Pular para o conteúdo
BRASIL

Telefonema de Bolsonaro foi para proteger ex-ministro. CPI Já!

Ordem para busca e apreensão na casa de Milton Ribeiro já havia sido dada quando Bolsonaro telefonou ao ex-ministro, avisando de um “pressentimento”

da redação
Jair Bolsonaro e Milton Ribeiro
Sérgio Lima/Poder360

O escândalo de corrupção envolvendo o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, está se desdobrando em um grave problema para Bolsonaro, em especial pelos fortes indícios de interferência do próprio presidente no caso e por sua proximidade com os pastores.

Um dos principais indícios está no áudio vazado de uma conversa entre o ex-ministro e sua filha, no qual o ex-ministro comenta que havia recebido uma ligação do presidente no qual é alertado de uma possível operação da PF de busca e apreensão. Milton fala de que Bolsonaro teria um “pressentimento” de que esta operação poderia ocorrer.

A conversa gravada ocorreu no dia 9 de junho. O ex-ministro diz ter falado com o presidente naquele dia, quando Bolsonaro estava nos Estados Unidos, na Cúpula das Américas, acompanhado do ministro da Justiça, Anderson Torres.

No momento em que a ligação foi feita, portanto, a ordem para a busca e apreensão pela Polícia Federal já havia sido tomada. O delegado Bruno Calandrini, que denunciou interferência na investigação, já havia determinado busca e apreensão contra Ribeiro em 9 de junho. O pedido havia sido feito em 4 de abril e autorizado pela Justiça Federal do DF, em 17 de maio.

Em certo momento da ligação entre Milton e sua filha, ela o alerta que está “ligando de um celular normal” e a conversa muda de rumo, o que também dá indícios da utilização de celulares frios por parte do ex-ministro, reforçando a necessidade de investigação.

O pressentimento de Bolsonaro. Áudio comprova que o Presidente alerta ex-ministro investigado por corrupção de iminente operação de busca e apreensão em sua casa.

Pedido de CPI será protocolado nesta semana

A liberdade dada ao ex-ministro pela justiça não deve diminuir a pressão contra o governo. Parlamentares da oposição, como Randolfe Rodrigues (REDE-AP), conseguiram reunir 28 assinaturas de senadores, número suficiente para a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o escândalo do “gabinete paralelo do MEC”, cujo pedido deve ser protocolado nesta terça-feira, 28. Ao mesmo tempo, senadores também deram entrada no STF com uma denúncia contra Bolsonaro, em base a acusação de violação de sigilo e obstrução de justiça, depois que foram vazados os áudios do ex-ministro e sua filha.

O atual ministro da Justiça, Anderson Torres, apesar de já ter afirmado na imprensa de que em nenhum momento tratou com o presidente sobre o caso, deverá comparecer ao Congresso para prestar esclarecimentos nos próximos dias.

Esta não é a primeira vez que Bolsonaro intervém na PF. Anteriormente, o presidente articulou a partir do Ministério da Justiça a remoção de um delegado da PF do RJ que estaria investigando um de seus filhos e, em outro episódio, removeu um delegado da PF, Alexandre Saraiva, que estava investigando o então ministro Ricardo Salles, por possível favorecimento a extração ilegal de madeira na Amazônia.

Em vídeo, Bolsonaro defendeu novamente o ex-ministro e afirmou que não haveria crime – Ribeiro foi preso acusado de quatro crimes, entre eles corrupção passiva. “todos os prefeitos eram atendidos, mas dava-se prioridade aos indicados pelo pastor. O que tem de mais nisso? Nada demais”, afirmou o presidente da República, desafiando a inteligência dos seus apoiadores e debochando de todos nós. Bolsonaro mente. Como afirmou o ex-ministro Ribeiro, a liberação de recursos ocorria apenas para “casos mais graves” e para os indicados pelo pastor Gilmar Santos.

A exigência de investigações e a instauração da CPI do MEC, às vésperas das eleições de outubro, ainda que sejam processos vagarosos e alijados das ruas, pode cumprir o importante papel de investigar a fundo e revelar mais capítulos do esquema que foi montado para favorecer a política destes pastores, em troca de apoio ao governo. Denúncias que podem impulsionar os processos de luta que existem hoje nas universidades e institutos federais, contra os cortes e por reajuste salarial, e na educação, contra os efeitos da reforma do ensino médio.

O governo vai tentar impedir a CPI, no que já conta com declarações do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pois sabe que uma CPI pode trazer ainda mais desgaste sobre Bolsonaro e seus aliados, ajudando a esvaziar toda a demagogia pretensamente anti-corrupta que ainda resta em seu discurso, enfraquecendo ainda mais qualquer chance de eleição.