Por: Mayara Conti*, de São Paulo, SP
O Banco do Brasil anunciou recentemente uma série de medidas que fará parte da reestruturação do banco no próximo período. Dentre elas, está o fechamento de centenas de agências bancárias e um plano de incentivo a aposentadoria no qual pretende-se desligar cerca de nove mil funcionários, o que corresponde a 8% de seu quadro atual.
A notícia tem desesperado os funcionários da ativa, que devem sofrer uma redução drástica no salário, em decorrência dos descomissionamentos, enquanto a pressão por metas e resultados deve se intensificar muito com a redução do quadro. Além disso, está cada vez mais nítida a intenção estratégica do governo federal e da diretoria do banco: preparar o desmonte daquilo que resta de público no BB e deixar o terreno pronto para sua completa privatização.
Estatais na mira do ajuste fiscal
Não é só o Banco do Brasil que passa por essa situação lamentável. Ainda no âmbito dos bancos públicos, a Caixa Econômica já desligou cerca de três mil empregados no último plano de aposentadoria incentivada, e pretende desligar mais dez mil no ano que vem.
A Eletrobrás apostou no PDV, além dos planos de aposentadoria, e, no mesmo caminho, a Petrobras contou com adesão de 11.704 empregados no PDV de agosto.
Combinado com esse plano de demissões está também a venda de ‘pedaços’ dessas empresas, como a Caixa Seguros e a Lotex, parte importante do Pré-sal que já foi entregue ao capital estrangeiro, metade do banco do Brasil, que já é uma empresa de economia mista, entre outras.
Ou seja, se durante o governo Dilma já vivíamos o desmonte ‘fatiado’ das estatais, no governo Temer a guilhotina já está afiada pra acabar com tudo de uma só vez.
O capital engorda, os trabalhadores e a população sofrem
Há três aspectos centrais que afetam diretamente nossas vidas com o desmonte das estatais: o primeiro tem a ver com os próprios trabalhadores dessas empresas, que sofrerão com o corte de salários, extinção de vagas, acúmulo de serviço, assédio moral, adoecimento, etc.
O segundo tem a ver com os usuários e clientes dessas empresas, que passarão a ser atendidos de maneira muito mais precária. Por exemplo, com o fechamento das agências ditas deficitárias da Caixa, o povo pobre que mora na periferia e hoje conta com agências próximas aos locais de moradia para sacar o Bolsa Família ou o seguro desemprego, terá que se deslocar pela cidade para conseguir atendimento, e com certeza encontrará filas enormes e falta de funcionários nas agências, devido à concentração do atendimento nesses locais.
O terceiro e talvez mais nefasto de todos é que, com a galopante privatização das estatais, o estado brasileiro está entregando recursos nacionais ao capital internacional, deixando de gerar renda para áreas hoje tão deficitárias (essas sim!) como saúde, educação e moradia no Brasil.
A defesa das empresas públicas é uma tarefa de todos nós
É por isso que os trabalhadores e a população devem resistir a mais esse ataque do governo Temer em conluio com o Congresso Nacional e as diretorias das estatais. Não podemos permitir que nossos recursos sejam entregues de bandeja, de forma tão descarada.
Também não devemos cair no discurso de que “empresa pública não presta” e “privatizar é a solução”. Muito pelo contrário. Se compararmos as condições de trabalho, a carga horária e os salários dos bancários, por exemplo, fica nítido o abismo que existe:
Um operador de caixa do Santander recebe quase a metade do salário que receberia se fosse empregado da Caixa Econômica Federal.
Outro discurso falacioso é de que “as empresas estatais são muito mais passíveis de corrupção e por isso devem ser privatizadas”. É claro que a corrupção deve ser combatida nas empresas públicas, com todo rigor, sem dúvidas. Mas encontramos uma quantidade muito maior de empresas privadas envolvidas em corrupção se analisarmos a lista da Lava Jato. Por exemplo, são quatro estatais e mais de 30 empresas privadas.
As empresas estatais são um patrimônio nosso, que deve ser defendido e preservado por todos.
Trabalhadores do Banco do Brasil resistem em São Paulo
Hoje (29) foi um dia de luta importante na capital paulista para os bancários do Banco do Brasil. Uma assembléia realizada às 11h em frente ao prédio da São João votou pela paralisação das unidades do Centro, em protesto contra a reestruturação.
A oposição bancária vem insistindo há muito tempo pela realização de assembleias unificadas para que a categoria possa elaborar conjuntamente um plano de lutas que seja capaz de barrar a reestruturação. Somente a partir da organização dos trabalhadores é que será possível enterrar a reestruturação e dobrar o governo.
*militante do MAIS e bancária da Caixa Econômica Federal
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