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BRASIL

Impeachment: o tempo está se esgotando

Gibran Jordão*, de São Paulo, SP
Em Brasília, frase no chão, no local do ato: Feijão sim, fuzil não.

Mosaico no ato de Brasília

Há dois elementos contraditórios nos debates sobre o que fazer após os acontecimentos do 7 de setembro no Brasil. Bolsonaro mostrou força com suas mobilizações e está avançando com um golpe em marcha ou está usando seus últimos cartuchos, pois seu governo está numa dinâmica irreversível de desgaste?

O Bolsonarismo tem uma estratégia golpista muito bem definida, e aplica desde o início do seu governo a tática de aproximações sucessivas. Morde e assopra, enverga a vara e logo depois distensiona, e assim, muitas vezes, avança aos poucos, quando dá dois passos a frente e um atrás…

Não precisamos ficar apaixonados em querer provar se o copo está cheio ou vazio. O mais importante é entender os mecanismos da disputa política que opera a extrema direita no Brasil, e que tem conexões e exemplos internacionais. O Bolsonarismo tem uma estratégia golpista muito bem definida, e aplica desde o início do seu governo a tática de aproximações sucessivas. Morde e assopra, enverga a vara e logo depois distensiona, e assim, muitas vezes, avança aos poucos, quando dá dois passos a frente e um atrás…  Esse tipo de tática tem seus riscos, pois sempre há imprevistos e erros podem ser fatais ou amargos, como já disse Lira e o seu botão amarelo.

Em vários episódios, durante todo o seu governo, atacou e elogiou a China, ofendeu e afagou ministros do STF, abraçou e xingou Rodrigo Maia, ameaçou golpe, para logo depois dizer que joga dentro das quatro linhas da constituição. Em todo esse processo foi aplicando ideias e reivindicações golpistas no seio dos simpatizantes e apoiadores, nas ruas e nas redes. Financiou grupos de extrema direita e criou um meio de cultura para o desenvolvimento do neofascismo no país. Visitou sistematicamente assembleias de pastores e padres fundamentalistas, quartéis, moto clubes, associações de militares, recebeu parlamentares e personalidades da extrema direita mundial… E por estar fazendo apostas  perigosas, conscientemente tratou de se blindar a peso de ouro, na câmara dos deputados, comprando de Lira uma espécie de naturalização de manifestações golpistas como uma expressão da  liberdade de opinião.

Bolsonaro “mordeu” no 7 de setembro, fez nitidamente ameaças golpistas insuflando seus apoiadores que foram ao delírio. Em especial os mais radicais, que acreditavam profeticamente que o “messias”, “o mito”, iria fechar o STF. A cena dos bolsonaristas chorando de emoção em Brasília, acreditando no estado de sítio, é chocante! Há elementos de fanatismo que colocam seus seguidores numa realidade paralela. Entre muitos, não há mais senso crítico de absolutamente nada que envolve a presidência da república e aliados… Nada muda se Queiroz bate continência para Roberto Jefferson no meio da manifestação em Copacabana, o Messias é um enviado de Deus em luta numa guerra espiritual. Contra o pensamento mágico, não há argumentos, e isso carrega imensos perigos.

Isso significa que estamos agora na fase do “assopra”, a cúpula do governo sabe que atravessaram o rubicão sem reunir ainda forças suficientes para consumar um golpe e governar após isso. Abriu-se uma forte crise institucional, que deslocou pela primeira vez setores de peso da direita liberal, com as movimentações mais próximas de assumir o impeachment por parte do PSDB, PSD… Ao mesmo tempo em que parte do movimento dos “caminhoneiros do Agro” ficaram fora de controle. O bloqueio nas rodovias poderia (ou ainda poderá) jogar o país numa hiperinflação, desabastecimento e caos social completamente inimagináveis.

O dólar disparou e a bolsa desabou, e antes que o mercado financeiro desse o seu ultimato, Bolsonaro se moveu rápido. Mas como nenhum integrante do governo, muito menos o próprio presidente da república, tinha algum milimetro de credibilidade para restabelecer o diálogo entre os poderes num curtíssimo espaço de tempo, Bolsonaro teve que recorrer a Michel Temer, ex -presidente da republica, que indicou Alexandre de Morais para a vaga de ministro do STF.

Temer vai apaziguar?

Bolsonaro mandou buscar o capitão do golpe de 2016, para ajudar a interceder junto ao ministro Alexandre de Morais. Temer dirigiu a costura, os mercados se acalmaram, várias empresas voltaram a retomar o seu valor de mercado, a Febraban contou até dez… Mas fica a pergunta, foi restabelecida a confiança entre os poderes? Alexandre de Morais vai arquivar ou vai avançar com prisões de mais bolsonaristas? Bolsonaro negocia posições nesse momento apoiado no peso das suas manifestações?

Não sabemos se a intervenção de Temer é paliativa ou se o ex-presidente trabalha para se destacar a serviço da burguesia, apaziguando de vez o processo. A crise econômica pode se aprofundar, a popularidade do governo pode derreter mais, novos deslocamentos no congresso para oposição podem acontecer. Mas tudo ainda são tendências, hipóteses… Que não vão até as últimas consequências, se não houver um contra movimento de rua ainda maior que o 07 de setembro bolsonarista. É preciso criar o imprevisto…

Mover a maioria nas ruas

Embora o bolsonarismo tenha feito uma imponente demonstração de força e mobilização política no 07 de setembro. O seu movimento não é maioria… Vamos admitir, é uma vitória política da extrema direita brasileira ter quase 1/3 do eleitorado. E é uma derrota política da esquerda ter perdido o monopólio das ruas nos últimos dez anos. Eles conseguem mobilizar centenas de milhares nas ruas sem ajuda da “direita liberal-democrática.” Façanha que a esquerda socialista sozinha no Brasil quase nunca conseguiu fazer, sem estar em unidade com a esquerda moderada…

Mas ao mesmo tempo é possível notar que a maioria do povo brasileiro rejeita Bolsonaro e o bolsonarismo, é uma tendência que está se consolidando… Nesses amplos setores da sociedade que querem o impeachment de Bolsonaro, estão pessoas de esquerda e suas variantes, mas também há pessoas e correntes de grande alcance que estão no campo da oposição de direita.

Para aqueles que realmente querem impor pela força da mobilização o impeachment de Bolsonaro é preciso organizar essa maioria social anti-bolsonarista para se mover em unidade em torno da palavra de ordem Impechment Já – Fora Bolsonaro! Assim como foi feito no super pedido de impeachment que reuniu todos que já se decidiram em impedi-lo. Trata-se de uma articulação muito difícil, pois a vacilação em compreender que a tarefa numero um é derrubar Bolsonaro, ainda encontra muitos obstáculos no subjetivo de muitas organizações da esquerda e da direita…

Se as direções e organizações políticas de peso no país, localizadas na oposição de esquerda ou de direita fizerem um acordo em torno de uma campanha pelo impeachment. É possível colocar em movimento nas ruas e nas redes a maioria social que deseja que Bolsonaro saia imediatamente da presidência da república.

Não se trata de acordo eleitoral ou programático, estamos falando de unidade de ação episódica em torno de um único ponto: O Impeachment de um neofascista!

Construir o “imprevisto”: unidade de ação com a oposição de direita para derrubar um governo neofascista!

Bolsonaro não tem maioria social, mas consegue mobilizar uma minoria de massas. Num cenário onde a maioria que o rejeita se dividir ou até mesmo se fragmentar. O governo de extrema direita não será impedido, tendo mais tempo e chances de preparar uma nova aproximação da sua estratégia golpista. Que poderá ser ainda mais forte e de consequências mais danosas.

Não seria bom pagar para ver e abrir mão de aproveitar a janela que se abriu na atual conjuntura. Se começou a ter deslocamentos que fortalecem posições pró Impeachment, precisamos buscar uma articulação que faça esse processo avançar. Assim como foi feito no movimento diretas já da década de 80, é preciso fazer agora, a unidade de todas as forças contrárias a extrema direita golpista. Curiosamente o inimigo é o mesmo (embora em governo e regime diferentes), só que a correlação de forças comparada àquela época, é mais desfavorável para os trabalhadores. O que justifica ainda mais uma unidade de ação entre oposição de esquerda e a oposição de direita. Com um único objetivo, derrubar um neofascista do poder.

Enquanto primar a divisão, fragmentação e atos de vanguarda apartados do sentimento de revolta do povo trabalhador. Bolsonaro mesmo desgastado, vai seguir governando e se aproximando do seu objetivo estratégico.

Mesmo com toda situação trágica do país, ainda não existe um movimento espontâneo das massas em ação contra o governo. As mobilizações ainda dependem muito do papel decisivo da convocação das direções, lideranças e organizações que têm alcance de massas. É justamente por isso que o papel de dirigentes históricos como Lula nesse momento é decisivo. Está sobre a responsabilidade do PT costurar uma frente pelo Impeachment com a oposição de direita… Se o único objetivo da maioria dos dirigentes petistas for aguardar 2022, podem estar diante de mais um erro que dessa vez poderá ser terminal.

Pra terminar um poema releitura de Bertold Bretch:

“Quando na década de 90, ele disse que daria um golpe matando uns 30 mil, inclusive FHC, ninguem ligou, nem todo mundo era tucano…

Quando no golpe de 2016 ele prestou homenagem ao torturador Carlos Alberto Ustra, o terror de Dilma… Muita gente deu rizada, nem todo mundo era petista…

Quando em meio a Pandemia com mais de meio milhão de mortos ele disse ” e daí? “, não teve também nenhuma iniciativa, nem todo mundo morre com Covid19 mesmo…

Quando ele mobilizou a massa contra o STF, e disse que não respeitaria mais as decisões de um ministro. Também não aconteceu nada, afinal era só o “calor do momento”…

Daqui a pouco, ele vai avançar o rubicão pra valer, e nós não poderemos falar mais nada, porque não teremos mais a chance de nos manifestar.”

Impeachment já – Fora Bolsonaro!

*Membro da Coord. da Travessia Coletivo Sindical e Popular.

 

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Fora Bolsonaro