Existe uma polêmica importante entre as organizações da esquerda revolucionária no Brasil: algumas organizações consideram que as jornadas de junho de 2013 continuam em aberto, que vivemos em cima de um barril de pólvora, e por isso, estamos diante de uma situação pré-revolucionária prestes a explodir. Assim, a classe deve estar organizada para disputar o poder. Enquanto isso, outras sustentam que vivemos uma situação reacionária, consequências do golpe jurídico-parlamentar-midiático aplicado contra a presidenta Dilma.
Acontece que uma análise séria da realidade não se faz com desejo: na luta política não podemos nos pautar exclusivamente nas convicções da vanguarda, mas sobre um diagnóstico objetivo e coerente da situação. É esse o rigor metodológico que permitirá apontar caminhos capazes de abrir vias de luta para mudanças reais e as profundas transformações sociais que precisamos.
A vitória de Bolsonaro em 2018 consolidou esse cenário reacionário impondo uma grande derrota à classe que, em quatro anos de resistência, conseguiu manter viva uma chama de esperança: de que a luta pode mudar nossa realidade. Apesar dos ataques contínuos, das milhares de mortes evitáveis por covid-19, várias mobilizações e enfrentamentos populares aconteceram.
O movimento pelo FORA BOLSONARO, iniciado com a mobilização da população negra em 2020 contra a fome e a violência policial em meio à pandemia (quando ainda não havia perspectiva de vacina), tornou-se a grande unidade construída para derrotar o neofascismo nas ruas. Inúmeros atos de rua foram realizados em todo país, comprovando que a classe trabalhadora, mesmo fragilizada e sofrida, não sofreu uma derrota histórica – o que a colocaria em um lugar de resignação e ressentimento. Contudo, apesar da coragem e da disposição do povo em lutar contra os retrocessos, defesa da vida e, mesmo com o desgaste e a exposição do governo com os escândalos de corrupção da “familícia”, a indignação da população e as mobilizações foram insuficientes para destituir Bolsonaro do poder e derrotá-lo politicamente.
Para essas organizações revolucionárias uma reeleição de Bolsonaro representará um passo à frente para a direita: teremos um cenário aberto para a derrota histórica da classe, onde seus dirigentes serão mortos, exilados ou fugirão para sobreviver. Essa é a razão pela qual afirmam que estamos diante das eleições das nossas vidas. A principal tarefa dessas organizações é, por isso, evitar essa derrota histórica, o que causaria um prejuízo enorme, o preço de décadas de lutas, suor e sangue das gerações trabalhadoras que nos antecederam e a resistência da atual geração de lutadores e lutadoras.
Não existe disputa de projetos, de programas, de propostas nessas eleições. O que existe, para essas organizações, é a luta por sobrevivência, para evitar a derrota histórica da classe, portanto, pela possibilidade de existir e lutar. Nesse cenário não há outra coisa a fazer a não ser derrotar Bolsonaro nas eleições.
Para cumprir essa tarefa Lula não é a melhor arma, ele é a única arma que temos. Por isso, estamos nas ruas em defesa de sua candidatura e iremos às urnas para elegê-lo e derrotar Bolsonaro.
A maior parte da camada da sociedade brasileira que vota em Bolsonaro, sua base social, o faz exatamente ser ele o que representa: os resquícios da escravidão, o ódio aos pobres, os preconceitos diante das diferenças, o machismo, a intolerância religiosa e moral, o culto à ignorância, o desprezo pela natureza, por quaisquer traços humanitários e civilizatórios. Infelizmente, cerca de trinta por cento da população brasileira permanece identificada com tais padrões históricos e sociais.
A direita brasileira tem muito peso e se sente representada por Bolsonaro, embora adote a etiqueta da burguesia mais cínica. Para derrotá-lo eleitoralmente, faz-se necessário um nome com base social maior, o que Lula tem, além de seu lastro político. Não é por acaso que, apesar da distribuição do auxílio Brasil pelo governo, Bolsonaro não conseguiu manter a maioria do povo brasileiro, que é pobre e tudo a quem destina seu ódio. Por outro, Lula tem os maiores índices de aceitação nas camadas sociais até dois salários mínimos, no Nordeste brasileiro e nos setores historicamente mais explorados e oprimidos.
Eleger Lula para derrotar Bolsonaro não é uma questão de escolha, é uma urgência fundamentalmente necessária.
* Artemis Martins – Coordenadora Geral do SINASEFE
** David Lobão – Coordenador Geral do SINASEFE
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