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BRASIL

Uma resposta para Romeu Zema

A dinâmica política do nosso país e do nosso estado se transforma em uma velocidade tão alucinante, que dois ou três dias após uma notícia parecem uma  eternidade; ou que a efetividade de nossa reflexão tenha caducado. Nós, da corrente Resistência/PSOL, acreditamos que ainda sejam válidas as palavras a seguir, em resposta à entrevista dada pelo Governador de Minas Gerais, Romeu Zema, à Rádio SuperFM, no dia 22 de abril.

Ramuth Marinho, de Belo Horizonte, MG
Reprodução

O link para um pequeno trecho da entrevista completa está aqui. Respire fundo, aguente quase dois minutos de um discurso crivado de preconceitos contra os professores da rede pública e, em seguida, veja a nossa resposta!

 

“_ NÃO, senhor Governador! O senhor não avalia a educação pública como sendo importante, menos ainda como fundamental à sociedade. O Senhor, bem como o seu partido NOVO – startup de banqueiros, que serve de linha auxiliar para o bolsonarismo mais tosco, desde que deixem intocável o “guru” ultraliberal ministro Paulo Guedes – por mais de uma vez defendeu o sucateamento dos serviços públicos essenciais e as políticas de proteção aos mais pobres.

_ NÃO, senhor Governador! O senhor não está nem mesmo interessado na promoção de uma educação pública que combata as profundas desigualdades educacionais e, por consequência, sociais do Estado de Minas Gerais. Caso isso não fosse verdade, o deveria ter investido o mínimo constitucional (25% da arrecadação dos impostos) na educação, o que contribuiria para minimizar a grave crise econômica e esfacelamento da política pública educacional no estado – essa sim, herança maldita das gestões anteriores. Aliás, parece-nos que o NOVO aprendeu rapidamente as mazelas da “velha política” e procura resolver os profundos problemas do nosso Estado de forma meramente discursiva: tudo aquilo que não é dito, que não é noticiado, não é verdadeiro.

_ NÃO, senhor Governador! O senhor ainda, em seu curto e tragicômico mandato, não valorizou em nada – pelo contrário – os trabalhadores em educação do Estado de Minas Gerais. Valorização para nós significa dispensar o mesmo empenho político e financeiro para tentar aprovar o aumento (bem acima da inflação anual) nos vencimentos dos trabalhadores da justiça e das forças policiais. Avaliamos que TODOS NÓS, servidores públicos estaduais, realizamos serviços ESSENCIAIS dentro da esfera pública e a valorização deveria ser uníssona, desde que sejam observadas as disposições legais (vinculação orçamentária obrigatória, por exemplo).

_ Não, senhor Governador! O senhor e sua secretária de Educação não escutam as demandas do povo mineiro, muito menos reconhecem a diversidade da nossa gente. Tanto para o senhor quanto para a secretária, Julia Sant’Anna, escolas são todas iguais, pouco importa se atendem crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos; negros, pardos e brancos; população urbana, do campo e das florestas;  povos originários e quilombolas. Para vocês, toda essa diversidade, e outras não aparentes neste texto, é resumida a números e projeções econômicas. Por isso, o fracasso, do início do corrente ano, nos processos implementados por vocês – mudando toda a organização, que logicamente tinha as suas falhas, mas já estava aparelhada, sistematizada e estabelecida há anos – de matrículas e encaminhamentos para as escolas da rede estadual. Até hoje, é facilmente observável que muitos (as) mineiros (as) não tiveram garantido o seu direito constitucional à educação, preservado pelo poder público. 

_ Não, senhor Governador! O senhor não tem compromisso com a VIDA do povo mineiro. O senhor, e grande parte da sua equipe, de forma acovardada e subserviente à necropolítica do atual presidente, também escamoteou, o quanto pôde a pandemia global atual. Em conformidade com os princípios ideológicos do seu partido – intervenção mínima do estado – demorou sobremaneira, a tomar as medidas de mitigação à proliferação da doença COVID-19. E é vergonhosa a resistência que seu governo tem em encaminhar propostas de salvaguarda da população miserável e em grande pobreza de Minas Gerais. É sempre com um “delay” incrível, se compararmos com outros estados ou até mesmo com a União – essa, graças à ação minimamente republicana do Congresso Nacional.

 _ Não, senhor Governador! O senhor não sabe o real valor do trabalho do (a) professor (a)! E mais: o senhor é um MENTIROSO ao disfarçar sua irresponsabilidade em tentar convocar o trabalho PRESENCIAL de diretores, de vices e de todo o quadro administrativo das escolas. A desculpa, mais do que esfarrapada, seria para a necessária MANUTENÇÃO dos prédios escolares. Em resumo, para resolver os problemas estruturais de edificações – muitas delas já comprometidas estruturalmente por anos de descaso governamental – o senhor coloca EM RISCO A VIDA de milhares de trabalhadores em educação.

 Por fim, NÃO, senhor Governador! O senhor, além de tudo que foi supracitado, parece ter asco da população pobre do nosso estado, ao comparar as ações desenvolvidas pelas escolas privadas – as quais estão em grande parte, fazendo ajeitamentos pedagógicos para efetivação de uma EaD (bastante frágil em seus pressupostos teóricos)  – com a realidade daqueles que dependem dos serviços públicos mineiros, visto que, segundo a mais recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 54% das famílias mineiras não possuem computador e 24,7% não têm acesso à internet. E, se apenas cerca de um terço dos munícipios mineiros tem o alcance da Rede Minas, como seria possível a transmissão de teleaulas? O senhor somente pretende reforçar a “lei do mais forte”: aquelas famílias que têm condições financeiras mais favoráveis, ou aquelas que se sacrificariam para se garantir o mínimo de acesso para os estudos, seriam recompensados (como? De que forma? Com qual processo avaliativo?). Os demais  são “os demais”, ou como é comum dizer nos meios empresariais que o senhor tanto admira: “eles não cabem no orçamento”!”