A CONMEBOL anunciou nesta segunda, 31, que o Brasil será a sede da Copa América 2021 que começa no dia 13 de junho. A decisão vem após Colômbia e Argentina recusarem sediar a competição por questões sanitárias — no caso da Colômbia houve, além da covid, a pressão popular, pois o país é palco de manifestações gigantescas há mais de um mês.
A pandemia no Brasil está muito longe de estar controlada, a vacinação anda a passos lentos e o país não se preparou em nenhum aspecto para receber um grande torneio internacional. Aceitar a Copa América despreza o potencial de contaminação e de transmissão de Cepas que podem vir com as delegações e com equipes de imprensa, etc. É acelerar o ritmo de contágio de covid e matar mais brasileiros. A realidade é que todos os brasileiros sabem que o papel do governo federal durante toda a pandemia tem sido justamente auxiliar o vírus.
Estão corretos os comentaristas esportivos que se pronunciaram no mesmo dia, condenando a realização dos jogos, como Casagrande, que afirmou: “Será uma Copa América macabra, com jogos da morte. Será um deboche quando fizerem minuto de silêncio pelos mortos do Brasil.” Ele chamou ainda o presidente da CBF, Rogério Caboclo, de negacionista.
CONMEBOL: O Futebol acima da vida
A confederação tem colocado sua estrutura para forçar a realização de seus torneios, na marra, em meio a pandemia. Na Libertadores colocou as seis rodadas da fase de grupos num curto espaço de tempo e não houve adiamento de partidas, nem diante de um surto de covid entre os jogadores do River Plate nem em um contexto de rebelião popular, como na Colômbia.
O caso mais vergonhoso foi o fura-fila da vacinação de times que disputaram a Libertadores e Sulamericana. Em parceria com o governo do Uruguai a CONMEBOL garantiu que jogadores, técnicos e dirigentes fossem vacinados na frente de pessoas idosas, e em países que estão em estágios muito atrasados de vacinação.
Jogador do Atletico-GO se vacina no Paraguai, em um momento no qual o país tinha apenas 1% de sua população imunizada.
Interesses de mercado…
Sediar a Copa América tem um forte atrativo que é o dinheiro de bilheteria e das cotas de televisão. Em 2019, a arrecadação com os ingressos nas partidas somou R$ 170 milhões. Só a renda de Brasil 3 x 0 Bolívia superou os R$ 22 milhões.
O comentarista Luis Roberto, da SporTV, condenou ao vivo a confirmação da competição. “Isso é uma vergonha. Essa Copa América já não deveria ser realizada. A pandemia interrompeu várias competições mundo afora. Neste momento, é só mais um torneio caça-níquel”, afirmou.
Mas o dinheiro mesmo vem da transmissão, com venda de publicidade. Após disputa, a competição será transmitida no Brasil pelo SBT, que tem os direitos deste evento e da Libertadores. Para se ter uma ideia do valor envolvido, o SBT pagou cerca de US$ 8 milhões (R$ 41 milhões) pelos direitos de exibir os jogos em TV aberta, assinatura e streaming. Um pequeno investimento, perto do que irá arrecadar com publicidade.
O episódio revela a relação direta da emissora com o governo federal, construída em grande parte pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, genro do fundador da empresa, Silvio Santos. Eleito deputado federal pelo RN, Faria é hoje figura influente no núcleo duro do governo e próximo à família Bolsonaro.
Nesse caso fica nítido como além de não ter preocupação alguma em conter o impacto da covid, o governo Bolsonaro tem interesses em garantir a realização de um evento que vai lhe gerar frutos políticos e econômicos.
Uma Copa para afastar a crise
No caso da Copa América, o evento não poderia chegar em melhor momento para o governo Bolsonaro. Acuado pelo retorno das manifestações de rua e pela CPI da Pandemia, entre outros fatores de crise, o bolsonarismo vai se apegar aos jogos e tentar utilizá-lo para sair de foco. Uma vitória da seleção brasileira, por exemplo, seria uma pauta positiva, que o ajudaria a melhorar sua popularidade. E isso, às vésperas de outro grande evento esportivo, as Olimpíadas, que iniciam em 23 de julho, em Tóquio.
É inegável que o governo Bolsonaro utiliza-se do futebol como instrumento de populismo barato para se aproximar dos símbolos nacionais, assim como Médici fez durante seu governo nos anos de chumbo. A presença constante em estádios – em especial em momentos de crise, como com Moro – e o recorrente uso de camisas de grandes clubes ajudam a construir essa imagem e a aproveitar-se da paixão popular.
É preciso rejeitar a Copa América e todas as medidas autoritárias do governo Bolsonaro.
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