Por: Antônio Junior, Campinas, SP
Centenas de jovens ocuparam as ruas do centro de Campinas nesta terça feira contra o aumento da tarifa do transporte público. No último dia 29, no apagar de 2016, antes de assumir seu novo mandato, o prefeito reeleito Jonas Donizette (PSB) decretou que a partir do dia 07/01 (sábado) a passagem passará para R$4,50, um aumento de 18,4% em relação ao valor anterior.
Se descontarmos a inflação, isso significa um aumento real de 10,9%. Além disso, o decreto estabelece a cobrança de R$0,30 a partir da segunda integração, prejudicando a população periférica que precisa pegar mais de dois ônibus para chegar ao seu trabalho.
Em meio a crise econômica, onde os trabalhadores estão lutando pela manutenção de seus empregos e direitos, onde os ajustes salariais estão abaixo da inflação, Jonas Donizette (PSB) quer que a juventude e os trabalhadores paguem pela crise.
O aumento só serve para garantir, em meio a este cenário, o lucro das empresas privadas operadoras do sistema, reunidas na Transurc – Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Campinas e dirigidas pelo Grupo Berlarmino. Esse aumento escancara o que todos já sabem: Para Jonas Donizette e seu governo, transporte é uma mercadoria e não um direito.
“Equilíbrio econômico-financeiro”
Para justificar esse aumento, o governo mobilizou suas peças e fantasias.
A EMDEC – Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas, em seu site oficial, chegou a escrever que o aumento “beneficia 44% dos usuários do transporte, uma vez que além dos detentores do cartão, o valor praticado com o Bilhete Único Comum também é o de referência para o Bilhete Único Escolar e o Bilhete Único Universitário”.
A notícia se refere ao aumento diferenciado do Bilhete Único Comum, cuja tarifa passará a custar R$4,20. A notícia ainda tenta argumentar que o aumento é consequência da inflação e da alta dos preços da “cesta de transporte público”, diesel, pneus e veículos.
O sindicato patronal (SetCamp), sem constrangimento, foi direto ao ponto, em matéria veiculada pelo Correio Popular. Segundo seu diretor de comunicação, Paulo Bardall, o aumento foi “insuficiente”, pois este compromete o “equilíbrio econômico-financeiro” das empresas e do sistema de transportes do município.
A proposta do SetCamp era de R$4,80! Mas o que é o “equilíbrio econômico-financeiro”?
Em síntese, significa garantir as altíssimas taxas de lucro das empresas envolvidas com o sistema público de transporte de Campinas. Se o transporte não fosse um negócio lucrativo, essas empresas colocariam seus capitais em outro setor. Para essas, os usuários são custos para o sistema que controlam.
Cabe à Prefeitura, por meio de subsídios, e aos usuários, como “custo-consumidores”, fazer com que o sistema gere cada vez mais capital para a Transurc, uma minoria de empresários que pouco se importa com a vida dos que utilizam diariamente o transporte público precarizado da cidade. É o lucro dessas empresas que explica o aumento anual das tarifas de ônibus.
Jonas Donizette quer que paguemos pela crise
O governo Jonas argumentou que o aumento é uma decorrência da crise econômica do município, que deverá diminuir os subsídios para as empresas nesse ano. Já ouvimos essa história antes. Ano passado, o absurdo repasse que deveria ser de R$30 milhões, fechou em R$95 milhões, segundo a Lei Orçamentária Anual!
Enquanto isso, os ônibus continuaram lotados, as linhas continuaram abaixo da demanda e os motoristas continuaram com seus baixos salários e sua dupla função, imposta desde a demissão de 1.500 cobradores.
O argumento da crise é o mesmo utilizado para o parcelamento e atraso dos salários dos servidores públicos municipais. Jonas Donizette quer nos convencer que a crise deve ser paga por nós.
Não seria melhor ter investido esses 95 milhões diretamente no sistema público de transporte, ao invés de entregá-lo para o bolso dos empresários? Por que o prefeito não corta a quantidade obscena de cargos comissionados para conter a crise e devolver o dinheiro da merenda? Por que não se abre as planilhas de gastos e lucros da EMDEC e da Transurc, para que a população veja claramente o tal do “equilíbrio econômico-financeiro”?
A resposta para essas perguntas é a seguinte: Jonas Donizette tem o rabo preso com a Transurc e fará de tudo para que os trabalhadores e a juventude continuem a enriquecendo. Não é à toa que uma das principais doadoras de sua campanha em 2012 tenha sido essa empresa.
É preciso organizar a resistência! É preciso estatizar o transporte público!
A relação entre a Transurc e a Prefeitura de Campinas completarão 30 anos em 2017. Contrariando a máxima da direita neoliberal sobre a eficiência da iniciativa privada, o exemplo do transporte público campineiro demonstra como três décadas foram o suficiente para transformar o direito ao transporte em precarização, superexploração e preços abusivos.
Ninguém aguenta mais!
Precisamos organizar a resistência para barrar esse aumento absurdo. A tarefa é árdua e exigirá a dedicação de todos os ativistas, organizações e movimentos sociais da esquerda para reunir a força social necessária que nas ruas possamos derrotar o decreto de Jonas.
Precisamos resgatar o trabalho de base e irmos com todas as nossas forças para os bairros, escolas e locais de trabalho, divulgando nossas pautas e chamando a população para a luta. Nesta sexta-feira sexta feira (06), a juventude se reunirá novamente nas ruas, a partir das 17h, no Largo do Rosário.
Apesar de ser a tarefa imediata, barrar o aumento não resolve o problema do transporte público da cidade. É preciso arrancar da mão da Transurc o controle do sistema de transportes e devolvê-lo para a Prefeitura. Os empresários e seus aliados no governo são a causa da precariedade e do elevado custo do ônibus.
Sob o controle da Prefeitura, será necessário criar mecanismos de controle do sistema pelos trabalhadores e suas entidades, únicos capazes de definir as reais necessidades da população em relação ao transporte. Não dá para deixar nas mãos do governo corrupto de Jonas Donizette nossos direitos.
É assim que poderemos almejar o passe livre para toda a população.
– Contra o aumento da tarifa! 4,50 é um assalto!
– Organizar a resistência nos bairros, escolas e locais de trabalho! Por uma Frente de Resistência contra o Aumento!
– Jonas Donizette e a Transurc querem que você pague pela crise!
– Estatização do transporte público! Transporte não é mercadoria!
Foto: Luma Feboli
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