Milhares de pessoas foram às ruas nesse domingo (04) em protesto contra o Congresso e em defesa da Lava Jato. Os atos foram muito menores do que os realizados quando do impeachment de Dilma (PT), mas mesmo assim tiveram ampla divulgação na grande mídia, em especial na programação da Globo.
A Polícia Militar, sempre simpática a essas manifestações da direita, calculou que havia 15 mil participantes na Avenida Paulista (SP). Em outras capitais, como no Rio, Curitiba e Porto Alegre, os atos não chegaram a 10 mil pessoas. Ainda que não tenham sido desprezíveis, os protestos liderados pelo MBL, Vem Pra Rua e grupos pró Ditadura Militar, não empolgaram as camadas médias que meses atrás bateram panela pelo impeachment.
De todo modo, o movimento de massas da direita organizada, que entrou em cena em março de 2015, teve continuidade nesse domingo. Com bandeiras, camisas e faixas em efusivo apoio ao juiz Sérgio Moro, os protestos tomaram o lado do Judiciário no confronto com o Congresso de ladrões chefiado por Renan Calheiros e Rodrigo Maia. O governo Temer (PMDB), por sua vez, foi preservado, o que demonstra o interesse de manter, ao menos por enquanto, a sustentação do presidente golpista.
Protestos reacionários e a esquerda socialista
Alguns setores da Esquerda flertam perigosamente com o apoio a essas manifestações. Sugerem que apesar do caráter reacionário de suas direções, os atos cumpririam um papel progressivo.
Consideramos essa postura um grave erro. Os atos organizados pela direita, com seu programa neoliberal e racista, sua direção burguesa, ideologia anticomunista e composição social baseada na classe média abastada, são fortemente reacionários.
O MBL e o Vem pra Rua utilizam-se da bandeira de combate à corrupção – demanda democrática de forte apelo nas camadas médias – para pavimentar caminho para saídas regressivas.
A esquerda socialista deve, sim, apresentar um programa concreto contra a corrupção, desde uma perspectiva anticapitalista. Não podemos deixar nas mãos da direita essa pauta: concordamos que é preciso disputar setores da classe média enojadas com a podridão da política. Sabemos também do trágico papel da direção do PT que, ao ter mergulhado na lama da corrupção capitalista, sujou o nome da esquerda no imaginário popular, dando espaço, assim, para o crescimento de uma nova direita.
Porém, consideramos que a esquerda que confunde-se com a direita e a extrema-direita para disputar esse processo, se valendo de seus slogans e linguagem, e conferindo sinal positivo a suas ações, está fadada ao fracasso.
É preciso reconhecer que existe um movimento de massas da direita, que é dirigido pela burguesia e composto pela classe média que girou à direita. Foi justamente esse bloco político-social que sustentou o golpe parlamentar. Nesse momento, coloca-se contra Renan e a favor de Moro; futuramente poderá, a depender da evolução do quadro político, pedir a cabeça de Temer. Mesmo nesse caso, este movimento seguirá tendo um caráter reacionário.
Só é possível dividir a classe média, arrastando um setor dela para um movimento progressivo, se os trabalhadores e a juventude entram em ação de modo independente, apresentando à Nação um programa próprio para saída da crise e o desenvolvimento do país.
É necessário, sim, articular a luta contra o ajuste neoliberal com a pauta democrática de combate anticapitalista à corrupção. Mas é preciso ter a coragem de dizer aos trabalhadores que a corrupção não é o principal problema do país, e sim a exploração, o desemprego e o ajuste burguês. É preciso ter a coragem de dizer que a Lava Jato não acabará com a corrupção, que seu verdadeiro objetivo não é este, mas sim construir uma saída regressiva à crise. É preciso ter a coragem de dizer que Moro e seus homens estão submetidos a interesses imperialistas de rapina do Brasil, que preservam o PSDB e pisam em direitos democráticos básicos, operando uma escalada autoritária.
A esquerda que capitula à ofensiva reacionária da Lava Jato e às manifestações da direita, semeando a ilusão de que é possível vencer no campo do inimigo, uma vez que este hoje tem ampla popularidade nas massas, desarma a vanguarda perante as difíceis e complexas tarefas do momento presente.
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
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