Coluna ‘Rádio Peão’ – denúncias e relatos do cotidiano do trabalhador
Por: Lucas Fogaça, da região do Vale dos Sinos, Rio Grande do Sul
Texto publicado no Jornal do Vale dos Sinos
A sociedade brasileira vive uma aparente contradição. De um lado cresce o desemprego: já são mais de 12 milhões de desempregados no Brasil, 33,9% a mais que no mesmo período do ano passado. De outro lado, também cresce o número de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Segundo o Anuário de Saúde do Trabalhador elaborado pelo DIEESE, o número de acidentes de trabalho cresceu 43% nos últimos 10 anos, com um forte avanço no último período. Mas se tem menos gente trabalhando não deveria ter menos acidente?
Deveria mas não é bem assim. Os trabalhadores que estão empregados estão “compensando” a diminuição nos postos de trabalho com sua própria saúde: estão trabalhando mais horas e com um ritmo de trabalho maior e essas são duas grandes causas de acidentes de trabalho. Afirmou o juiz do trabalho Fabio Soares em entrevista à imprensa que apesar da legislação ser rigorosa, o que falta é fiscalização e o cumprimento das normas regulamentadoras. O Brasil é o quarto país no mundo com mais acidentes de trabalho, atrás apenas da China, Índia e Indonésia.
Mas em se tratando das doenças ocupacionais o furo é bem mais embaixo. As doenças ocupacionais são aquelas doenças que causam alterações na saúde do trabalhador provocadas por fatores relacionados com o ambiente de trabalho como a LER (lesão por esforço repetitivo), tuberculose, doenças da coluna e transtornos mentais como a depressão. Mas, por serem doenças em que há mais resistência do judiciário e dos empregadores em reconhecer a vinculação com o ambiente de trabalho, acabam por ficarem “ocultas”, muitas vezes sequer aparecendo como oriundas da situação laboral. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), somente 14% dos 2,3 milhões de trabalhadores que morrem todo ano no mundo em razão do trabalho são vítimas de acidentes, frente a 86% de mortes como consequência de doenças ocupacionais. Por isso a OIT considera as lesões como uma “pandemia oculta”.
A menos que se altere a lógica das medidas governamentais em curso, o desemprego tende a aumentar ainda mais. E com isso aumentar também os acidentes de trabalho e as lesões ocupacionais. Cabe às entidades representativas dos trabalhadores como as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes de Trabalho (CIPA) e os sindicatos, além dos órgãos de fiscalização, enfrentar esta tendência para que não sejam os trabalhadores que paguem com a saúde os efeitos da crise econômica e do descumprimento da legislação trabalhista.
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