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MUNDO

Equador polarizado entre esquerda e direita para o 2º turno

David Cavalcante, de Recife, PE

A maioria dos institutos de pesquisa para o segundo turno das eleições presidenciais no Equador, a ser realizado neste domingo, revela uma forte polarização entre os dois candidatos à Presidência do país andino, com uma tendência à vitória do candidato apoiado pelo ex-Presidente Rafael Correa.

De um lado, concorre o candidato Andrés Arauz, que foi Ministro do Governo Rafael Correa e conseguiu passar em 1º lugar com mais de 32% dos votos válidos no 1º turno. Do outro, o banqueiro Guillermo Lasso, cuja candidatura é apoiada por toda a velha direita equatoriana e pelos grandes grupos econômicos, que passou com uma curta margem de diferença em relação ao 3º colocado, o candidato indígena Yaku Perez do Partido Pachakutik, que, por sua vez, recorreu do resultado, sem sucesso, ao Conselho Nacional Eleitoral para que houvesse recontagem em várias Províncias, onde supostamente poderia mudar o resultado de quem passaria em 2º lugar.

O resultado do 1º turno indicou uma onda eleitoral de apoio aos candidatos de oposição de esquerda e centro esquerda, somando mais de 67%, que também se traduziu na eleição de parlamentares com o mesmo perfil para uma maioria progressista na Assembleia Nacional. Sendo que a candidata do então partido de Moreno, Ximena Peña, inscrita pelo Aliança País (usurpado pela justiça contra Correa em favor de Moreno) obteve somente 1,54% dos votos.

O desastre eleitoral de Lênin Moreno foi resultado principalmente das jornadas indígenas e populares, em outubro19, contra o pacote econômico que, sob exigências de um acordo que retomou relações com o FMI, promovia demissões e retirada de direitos dos trabalhadores públicos, além de cortar subsídios à gasolina e ao diesel, causando aumentos de até 100% ou mais, na bomba dos postos de gasolina. O projeto da reforma trabalhista e tributária previa o retorno do contrato temporário de trabalho (proibido em 2016), além da redução de salários, redução de férias remuneradas de 30 para 15 dias, confisco de um dia de trabalho de todos empregados públicos e previsão de aumentos do Imposto de Valor Agregado-IVA, entre outras maldades.

A revolta popular e indígena de 2019 se alastrou para todo o país e teve a participação também de importantes setores da juventude e do movimento sindical nas principais cidades do país. As principais organizações indígenas representantes das nacionalidades originárias do país, com destaque para Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador-CONAIE, demonstraram sua potência e capacidade de liderar lutas massivas, liderando o conjunto dos setores populares do país, e questionando diretamente o poder central, e apesar de não terem pautado a caída de Moreno naquele contexto, barraram uma parte do pacote e saíram fortalecidas. O governo, cambaleando, impulsionou depois uma caça às bruxas contra lideranças sociais e políticas.

O 1º turno foi o coroamento da derrota de Moreno que, apesar de ter sido eleito com o apoio de Rafael Correa, adotou uma guinada neoliberal e rompeu com seu antecessor, apoiando também ações jurídicas com padrões de law fare (guerra jurídica com a manipulação das leis como instrumento de combate a opositores, desrespeitando os procedimentos legais e os direitos do indivíduo que se pretende eliminar politicamente), sendo uma das principais vítimas o próprio Rafael Correa que foi condenado à prisão e perda dos direitos políticos que impediu seu retorno como candidato.

Neste domingo, 11 de abril, se decidirá a contenda política e eleitoral, em meio a uma forte crise econômica e eleitoral agravadas pela pandemia e após um colapso do sistema de saúde e do sistema funerário, que tomaram as páginas dos jornais do mundo inteiro com corpos de cadáveres abandonados nas ruas de Guayaquil, no início da pandemia. Após o 1º turno também houve rebeliões nos presídios do país causando a morte de dezenas de detentos, revelando também a falência do sistema prisional.

O grande desafio de Andrés Arauz é conseguir capitalizar no 2º turno o sentimento majoritário da sociedade de oposição ao governo Moreno, já revelado nas urnas para a esquerda e centro-esquerda, enfrentando a decisão de Pachakutik em chamar o voto nulo e uma campanha indireta de Yaku Perez contra Correa e Andrés Arauz.

Por outro lado, o movimento indígena poderá sofrer rachas importantes resultantes, tanto dos questionamentos metodológicos sobre a escolha da candidatura no 1º turno à Presidência como de diferenças políticas fortes que foram aumentando, na medida que os questionamentos de Yaku Perez aos resultados eleitorais miraram também o correísmo como se Correa tivesse o poder de, além de controlar o Tribunal Eleitoral que perseguiu ele mesmo, interferir no nome que passaria ao 2º turno.

Os posicionamentos divergentes dentro de Pachakutik e da CONAIE cresceram em relação aos candidatos do 2º turno, que precipitaram a expulsão de Jaime Vargas (atual Presidente da CONAIE) das fileiras de Pachakutik, decisão que poderá gerar grandes sequelas. Vejamos o que dirão as urnas.

 

*David Cavalcante é Cientista Político

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