Nesta semana circulou divulgação acerca de evento chamado Café Ivrit, a ser realizado no campus da USP, dia 19 deste mês de abril, resultado de uma parceria da “Organização Sionista Mundial” e o Consulado de Israel em São Paulo. A ideia, segundo as fontes difusoras desta atividade em campus de universidade pública brasileira, “prática descontraída de hebraico, mediado por uma professora israelense e pautado em um tema de interesse dos participantes”. Este é o segundo encontro – o primeiro se deu em 29 de março.
Nenhum problema com o hebraico e sua difusão, descontraída ou não, se dê em que espaço seja. Mas há um problema de partida e outro, eventualmente, oculto. O primeiro é a USP ser ocupada pela Organização Sionista Mundial, que nada mais é do que a organização que planejou a tomada da Palestina de seu povo originário, o palestino, por meio da limpeza étnica, tomada pela força de todas as suas terras e riquezas, bem como o regime de Apartheid que Israel impõe à população não-judaica, ainda nos dias de hoje, e cada vez mais brutal.
Já o segundo, a conferir – inclusive caso não fosse organizado em “parceria” com a Organização Sionista Mundial -, diz respeito à preocupação que temos que ter quanto o “tema de interesse dos participantes”. Esta preocupação é mais do que justificável, visto que Israel e seus tentáculos têm buscado impor temas que alimentam sua narrativa falsa da história e dos acontecimentos e de reprodução de seus mitos, quase sempre justificando os crimes de lesa-humanidade que o regime segregacionista de Israel impõe na Palestina que ocupa ilegalmente, assim como imoralmente criminalizando justamente suas vítimas, o povo palestino.
Há mais de 100 anos, contando da Declaração Balfour (1917), em que o Império Britânico promete aos sionistas despojar a Palestina de seu povo originário para fazer dela um ”Lar Nacional Judeu” (pela via da colonização por assentamento de estrangeiros imigrados à força), e também da recomendação da Partilha da Palestina (Resolução 181 da ONU, de 29 de novembro de 1947, após a qual começou, em dezembro de 1947, a limpeza étnica da Palestina, promovida justamente por grupos terroristas armados sionistas), a ingerência de grandes potências econômicas mundiais, apoiadas em alguns setores da população euro-judaica que sofria perseguição na Europa, o território do qual era e é originária, e não na Palestina, impôs o estabelecimento, na Palestina, de um estado que se pretende purame e unicamente judeu, sem qualquer consulta aos habitantes locais, milenarmente ali estabelecidos. Como consequência, o hoje Estado de Israel foi implementado, por autoproclamação, se fazendo realidade por meio da Nakba (catástrofe, no árabe), processo em que foram expulsos e/ou mortos 700 mil e 800 mil palestinos, com tomada de suas casas, terras e negócios e a eliminação de 543 cidades e localidades palestinas, algumas verdadeiros tesouros históricos e arqueológicos, patrimônios de toda a humanidade.
E todo este plano macabro, suas consequências terríveis passadas e presentes, estas noticiadas todos os dias em seus máximos horrores sobre a população palestina, são obra da tal Organização Sionista Mundial, orientada pelo sionismo, que nem de longe é um movimento nacional, como os próprios sionistas propagandeiam, mas uma ideologia supremacista, racista, colonialista, que organizou, implementou e administra até os dias de hoje, na forma estatal denominada Israel, um regime de Apartheid. Logo, a USP está dando abrigo organização e ideologia incompatíveis com os direitos humanos, com o Direito Internacional, em clara afronta a tudo que construímos para definir como civilização humana.
O resultado conhecido é uma ocupação colonial, racista e autoritária na Palestina e contra seu povo, a mais longa do período contemporâneo. E mais: que busca esmagar a resistência palestina por meio da violência permanente e, ainda, persegue, inclusive no Brasil, os que promovem – movimentos, partidos, organizações diversas de direitos humanos, intelectuais e atiistas – ações de solidariedade e apoio ao povo palestino e à sua justa causa da libertação de sua terra, a Palestina Histórica. Trata-se de uma das maiores tragédias sociais e humanas do século XX, que continua nos dias de hoje, apoiada por grandes potências mundiais, os EUA à frente, e por todos os novos extremistas no mundo, muitos claramente fascistas, aí incluídos os destas vertentes no Brasil.
A Universidade de São Paulo, uma das maiores universidades públicas da América Latina, deve ter um compromisso com a justiça social e com os direitos humanos. Se a USP se propõe a estar a serviço do povo e da humanidade, é inadmissível que um evento organizado pela “Organização Sionista Mundial” seja promovido em suas instalações e instâncias. O sionismo, ao longo da história, foi o responsável direto pela promoção do que hoje se estabelece como um Apartheid imposto ao povo palestino e, pior, em sendo exportado como “modelo” às elites que querem oprimir seus próprios povos.
A Anistia Internacional, além uma série de outras organizações internacionais, como a Human Rights Watch, reconheceu e denunciou o Apartheid israelense – e sionista – contra o povo palestino. No relatório “O apartheid de Israel contra os Palestinos”, a Anistia Internacional destaca que sua investigação “mostra que Israel impõe um sistema de opressão e dominação contra palestinos em todas as áreas sob seu controle: em Israel e nos territórios ocupados, e contra refugiados palestinos, a fim de beneficiar os judeus israelenses. Isso equivale ao proibido apartheid no direito internacional”.
Portanto, não é tolerável que a Universidade de São Paulo, incumbida da defesa do interesse público, da ciência, da democracia e dos direitos humanos, promova, em suas unidades, qualquer tipo de evento que corrobore com uma violação dos direitos humanos de tamanha gravidade.
Em defesa do povo palestino e contra a ocupação ilegal de Israel!
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