Por: Janaína Oliveira, São Paulo, SP
A Miami do Dória está cada vez mais cinzenta, seja de cores ou de gente. A ação promovida pela polícia na noite desta terça-feira (17), na Cracolândia, demonstra qual será a política do novo prefeito tucano frente aos graves problemas que se aglomeram na capital: a cidade linda precisa ser “limpa”.
A justificativa divulgada pela imprensa afirma que a iniciativa tinha o intuito de desbloquear parte das imediações próximas a estação da Luz, que até então estava tomada de usuários. Mais uma desculpa para a vassourinha do atual prefeito limpar o centro rapidinho, mesmo que para isso seja preciso utilizar gás e bombas de efeito moral.
Há relatos de agressão e abusos por parte da polícia. Muitos ficaram feridos em decorrência da desastrosa iniciativa da Secretaria de Segurança que envolveu a Tropa de Choque da PM e a Força Tática. Diante do confronto, não há dúvidas que as pedras utilizadas pelos usuários, para se defender, foram insuficientes. Os mais pobres, aqueles a quem o Estado já ignorou todos os direitos, levaram a pior.
Para as pessoas que trabalham com este público, da assistência à saúde, este é um crime premeditado. Há dias que as ruas do centro têm sido alvo de ações deste tipo. Revistas, constrangimentos, agressões físicas e todo tipo de humilhação.
A solução não se faz com vassoura
A Gotham City paulistana acumula os seus traumas. Quando se fala em Cracolândia, logo surgem as imagens apelativas e distorcidas com a qual a imprensa faz questão de propagar. Tal como protagonizava o vilão hollywoodiano, Espantalho, o “Gás do Medo” é a melhor receita para justificar as políticas mais truculentas e reacionárias para o combate às drogas, no tratamento de dependência química e nos desdobramentos sociais causados em decorrência deste. E nestes momentos a ficção acaba por ilustrar a realidade.
O resultado em breve poderá ser visto pelo leitor que mora na capital. Ao não tratar esta situação enquanto grave problema social resultante da profunda desigualdade social, econômica, política, histórica e racial inerente ao nosso país, estas pessoas continuarão a ser tratados enquanto “resto de gente”, conveniente apenas para as obras de caridade e para os documentários de TV.
Ao ter o direito ao centro da cidade negado esta população não desaparece, apenas migra. São gerações e gerações. Também por isso as subprefeituras se preparam para realizar ações de carácter semelhante. E de vassourinha em vassourinha o PSDB vai aplicando sua política gentrificadora na missão de tornar São Paulo uma Miami. Mas não se esqueça, na verdade isso aqui vai virar o Bronx.
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