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100 dias: governo Bolsonaro e os ataques à nossa soberania

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Nesta quarta-feira, dia 10 de abril, completam-se os primeiros cem dias do governo de Bolsonaro (PSL-RJ). Esta marca é usada pela grande imprensa para realizar um primeiro balanço de uma nova administração. Os movimentos sociais e as organizações de esquerda devem entrar com tudo nessa discussão, dando sua opinião e disputando a consciências dos trabalhadores, da juventude e dos oprimidos para os riscos aos diretos sociais e às liberdades democráticas, representados por este governo.

Outro grave risco, que vivemos intensamente nestes primeiros meses, são os ataques aos interesses nacionais. Em uma rápida avaliação, podemos observar que nunca um governo, em tão pouco tempo, colocou em xeque tão seriamente a nossa soberania.

Por detrás da imagem de um militar patriota, tão bem construída em sua campanha eleitoral, na verdade se esconde um projeto que quer entregar ainda mais as nossas riquezas e tornar o Brasil ainda mais subordinado aos interesses imperialistas, principalmente dos EUA de Trump.

Não que os governos anteriores sejam algum exemplo em matéria de soberania. Mas, Bolsonaro e, principalmente, o seu Ministro da Economia Paulo Guedes – o representante mais íntimo dos interesses do mercado financeiro – querem não só dar continuidade à agenda entreguista, mas intensificá-la ainda mais. Embora este governo tenha apenas cem dias, alguns exemplos podem comprovar esta afirmação:

Entrega da Base de Alcântara

Bolsonaro escolheu os EUA para realizar sua primeira visita oficial. A viagem demonstrou a sua total subordinação ao projeto imperialista do famigerado Donald Trump, representante da ala direita do partido republicano, que tem como objetivo avançar ainda mais na colonização da América Latina.

Um dos acordos – nada soberano – anunciado nesta visita foi à entrega o Centro de Lançamento de Foguetes brasileiro (CLA), localizado em Alcântara, no Estado do Maranhão, para o controle dos EUA.

A Base de Alcântara é considerada um dos melhores centros de lançamento do mundo, por sua localização geográfica privilegiada, próxima a Linha do Equador, o que pode gerar uma economia de ate 30% de combustível.

Entretanto, o que é mais grave, é que pelo anúncio feito pelo governo brasileiro, os EUA terão controle absoluto sobre o CLA, inclusive tendo sigilo sobre os materiais que serão enviados pelas forçar armadas estadunidenses para a região.

O acordo ainda está em sigilo, e deve ser apreciado em breve pelo Congresso Nacional brasileiro. Portanto, ainda é possível barrá-lo.

O risco, é que Trump tenha conseguindo, na prática, a instalação de uma base dos EUA numa região estratégica do Brasil, próxima a Amazônia e a Venezuela. Lembrando que Bolsonaro já deu declarações favoráveis à exploração internacional da Amazônia e de uma maior intervenção nos destinos da Venezuela. Um escândalo!

Venda da Embraer para Boeing

As negociações para a venda da Embraer para a empresa estadunidense Boeing foi iniciada ainda no governo Temer, mas por vários impasses no acordo de compra, a sua concretização ficou para depois da posse de Bolsonaro.

A Embraer foi privatizada em 1994, ainda no governo de Itamar Franco. Mas, mesmo sendo uma empresa privada, o governo brasileiro ainda mantinha grande presença acionária na empresa, inclusive tinha o direito a veto a venda da Embraer para outra empresa, ainda mais sendo uma transnacional.

Porém, o governo Bolsonaro não teve dúvidas. Se tivesse alguma postura realmente patriota poderia ter vetado o negócio, mas rapidamente autorizou a venda da Embraer para Boeing. Um negócio profundamente desfavorável para o Brasil, que perderá o controle sobre a tecnologia de construção de aeronaves desenvolvida na Embraer. Além de ameaçar seriamente os empregos dos trabalhadores da empresa. Como se diz, no dito popular: “um negócio de pai para filho”.

Privatização de várias Refinarias da Petrobrás

Mas, as medidas contra os interesses nacionais não param por aí. Bolsonaro e Guedes querem dar continuidade (e intensificar) à política de venda de Refinarias da Petrobrás. Seguindo a mesma lógica de Temer de ir enfraquecendo a nossa maior empresa, abrindo ainda mais espaço para as empresa transnacionais na exploração e refino do nosso Petróleo e do Pré-Sal.

O atual presidente da Petrobrás, Roberto Castelo Branco, nomeado por Bolsonaro, já declarou publicamente que não aceita a hegemonia da Petrobrás no refino do Petróleo brasileiro. Ele defende abertamente a ampliação ainda mais da venda das Refinarias da empresa, que já tinham sido anunciadas pelo governo ilegítimo de Temer, prioritariamente para empresas transnacionais.

Neste momento, estão diretamente na mira da privatização, principalmente: a Renest e a Relam, no Nordeste; a Refap (Alberto Pasqualini); e a Repar, no RS. A luta contra o desmonte da Petrobrás e em defesa do nosso Petróleo e do Pré-Sal deve ser uma das prioridades dos movimentos sociais brasileiros no próximo período.

A subordinação do Brasil a Trump e Netanyahu

Os cem dias do Governo Bolsonaro trás uma marca ainda pior para a nossa Soberania. O Brasil se transformou em um dos aliados mais fiéis e subservientes aos projetos expansionistas dos EUA e de Israel. Pode até ganhar um status de aliado prioritário da OTAN, acordo militar totalmente hegemonizados pelos interesses dos EUA.

O apoio de Bolsonaro a intervenção imperialista dos EUA na Venezuela, através do reconhecimento – de primeira hora – do golpista Guaidó, mostra que com este governo entreguista, o Brasil está de “costas” para os interesses dos países latino-americanos e de joelhos para Trump.

Mas, a subordinação deste governo de extrema-direita não para nos EUA. A recente visita de Bolsonaro ao Estado racista Israel, e o anúncio da abertura de um escritório comercial brasileiro em Jerusalém, território reivindicado pelos Palestinos, demonstra o seu alinhamento automático com os interesses imperialistas e expansionistas do primeiro-ministro israelenses, o corrupto e reacionário Benjamin Netanyahu.

A luta do povo brasileiro deve ser em defesa da soberania da Venezuela, para que sejam os próprios venezuelanos que decidam sobre o seu destino político; prestando toda a solidariedade ao Povo Palestino, que enfrenta a mais de 70 anos uma ocupação racista do Estado de Israel.

Defender nossa Soberania

Está exclusivamente nas mãos do povo trabalhador, da juventude e dos oprimidos a defesa dos interesses nacionais. Estes primeiros 100 dias de governo Bolsonaro já demonstraram que longe do anunciado patriotismo, na verdade, encontramos um governo totalmente entreguista e subordinado aos interesses imperialista. Não existe nenhum setor ligado as grandes empresas e bancos que ainda defendam realmente algum interesse do nosso país e da nossa economia.

Serão os movimentos sociais, da classe trabalhadora e da juventude que deverão estar na linha de frente das lutas em defesa da nossa Soberania. De forma mais imediata, incorporando as nossas mobilizações unificadas, como no próximo 1º. de  Maio – Dia do Trabalhador, bandeiras como o impedimento da entrega da Base de Alcântara e do nosso Petróleo / Pré-Sal, lutando para impedir as novas privatizações e uma ainda maior desnacionalização da nossa economia, além de expressar nosso compromisso com a defesa da Soberania da Venezuela, prestando também toda a nossa solidariedade a luta heroica do Povo Palestino.

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