A maior torcida do Brasil viveu um momento de êxtase no ano passado com a conquista da Taça Libertadores e do Campeonato Brasileiro. O futebol bonito e ofensivo, que inclusive despertou a simpatia de torcedores de outros times, colocou o rubro-negro entre as melhores equipes do mundo.
Mas se dentro das quatro linhas o time ia bem, fora delas a diretoria ia mal, muito mal. No inicio de 2019, que seria o ano vitorioso no futebol, ocorreu a maior tragédia da história do clube e uma das maiores do futebol mundial. No dia 08/02/2019 um incêndio no alojamento no Ninho do Urubu, Centro de Treinamento do Flamengo, matou 10 jovens e causou comoção internacional.
Flamengo faturou cerca de R$ 900 milhões em 2019 e mesmo assim não pagou as indenizações
Passado um ano e três meses da tragédia, o clube pagou indenização à três famílias e ao pai do menino Rykelmo (a mãe do jovem foi a única que resolveu entrar na justiça e cobra uma indenização de R$ 6 milhões). As outras famílias aguardam um remoto acordo com o clube. Em dezembro passado, o Flamengo foi obrigado pelo Tribunal de Justiça a dobrar a pensão paga à cada família – R$10 mil – até a decisão judicial definitiva.
A perversidade maior reside no fato do clube mais popular do país ter faturado em 2019 cerca de R$900 milhões – recorde sul-americano em todos os tempos – e mesmo assim não ter acertado o pagamento das indenizações. Um absurdo! Além disso, até hoje, não foi apontado nenhum responsável pelo incêndio.
Presidente Landim ao lado dos podres poderes: Bolsonaro e Witzel
Lamentavelmente, dirigentes do Flamengo insistem em colar a imagem do clube ao que há de pior na política. O presidente Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, vestidos com a camisa rubro-negra, assistiram a partidas do time na Tribuna de Honra do Estádio Nacional de Brasília nos jogos contra CSA pelo Brasileirão e Athlético PR na final da Supercopa do Brasil, em ambos os jogos, era visível a alegria dos dirigentes ao tirar fotos com as autoridades. A bajulação tinha como objetivo estreitar laços políticos com o Planalto.
Os dirigentes do Flamengo também construíram uma aproximação com o governador do Estado, Wilson Witzel, que foi convidado a ser chefe da delegação que viajou para Lima, Peru, na final da Libertadores. Witzel foi o responsável por autorizar o clube a administrar o Maracanã ao lado do Fluminense.
Mesmo sabendo que as torcidas de futebol são policlassistas, é fato que grande parte da nação rubro-negra, rechaça a aproximação dos dirigentes do clube com setores reacionários e antidemocráticos, ao passo que estes cartolas negam homenagens aos próprios atletas do clube que tiveram ao longo da vida viés político oposto.
Stuart Angel, morto na ditadura, não foi homenageado
A diretoria rubro-negra não mede esforços para estar ao lado de autoridades conservadoras e políticos de direita, mas se negou a homenagear Stuart Angel, ex-remador do clube que foi preso e assassinado durante a ditadura militar em 1971. Ano passado, torcedores rubro-negros fizeram um ato em memória do atleta, na sede de remo do clube, no aniversário de 55 anos golpe militar. Nesta mesma data clubes como Corinthians, Bahia e Vasco condenaram a data e exaltaram a democracia em suas redes sociais.
Flamengo e Bolsonaro querem a volta do futebol durante a crise do coronavírus
Nesta terça (19/05), no dia em que o Brasil atingiu o terrível número de mais de mil mortos por coronavírus em 24h, os presidentes de Flamengo e Vasco, Rodolfo Landim e Alexandre Campelo, respectivamente, almoçaram com Jair Bolsonaro e o tema foi a volta do futebol e a realização de treinos em Brasília já na próxima semana. No encontro houve descumprimento de normas de prevenção à doença como inexistência do uso de mascaras e desrespeito ao distanciamento adequado. Um brutal contrassenso e péssimo exemplo.
Num momento em que há mais de 17 mil mortos por coronavírus e pesquisadores e autoridades em saúde pública indicam a possibilidade de uma curva ascendente do contágio no país, cartolas se unem ao “presidente da morte” numa posição temerária e irresponsável.
No próprio clube, após exames no início do mês de maio, foi detectado infecção por COVID 19 em 38 funcionários, sendo três jogadores. O massagista do clube há 40 anos, Jorge Luiz Domingos, o Jorginho, morreu vítima da doença.
É preciso que o “povão” – torcedor comum, e as torcidas que lutam por democracia e justiça no futebol, como as anti-fascistas e outras, continuem repudiando ações de desrespeito à vida e a dor das famílias. É preciso que se faça justiça com o pagamento das indenizações e punição aos culpados pelo incêndio. É urgente impedir o reinício dos campeonatos de futebol, que visam o lucro e desprezam a vida humana – no caso, os jogadores e profissionais envolvidos. As torcidas tem o dever de se posicionar pela quarentena e por quaisquer orientações das autoridades de saúde que preservem a vida, nem que para isso tenham que dar respostas mais “duras” em defesa da democracia e da vida, como fizeram torcedores corintianos contra bolsonaristas dias atrás na Av. Paulista…
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