O ano de 2021 veio junto a uma segunda onda da COVID-19, no Brasil, ainda pior que a primeira. Além de haver uma nova cepa ainda mais transmissível, soma-se a isso o fim do auxílio emergencial, a falta de políticas públicas de proteção ao emprego e à renda, o aumento no preço da cesta básica e o colapso do sistema público de saúde em diversas cidade. Frente a essa situação, é completamente irresponsável o retorno às aulas presenciais sem imunização, defendido por governantes de todo o país.
O Brasil se aproxima do número de 10 milhões de infectados e 300 mil mortos pelo coronavírus, frutos de uma política negacionista e genocida do governo federal. A curva de infecção, em ascensão, tem demonstrado a impossibilidade de se abrir as escolas sob o risco de aumento da contaminação, como aconteceu em diversos países ao redor do mundo.
A pandemia também escancara a realidade racista em que vivemos. Se por um lado a contaminação é possível a todos, é a população negra quem mais sofre com a letalidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, embora 18% da população do país seja negra, 52% dos casos e 58% das mortes por Covid-19 são de pacientes negros. No Brasil não é diferente, dados demonstram que negros e negras morrem 37% a mais por COVID-19 do que brancos.
Além disso, a situação se agrava pela falta de um calendário de imunização que proteja os profissionais da educação e estudantes. Sabe-se que o aumento da contaminação, além de gerar uma superlotação dos leitos, também pode representar uma ameaça à vacina à medida em que cria um ambiente perfeito para a mutação do vírus.
Soma-se a isso o fato de que as escolas públicas não têm uma infraestrutura adequada para um retorno saudável às aulas presenciais. Em diversas cidades, como no caso das escolas municipais de São Paulo, não há sequer profissionais da limpeza e itens de higienização. Segundo um levantamento do Dieese, 82% das escolas estaduais de São Paulo não contam com mais de dois banheiros. Faltam também equipamentos de proteção individual e sistemas de ventilação adequados.
Nós, do Afronte, defendemos as greves sanitárias protagonizadas por professores em todo o país. Com isso, nos opomos às medidas genocidas que vêm sendo tomadas pelos governos. Defendemos o retorno às aulas presenciais apenas com imunização da população e medidas de combate à desigualdade no ensino à distância.
Chamamos todos os estudantes a apoiarem as greves dos profissionais da educação.
Defender a vida e combater a desigualdade
Diante do agravamento da pandemia, a situação de diversos estudantes e de suas famílias tem se precarizado ainda mais. Segundo dados da Unicef, apenas 33% dos domicílios brasileiros contavam com pelo menos um computador e acesso à internet e 46% contavam com apenas celulares. Essa situação de desigualdade impôs uma dura realidade na aplicação do isolamento e do ensino remoto no Brasil.
A evasão escolar, em 2020, aumentou substancialmente. Entre os principais motivos, encontram-se a necessidade de complementação de renda, que faz com que muitos estudantes ingressem no mercado de trabalho precocemente, a dependência de estudantes da merenda escolar (que, segundo o MEC, beneficia 41 milhões de estudantes) e a pauperização cada vez maior da população (em 2020, 14 milhões de estudantes se beneficiavam pelo bolsa família). Essa situação assola principalmente jovens negros e das periferias.
Governadores e prefeitos oportunisticamente têm utilizado a situação de extrema vulnerabilidade dos estudantes e de suas famílias para justificar o retorno presencial. No entanto, ao mesmo tempo, os mesmos são responsáveis pelo fim do auxílio emergencial, que chegou a beneficiar 44% das famílias brasileiras, em 2020, segundo dados do próprio governo.
Por isso, defendemos as greves sanitárias e o não retorno presencial em defesa da vida. Defendemos também que os governos apresentem planos de combate à desigualdade na educação, como distribuição de chips de internet e notebooks, distribuição de merenda escolar para alunos em situação de vulnerabilidade e a volta do auxílio emergencial nacional.
Combater as desigualdades é também defender a vida. Diante de um aumento exponencial da contaminação, é a juventude negra e periférica quem mais morre. Não dá para pensar em educação sem combate à desigualdade, assim como não dá para pensar em defender a vida com retorno presencial sem imunização.
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