Iza Lourença, vereadora de Belo Horizonte (MG), acionou Augusto Aras, Procurador Geral Eleitoral, contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) por causa do material de divulgação de sua agenda em Natal (RN), na última quarta-feira, 14, que faz trocadilho com o movimento supremacista americano Ku Klux Klan. O cartaz anunciava “Cuscuz Clan em Natal com Bolsonaro e Michelle Bolsonaro”. Também são alvo da representação a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que esteve a frente de um dos eventos divulgados no material, e o deputado federal General Girão (PL-RN), cuja campanha assinou o material. Para a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, Girão afirmou que tratava-se de uma “brincadeira”.
A representação foi protocolada por advogados do escritório de Cezar Britto Advogados Associados, ex-presidente nacional da OAB, e requer que seja investigada a produção e veiculação de tal material e sua relação com Bolsonaro, o Partido Liberal e os responsáveis em geral, além da aplicação de medidas cabíveis frente à exaltação e enaltecimento de movimento supremacista, o que configura crime de racismo.
Para Iza Lourença, a “brincadeira” precisa ser repreendida pelos órgãos da justiça porque “não passa de exaltação velada, e direcionada ao empoderamento e incentivo de posições e atitudes criminosas, extremistas, supremacistas, antidemocráticas e racistas”. A vereadora do PSOL e colunista do Esquerda Online disse que a atitude do atual presidente também está em desacordo com a Lei 7.716/1989 que dispõe sobre o crime de racismo.
Em Natal, a vereadora Brisa Bracchi (PT) fez uma representação semelhante ao Ministério Público Eleitoral (MPE) para que investigue a origem do cartaz. Na representação, também é citado que a imagem do “Cuscus Clan” possui o CNPJ oficial da campanha de Girão, o que, segundo a vereadora, “caracteriza campanha eleitoral violadora do Princípio da Liberdade”. Em depoimento a Agência Saiba Mais, a vereadora afirmou que o objetivo da investigação é que “não passe impune e que não seja naturalizado o uso de uma das piores experiências recentes do Ocidente como algo risonho. Todo nosso repúdio a isso.”
O ato em Natal contou com a participação ainda de Rogério Marinho, autor do projeto da reforma trabalhista e candidato ao Senado pelo RN, que desfilou na garupa de Bolsonaro, ambos sem capacete. No palanque, uma bandeira do Brasil na monarquia chegou a ser estendida por vários momentos, em um saudosimo deste regime, que fez do Brasil o último país do Ocidente a abolir oficialmente com a escravidão.
Reprodução Youtube
Outdoor em Blumenau
Na mesma semana, um outdoor em Blumenau (SC) também fez referência ao grupo supremacista e propaganda do candidato Jair Bolsonaro, mostrando não se tratar de um fato isolado. Ao lado da foto e do nome de Jair Bolsonaro, o outdoor traz uma camisa verde e amarela com a frase “sou da Cuscuz Clan”. O outdoor foi colocado dias antes da visita de Lula a Santa Catarina, onde fez um grande comício no domingo, em Florianópolis. Camisas com a frase também estariam sendo vendidas na internet.
Outdoor pró-Bolsonaro em Blumenau. Reprodução.
A movimentação bolsonarista seria uma “resposta” a declaração de Lula sobre o palanque no 7 de Setembro em Brasília, com Bolsonaro e Luciano Hang. “Não tinha pobre, não tinha preto, não tinha trabalhador. Parecia a Ku Klux Klan”, declarou Lula, em um comício em Nova Iguaçu, dias depois.
Não foi a primeira vez que movimentos ligados ao presidente Bolsonaro utilizam da alusão simbólica à Ku Klux Klan. Ainda em 2020, o auto-intitulado grupo “300 do Brasil” marchou com máscaras e tochas de fogo até o Supremo Tribunal Federal. Em abril deste ano, no bairro Moinhos de Vento, região de classe média alta de Porto Alegre, em ato político de apoiadores de Bolsonaro, a palavra de ordem “Nosso carrasco” foi anunciada por um dos organizadores da manifestação ao microfone ao passar a palavra para um vulto com capuz e indumentária assemelhada à da KKK em posse de um boneco enforcado, que passa a desferir discurso de ódio e violência.
Em outro episódio, em 2021, Felipe Martins, assessor da Presidência para assuntos internacionais, foi denunciado por fazer um gesto supremacista – com forma arredondada entre o indicador e o polegar – em uma sessão do Senado. O gesto é usado por supremacistas do mundo inteiro, inclusive por autores de um atentado na Nova Zelândia.
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