida mundialmente como destino turístico por ser lugar de belezas naturais como as Cataratas do Iguaçu mostra outra realidade aos seus moradores. Grande parte dos empregos da cidade é relacionada à compra e venda de produtos do Paraguai. Os chamados muambeiros são trabalhadores informais vítimas do desemprego, submetidos a pesadas cargas de trabalho, uma vida incerta e uma criminalização absurda e desnecessária.
A história de Foz do Iguaçu tem capítulos importantes construídos por estes trabalhadores. Seu “boom” populacional foi pela construção da Hidrelétrica de Itaipu e depois do término da construção, muitos trabalhadores agora desempregados buscaram seu sustento nessa atividade.
Além de não ter garantias trabalhistas e de salário e de se submeter às difíceis cargas de trabalho, estes trabalhadores são vítimas do despreparo e desrespeito dos agentes do estado e, muitas vezes, da corrupção destes que cobram ‘caixinha’ para ‘liberar mercadoria’.
A criminalização destes trabalhadores é recente. Por décadas, essa atividade foi extremamente popular. Na última década é que com o fortalecimento da Polícia e Receita Federal a criminalização foi se intensificando, o valor permitido de mercadorias sendo reduzido e a situação dos trabalhadores piorando. Com isso, Foz viveu um aumento da criminalidade, uma vez que muitos empregos foram extintos.
No Brasil muito se beneficia do trabalho dos muambeiros. Grandes centros comerciais como a famosa 25 de março, em São Paulo, trabalham majoritariamente com estes produtos.
Se comparada com as sonegações praticadas por grandes empresários que colocam seu dinheiro em paraísos fiscais, e empresas como a Rede Globo, que deve milhões de impostos sonegados, a atividade desses trabalhadores é inofensiva para a sociedade e para os cofres públicos.
São trabalhadores que não têm alternativa de trabalho, situação piorada hoje numa conjuntura de milhões de desempregados, e que tiram seu sustento dessa atividade. São trabalhadores em busca do alimento de cada dia e merecem toda a nossa solidariedade.
Nos solidarizamos com os familiares e amigos de Ademir Gonçalves e com os milhares de trabalhadores nesta mesma situação.
Comentários