O governador Romeu Zema voltou a atacar os trabalhadores em educação de Minas Gerais, em uma entrevista “on-line”. Pelo visto, com sua incapacidade atávica de governar de forma democrática e republicana, Zema resolveu emular o presidente Jair “E daí?” Bolsonaro, radicalizar seu discurso e tentar galvanizar uma base de apoio político minoritária, mas fortemente alinhada ideologicamente.
Zema nunca escondeu sua subserviência à lógica dos grandes empresários mineiros (sendo ele mesmo, um), mas sua aproximação com ala mais reacionária da sociedade mineira, vem se consolidando desde o final do ano passado e notadamente foi acelerada com a troca do Secretário Geral de Minas Gerais, Igor Eto, por Mateus Simões (ambos do NOVO), em meados de março último.
Nesse sentido, não é de se estranhar o novo ataque de Zema a educadores mineiros e o Sindicato Único dos Trabalhadores de Minas Gerais (Sind-Ute) em entrevista à jornalista Leda Nagle, que vem se tornando uma espécie de porta-voz “menos agressiva” do bolsonarismo nas redes. Isso duas semanas após ter atacado os professores e sua ação sindical há duas semanas, na Rádio Super (que, inclusive, provocou resposta indignada publicada neste portal).
Na entrevista a Nagle, além de elencar alguns supostos crimes e manobras “suspeitas” do governo Pimentel e escusar-se do fracasso até o momento de recuperação fiscal do Estado de Minas Gerais, Zema pinçou, dentre as diversas categorias existentes do serviço público estadual, aquela que pretende transformar em inimigo prioritário: os servidores públicos estaduais da educação!
Em relação à situação caótica da economia estadual, o que nos surpreende é o pretenso “desconhecimento” da gravidade dessa realidade por parte do atual governador. Ora, o Governador passou sua campanha eleitoral quase toda afirmando que conseguiria “arrumar a casa”, que bastava “vontade administrativa”, que utilizaria sua experiência na esfera privada e diálogo permanente com o legislativo. Ao chegar ao segundo turno em 2018, Zema afirmou: “Quero dialogar mais do que qualquer outro governador já fez. Quero mostrar para eles [deputados] que o resultado dessa eleição deixa nítido como as pessoas querem mudança da classe política…”
Passados quase um ano e meio de sua posse, não era isso o que se concretizava, mesmo antes da crise promovida pela pandemia da Covid-19.
Sobre os eventuais crimes cometidos pelos governadores passados apontados por Zema, devemos lembrar que o executivo tem todo o aparato institucional, legal e financeiro para exigir a reparação das possíveis perdas, bem como a responsabilização dos agentes promovedores desses delitos. E o diálogo com a Assembleia Legislativa e com Ministério Público Estadual são salutares para o açodamento de medidas investigativas e judiciais.
O governador simula parecer desinformado, quando é, na verdade, desonesto (intelectualmente falando) e tenta reintegrar-se à onda anti-esquerdista que sustenta o governo federal e que enxerga todo e qualquer opositor como comunista e portanto passível de morte simbólica e/ou física, seja ele a ONU, a OMS, a Globo, a CNN, o FHC, o Reinaldo Azevedo, o ex-iluminado e ex-juiz Moro, o PT, o PSOL, etc. Será que Zema esqueceu toda a luta e as grandes greves engendradas pelos trabalhadores em educação contra o governo Pimentel e todos os outros governadores que o antecederam? Seria amnésia seletiva?
Embora esteja na moda governamental ser estúpido, boçal e belicoso, ainda nos assusta que um governador chame TODA uma categoria profissional de servidores públicos de “antro petista”. Fora dessa realidade ignóbil atual, seria tolerado por alguém que Lula, FHC, Anastasia ou Pimentel chamasse parte dos servidores públicos sob seu governo de antro petista/tucano? Vale destacar aqui a leve, mas não imperceptível, anuência da interlocutora de Zema no vídeo. Assim como ela fez, meses atrás, na famosa entrevista em que Eduardo Bolsonaro defendeu a edição de um “novo AI-5”. Incrível como discurso autoritário não surpreende certos liberais e/ou (sic)democratas.
Como todo o bom discurso ideológico, Zema acusa todos os outros de promoverem ideologias, enquanto o “isento, limpo e técnico” governo do NOVO administraria o estado através de dados – sem, contudo, apresentar quais seriam esses dados, as fontes dessa pesquisa e o modo de aquisição da informação – e promoveria o desenvolvimento social de Minas Gerais – sem nunca apontar onde, quando ou como. Aliás, o governador afirma diretamente que melhorou “todos os dados” educacionais. Seria interessante, em respeito ao debate público, que o governador apresentasse esses dados e a metodologia adotada já que, do ponto de vista analítico, pesam várias dúvidas sobre a correção dessa afirmação, seja entre os trabalhadores em educação, seja no debate acadêmico.
Esses profissionais também anseiam saber sobre quais dados o governo de Minas se baseou para determinar a implementação das aulas não presenciais. Pois, segundo dados oficiais, parte considerável dos estudantes não têm condições de acompanhar as matérias pela internet ou televisão. Se o objetivo, como afirma o governador, é melhorar o quadro educacional de nosso estado, não seria contraditório ignorar os princípios básicos que são a qualidade e o direito irrestrito à educação a todos os estudantes?
Por fim, faz-se urgente indagar ao governo de Minas se ele respeita as decisões judiciais, já que nos parece que debater na esfera pública e/ou nas instâncias estabelecidas democraticamente não é o seu forte. Perguntamos sobre isso porque é renitente a insistência da Secretaria de Educação em encaminhar, de forma sub-reptícia, os processos de teletrabalho para os educadores mineiros, inclusive criando uma plataforma virtual de controle temporal dos educadores e contrariando a (ainda) vigente medida liminar que proíbe essa ação. Cabe ressaltar que tal medida foi fundamental para garantir o direito à vida de milhares de servidores, seus familiares e vizinhos, os quais o senhor governador em sua “nova” forma de gestão tentou expor ao risco, desconsiderando os dados de alto número de mortes pelo Covid-19 e a importância da manutenção do isolamento social.
Pois é, Governador… pelo visto teremos muitos monólogos da sua parte que teremos que responder!
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