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BRASIL

‘BB está pronto para privatização’, diz Guedes

Juliana Donato
Reprodução Vídeo Ministerial

Na última sexta-feira (22), tornou-se público o vídeo da reunião dos ministros do governo Bolsonaro, que faz parte da investigação sobre a tentativa de interferência do presidente na Polícia Federal, acusação feita pelo ex-ministro Sergio Moro ao deixar o governo. No vídeo, que se destaca, entre outros motivos, por pouco tratar do tema da pandemia do novo coronavírus em pleno auge da contaminação no país, revelam-se muitos aspectos importantes da política do governo.

Um dos temas tratados é a privatização do Banco do Brasil. O tema surge quando a ministra da agricultura, Tereza Cristina, reclama que os juros estão muito altos para o setor. Bolsonaro, então, pergunta: “O Banco do Brasil não fala nada não?”

Em seguida, Guedes afirma com todas as letras que o Banco do Brasil está pronto para a privatização. “O banco do Brasil não é tatu nem cobra. (…). Porque ele não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: “bota o juro baixo”, ele: “não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.”. Aí se falar assim: “bota o juro alto”, ele: “não posso, porque senão o governo me aperta.”. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”, afirma.

Bolsonaro ri e Guedes continua. “É um caso pronto e a gente não tá dando esse passo. Senhor já notou que o BNDE e o… e o… e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”, completa o ministro da economia.

Em seguida, Guedes pede que Rubem Novaes, o presidente do BB, também presente à reunião, confesse seu sonho de privatizar o BB. Bolsonaro intervém, pedindo pra que ele “confesse” somente em 2023, mas Novaes confessa ali mesmo o que já não é mais segredo para ninguém. Desde que assumiu a presidência do Banco, Novaes defende abertamente sua privatização. Na reunião dos ministros, Novaes afirma que, hoje, o BB só tem o “lado ruim” de ser estatal, sendo obrigado a prestar contas para o TCU e tendo mais dificuldades que seus concorrentes privados para demitir seus funcionários. Afirma que, com o BNDES cuidando do desenvolvimento e a CAIXA cuidando da área social, o BB estaria pronto para a privatização. Como Bolsonaro, ele também ri enquanto fala em vender o patrimônio do povo brasileiro.

O nível de Rubem Novaes pode ser medido por sua fala, na mesma reunião, em que afirma ter a “sensação”, “ao observar os números”, de que o “famoso pico” da pandemia já teria passado! Enquanto ultrapassamos a marca de mil mortes diárias pelo novo coronavírus, ele tem a “sensação” de que o pico já passou.

Há tempos temos denunciado que o modelo de gestão adotado pelo Banco do Brasil tem levado a uma transformação cada vez maior do banco público em um banco privado. Agora, com um ultra liberal na presidência do banco e outro ultra liberal no ministério da Economia, a privatização não é mais somente uma ameaça distante. É um projeto em andamento e com data para terminar. Apesar de Bolsonaro, ao contrário de Novaes, ter afirmado em diversas ocasiões que não pretende privatizar o Banco do Brasil, sua fala na tal reunião não deixa dúvidas: depois da reeleição, para a qual, ao contrário do que afirma, ele trabalha todos os dias, a privatização virá.

O Banco do Brasil público pode ser essencial para a recuperação econômica. Aliás, já poderia estar sendo mais útil, não fossem os interesses dos acionistas privados. Por seu desvirtuamento privatizante, hoje o crédito não está chegando a quem precisa. Por isso o BB se esconde enquanto a CAIXA põe 7 milhões por dia em filas arriscando a vida de todos, no pagamento do auxílio emergencial.

Não podemos apenas observar enquanto eles riem e discutem a venda do nosso patrimônio. É preciso organizar com urgência a luta contra a privatização do Banco do Brasil, junto com a luta pelo fim deste governo,  que condena milhões de brasileiros à morte com sua política negacionista, ao mesmo tempo em que entrega nossas riquezas ao grande capital.