Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

O trabalho, o lucro e o lixo

Edson Xavier*, de Juazeiro do Norte, CE

Na última semana, Juazeiro do Norte (CE) vivenciou uma greve dos trabalhadores da limpeza pública. O lixo rapidamente se acumulou pelas ruas, mas, ainda assim, a população da cidade se colocava do lado dos trabalhadores diante da sua pauta de reivindicações e diante da grave injustiça sofrida por estes.

A empresa MXR Soluções Ambientais, além de atrasar os salários e férias, por três anos depositou apenas um mês dos valores referentes ao FGTS de trabalhadores e trabalhadoras. De gestão para gestão a empresa encarregada da limpeza pública muda, sendo recontratado muitos dos trabalhadores para o mesmo trabalho. Muitos destes trabalhadores de hoje eram da empresa de limpeza pública EAB durante a gestão do prefeito Raimundo Santana (PT), e haviam levado um calote desta, que desapareceu sem saldar a dívida referente aos direitos previdenciários dos garis.

Sem esperar por sindicato ou qualquer liderança formal, os garis paralisaram suas atividades

Com a atual gestão chegando ao fim e a triste experiência que os trabalhadores mais antigos acumularam, veio a convicção de que mais uma vez os garis seriam lesados. Sem esperar por sindicato ou qualquer liderança formal, os garis paralisaram suas atividades reivindicando seus direitos. Depois de quatro dias de paralisação, conseguiram a regularização de salários e férias, no entanto até o presente momento não têm a certeza de que terão o FGTS devido pela empresa depositado, garantindo seus direitos previdenciários.

Vale lembrar que a atual gestão do prefeito José Arnon Bezerra (PTB) dobrou os valores gastos com a empresa MXR, que passou de 1,8 milhão para 3,6 milhões, e a mesma foi apontada, junto com o prefeito, por desvio de verbas e favorecimento do irmão do prefeito que foi candidato nas eleições de 2018. 

Enquanto os ricos e poderosos se lambujam, os garis têm salários aviltantes para um trabalho extenuante e ainda são roubados em seus direitos. Na afirmação dos próprios garis o momento em que eles recebem os “direitos” é o momento em que podem comprar uma TV, reformar a casa ou adquirir algum bem. É enojante que alguém possa roubar os direitos de tais trabalhadores. Roubar dos pobres para dar aos ricos.

É preciso exigir respeito a esses profissionais fundamentais para o funcionamento das nossas cidades. A terceirização representa um prejuízo para os trabalhadores que acabam sem garantias de ter respeitados seus mínimos direitos diante da precarização dos laços de trabalho. Os habitantes da cidade de um modo geral veem os recursos públicos sugados pelas empresas privadas em acordos escusos que rendem fortunas a empresários e políticos corruptos.

Precisamos que os serviços de limpeza pública sejam retomados pela administração direta, que haja concurso para os funcionários da limpeza pública, que haja melhoria em suas condições de trabalho e em seus salários. Basta de alimentar os constantes esquemas de corrupção as custas do trabalho precarizado e da retirada dos direitos básicos de trabalhadores e trabalhadoras. 

Toda solidariedade aos garis de Juazeiro do Norte.

 

*Edson Xavier é professor da rede pública de ensino básico e militante da Resistência – PSOL.