No álbum “Casa do Samba 3”, de 1999, Nelson Sargento interpreta, em parceria com Chico César, “Cântico à Natureza”, uma de suas músicas mais conhecidas, que serviu de samba-enredo para a Mangueira em 1955. No final da gravação, Chico faz uma bonita homenagem: “No batalhão desse sargento, eu sou recruta, viva a Mangueira”. Nelson, generoso como sempre foi, responde: “Está promovido a oficial, foi um prazer cantar com você, vou te levar pra Mangueira”.
Nelson foi um gigante. Será eterno. Um símbolo do Brasil que resiste ao Brazil
Se em 1999 essa diferenciação entre sargentos e Sargento já fazia sentido, hoje ela é ainda mais importante. É durante um governo de capitães e generais-da-ativa que perdemos o nosso Sargento.
Nascido em julho de 1924, Nelson Sargento faleceu hoje, 27 de maio de 2021, aos 96 anos. Com sua vida dedicada ao samba e às artes, Nelson foi uma referência para muitas e muitas gerações. Multiartista, foi compositor, cantor, pintor, pesquisador e escritor.
Autor de clássicos do samba, como “Agoniza Mas Não Morre”, “Falso Amor Sincero”, “Cântico à Natureza” e “O Samba do Operário”, foi parceiro de Cartola, Jamelão, Jair do Cavaquinho, Wilson das Neves, Guilherme de Brito, Dona Ivone Lara e outros grandes nomes do samba. Nos anos 1960 fez parte do grupo “A Voz do Morro”, junto com Paulinho da Viola, Zé Keti, Jair do Cavaquinho, Elton Medeiros, José da Cruz e Anescarzinho do Salgueiro.
Foi, até o fim de sua vida, um lutador em defesa do samba e da cultura popular brasileira. No último carnaval, participou de um ato no Museu do Samba que chamava a atenção para a importância de ajudar financeiramente os artistas do carnaval. Em 2019, aos 95 anos, ainda viajava pelo Brasil cantando suas músicas. Só parou de fazer shows por conta da pandemia.
Presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira, recebeu diversas homenagens da escola e também de outras agremiações, como no enredo “Samba Inocente, Pé no Chão”, da Inocentes de Belford Roxo, em 2015. No épico desfile da verde-e-rosa em 2019, Nelson desfilou representando Zumbi dos Palmares; em 2020, representou José, pai de Jesus.
Nelson foi um gigante. Será eterno. Um símbolo do Brasil que resiste ao Brazil. Um sargento que nos orgulhamos de termos sido recruta, mesmo que por apenas um momento. É preciso agradecer por termos sido contemporâneos desse ícone. Obrigado, Nelson, por tudo!
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